Houve uma altura em que eu sentia a necessidade de quase pedir desculpa antes de escrever alguma coisa aqui. Uma sensação de culpa e tormento que me toldavam o espírito crítico que é meu apanágio e que sempre fez de mim quem sou - contudo, à medida que os anos iam (e vão) passando, comecei a compreender através de outras redes sociais, que isto de se ter opinião pessoal não é uma coisa assim tão boa. Ganhando-se total liberdade para escrevermos o que quisessemos, perdemos afinal o direito de escrever o que queremos com risco de sermos julgados, insultados, humilhados por pessoas que nem sequer nos conhecem mas que conseguem, mais uma vez atrás de uma máquina, (ex)pulsar todo o fel que ao longo das suas longas ou curtas vidas foi enchendo o seu corpo.
Contudo, chegada ao dia de hoje, e olhando para aquilo que tem sido a vida deste canto da blogosfera, onde raramente passa alguém (para alguma coisa o algortimo e análise estatística têm de servir), percebo que afinal, estar a pedir desculpa por, num espaço que "é meu", escrever o que eu penso (não são mais do que ideias preconcebidas da minha visão em meu redor, no meio onde me encontro), é apenas estúpido.
Depois deste relambório, o que me ocorre? Que nós, humanos no geral e portugueses no particular, temos todos os sintomas de burrice crónica. Não obstante a perda de memória coletiva, que nos leva a repetir desmesuradamente (mas com cada vez maior e mais eficaz eficiência bélica) erros passados, ainda continuamos na crendice de dogmas seculares, de tabus não contronáveis e de acharmos que tudo o que é luz, é, obviamente ouro.
Tenho a minha opinião sobre a Cristina Ferreira. Acho que ela é o 8 e 80 e tanto a acho a tipa mais esperta do burgo, com uma energia para fazer as coisas e conseguir fazê-las, como também aquela que mostra menos humildade. Como sabem eu sou a primeira a afirmar imperativamente que nós portugueses continuamos a sofrer com aquela coisa de "termos de agradecer por sermos bonzinhos em alguma coisa", não tendo qualquer vaidade quando a deveríamos ter e sermos sobranceiros quando não deveríamos. Contudo, há limites. Ou pelo menos deveriam haver. E a Cristina, só porque acha que "merece" este mundo e o outro, sendo que é realmente boa em algumas coisas, mas NÃO EM TUDO, acaba por atingir o patamar de arrogância extrema que carcateriza aqueles que não olham a meios para atingir os fins. A Filomena Cautela ontem, no regressado 5 para a Meia Noite, perguntou-lhe se a revista era um exito e a resposta não se fez por esperar: Não, porque deveria ser muito mais! (vendida, note-se).
Sim, a revista é excelente. O conteúdo não é nada mau. E ela sabe perfeitamente bem quem convidar. Mas NÃO É A MELHOR revista do pacote. Não inova por aí além. Existem algumas mais que também têm conteúdos tão bons como a revista Cristina, da Cristina Ferreira, e sim, também são feitas por um núcleo editorial de pessoas que também merecem ser bem pagas, religiosamente, pelo seu trabalho, todos os meses. E muitas não o são porque os focos de publicidade não têm comparação, porque as pessoas só olham para o que está na berra e para as capas e são incapazes de pagar muito mais do que as revistas de fofoca, Correio da Manhã e a Bola (ao que junto agora a Visão que volta e meia lá se lembra de se vender com capas sensacionalistas).
E agora a cereja: A Cristina quer/gostava de candidatar-se à Presidência. E quer/gostava e vai conseguir (a Presidência, não apenas a candidatura, que essa é a parte mais fácil num país onde o grau de iliteracia é cada vez maior, onde o tal pensamento crítico não existe, onde as nossas figuras públicas, agora designadas por "inflenciadores" não sabem sequer o que é ou não "influenciar" com excepção de trapos e dicas de beleza). A Cristina vai ser Presidente (e na altura até talvez obrigue ao nosso léxico que haja a palavra PresidentA) porque acha que tem imensa capacidade para tal, porque acha que conhece as necessidades dos portugueses, porque, enfim, acha que "merece". E talvez mereça! Mas para isso, a tal da "arrogância" terá de ser limada, terá de compreender que há mais gente como ela, com os mesmos objectivos, com as mesmas capacidades (ou mais ainda), e que, não tendo tido a sorte que ela teve nunca irá conseguir sair de onde está. E eu defendo que ela chegou onde chegou por mérito. Mais uma vez porque num país onde quase é preciso pedir desculpa para escrevermos a nossa opinião, houve uma Mulher, que deve ter batido o pé e dado murros na mesa, não fosse ela a tal "saloia" da Malveira - pessoas, tenham noção que ser-se saloio, em pleno século XXI não é ofensivo, mas sim prestigiante e motivo de orgulho!- para fazer valer as suas ideias. Não, nem todas (e alguns) têm de subir pela via supostamente óbvia e "horizontal". Basta serem verdadeiros e não seguirem a manada. Nisso, eu e ela somos iguais: não estamos aqui para enganar ninguém mas muito menos estamos aqui para nos enganarmos a nós mesmas. E embora ache que talvez a Presidência seja um passo bem superior do que as pernas, e que se calhar ela não sabe bem no que se irá meter, no que isso implica, não é a ela que tem de abrir os olhos, mas sim todos os que nela votarem eventualmente.
Num mundo de Balsonaros, Trumps, Johnsons, Maduros e por aí segue a carga, será que queremos mesmo uma Cristina à frente desta nossa barraca?