April 2018 - Cláudia Paiva Silva

Sunday, April 29, 2018

April 29, 2018 3 Comments
Mais um fim de semana daqueles que voam. Poderia explicar como foi correndo, de mau a melhor, mas simplesmente não creio que fosse valer de alguma coisa. Relatar detalhes do quotidiano não fazem bem parte do meu esquema de escrita, a não ser em diário pessoal, redigido à mão, como dita a regra. Hoje estive mais na onda de dormir até tarde (já que ontem tive mesmo de despertar cedo), mas gostei muito mais de ter passado a tarde, até há relativamente pouco tempo, a ler artigos científicos, coisa que já não fazia há algum tempo.
Contudo, não deixa de ser altamente perturbador, verificar que já é tarde, que já são horas de fazer jantar, de preparar as tralhas para mais uma semana de trabalho, que, felizmente, no meu caso, será muito mais libertadora e interessante do que já o é habitualmente. Semana de congresso internacional de Geologia do Petróleo, trazendo cientistas e apresentações de trabalhos para nos (me) fazerem pensar. 
Ainda assim, tenho tido tempo para pensar nos artigos sobre as chamadas, por alguns, "futilidades" da vida. Que eu, pessoalmente, até gosto. Cada vez mais até. Porque começo a ver que bons textos podem perfeitamente bem estar associados e ser escritos em contextos que não obrigatoriamente intelectuais, ou melhor, que textos quase intelectuais podem ser relacionados com estilos de moda, estilos musicais, de arte, de cultura nas mais variadas formas. 
Faz-me por isso alguma confusão quando pego em alguns blogues das tais instagrammers (que, sabe-se lá porquê agora dizem que não são nem querem ser influencers) mais conhecidas, e não leio nada. Nada. As publicações são apenas limitadas em fotos. Fotos de roupa, e links às marcas. E a uma frase de introdução. 
Sim, mais uma vez este texto não é o mais brilhante ou politicamente correcto no que diz respeito à minha participação nas redes sociais. Talvez porque, na verdade, eu perceba perfeitamente que a bolha, não tarda nada, explode, e a próxima moda seja outra. A próxima tendência do "ser" algo no mundo, virtual ou não. E que as cabeças que com isto conseguiram algo (e são muitas mais as cabeças de vento, do que as que realmente fazem das suas páginas algo de diferente), depressa poderão ser esquecidas. 
Ainda assim, mesmo assim, eu vou aproveitar a onda. Enquanto houver gente interessada em ler coisas online, vou continuar a escrever - e mesmo que deixe de haver gente interessada, vou continuar a escrever. 
Pelo que hoje, a publicação será mais leve. Mais fotográfica. Mesmo mais "blogger". Porque as próximas serão sobre outras temáticas, giras na mesma, mas não tão apelativas. 

(@Martim Moniz)

E aqui está o resultado. Porque de repente uma tipa pensa, que mal faz tirar fotos diferentes? Sim, eu sei que posso escrever sobre a Síria, sobre a Palestina (oh meus amigos, a sério que querem mesmo isso? Então sigam-me no Facebook, iriam adorar as minhas opiniões políticas e ainda mais incorrectas!), mas posso também divertir-me, porque a minha vida nem sempre é uma maravilha e não faço fotos numa de mostrar uma realidade que nem sequer existe. As minhas imagens são muito reais. Todas elas. Não há nada de forçado. Detesto forçar sorrisos, expressões, posições. 
E sim, ter um companheiro que tanto me segue nas loucuras sobre as rotas das judiarias, do românico, ou dos castelos, como (espero eu), tenha a pachorra para ir até Lisboa ou ao Porto e calcorrear colinas abaixo e acima, ajuda muito. Porque aprendemos imenso, porque, para nós, a piada disto tudo, é o conhecimento que adquirimos, ao mesmo tempo que estupidamente, também tiramos fotos um ao outro, quando estamos mais pipis em termos de vestuário, ou mesmo quando não estamos! 

(Escadinhas de São Cristóvão)

Até porque ele também tem pinta e sabe, melhor que eu, até, como e quando sacar as melhores chapas. 
Então há dias, lembrei-me de vestir uma saia comprida e usar um chapéu de feltro, apanhar o comboio para irmos comer aqueles pequenos-almoços que servem de almoço e muitas vezes de lanche e jantar, qual não é a quantidade de comida que nos é apresentada (e que, no nosso caso, marcha toda): brunch! A piada da coisa é que mal entro no comboio, sendo um sábado, começo a verificar que toda a gente estava demasiado bem vestida... e foi quando comecei a perceber que iria haver um evento qualquer religioso dum culto (não sei qual, palavra), e as pessoas sorriam para mim porque achavam que eu iria igualmente participar. Não ... o meu culto seria outro: primeiro apanhar uma desilusão no TOPO do Martim Moniz, que brunch já não fazem há vários meses, isto dito com maus modos por empregada que certamente gostaria de estar a gozar o dia semanal de outra forma, depois, seguir até ao famoso Nicolau, na Rua de São Nicolau, para, novamente, uma vez mais, perceber que NÃO, aos fins de semana, NÃO SE DEVE IR ATÉ LÁ... porque as filas são insuportáveis. Nos entretantos, percebemos que o conceito de refeição existe em todo o lado, e acabamos por ser servidos por um paquistanês num café/restaurante, praticamente vazio e/ou desconhecido, exactamente ao lado do café/restaurante famoso. O bolo de chocolate estava muito bom. Só naquela... 

(@ Rua dos Fanqueiros)

(@ Petit Gâteau Café na Rua dos Fanqueiros)

No meio da brincadeira, deu para abrir e ler na diagonal, porque parecendo que não, o raio do tempo, voa voa, a revista Flaneur, cuja última edição fala sobre a rua 13 de Maio, no coração do Bairro do Bixiga, em plena cidade de São Paulo (a falar em publicação num futuro breve). A tarde estava assim, parcialmente, feita. Só que não. 


Acabámos por começar a fotografar (em tempo recorde e dentro da área onde nos localizávamos) a cidade. Os prédios. As pessoas. Isto há umas semanas, antes de mais um aniversário do massacre de Lisboa, já falado aqui na Carroça. E tive (tivémos) a certeza que por muito que façamos, por muitas ideias que tivermos, seja qual for o objectivo final das nossas fotografias, das nossas publicações, das nossas "futilidades", existem coisas que não mudam. A vontade de fotografar gentes, vidas, das que ainda vão resistindo, cada vez menos, na cidade capital. Independentemente de brunches, lunches, lanches, a ideia final é realmente aprender mais, saber mais, encontrar novos recantos, becos, caras, momentos. Malta nova que aparece a chorar em escadinhas (como nessa tarde), ou pátios desconhecidos da maioria dos turistas, porque funcionam como comunidades fechadas, dentro de muros e portões, como ocorreu nos santos populares em 2017. 
Hajam rituais que não mudem, e escritas que sejam mesmo mais do que roupa e sapatos, apenas.

Reading Time:

Sunday, April 22, 2018

Comemoração do Dia da Terra 2018
April 22, 20180 Comments
Para quem não sabe, sou geóloga de formação e profissão. Contudo, trabalho na área (agora politicamente incorrecta e ingrata) da pesquisa de petróleo e gás, parecendo contudo que nunca usámos até hoje, derivados indirectos dos combustíveis fósseis, nem tão pouco necessitamos ainda deles no nosso dia a dia. Caros e caras, a nossa pegada na terra não se prende apenas e só no recurso a estes produtos que demoram milhões de anos a serem gerados, mas sim com os nossos comportamentos diários. Esses sim, poderão eventualmente fazer toda a diferença. Mas posto este desabafo de parte, até porque nunca entrei aqui em detalhes desta natureza, nem pretendo fazer qualquer manifesto político ou de opinião sobre o assunto - aprendi a estar literalmente calada -, deixo a minha contribuição para o #EarthDay2018 e #ImAGeoscientist. Enjoy!



Datadas de 2014, estas fotografias foram registadas junto à Pedreira de Ana Ferreira, no Porto Santo. Trata-se de uma estrutura geológica particular denominada disjunção prismática e resulta da forma como as rochas (na sua generalidade) basálticas arrefecem à medida que o magma ou lava vai solidificando. A forma das colunas, em hexágono, deve-se ao facto de ser esta uma das formas de polígono mais estáveis na natureza, e também aquela onde não ocorrem espaços que não possam ser ocupados. Na Natureza, nada se perde....
Reading Time:

Saturday, April 21, 2018

April 21, 20180 Comments
Será realmente importante começar a haver mais debates públicos sobre o tema de recolha de dados dos utilizadores da Internet e das redes sociais em Portugal. O Nónio será mais uma ferramenta que irá possibilitar a uma serie de empresas obterem informação CONSENTIDA, já que será necessário fazer login para aceder aos conteúdos dessas páginas, na sua maioria orgãos de comunicação social (logo por acaso e logo por azar). O objetivo? Segundo o director comercial do Público, Mário Jorge Maia: "O Nónio é uma plataforma de recolha, tratamento e qualificação das audiências”, descreve Luís Nazaré, referindo que esses dados ficarão registados num acervo disponível a todos os membros da PMP (Plataforma de Media Privados, grupo COFINA), o que lhes permitirá “qualificar a informação e valorizar as audiências”, nomeadamente através da segmentação de perfis. Assim, o inventário publicitário passa a ser mais valioso." Portanto, basicamente, a ideia é sermos bombardeados apenas e só com publicidade que seja ou esteja de acordo com as nossas preferências pessoais, medidas e analisadas por algoritmos nacionais, tal como acontece noutros países. Resta saber se esta informação que é recolhida não poderá igualmente servir para fins de políticos, religiosos, agências de segurança. Não esquecer que ao fazermos login, algo que será obrigatório, estamos a aceitar que acedam aos nossos dados também. "Este projecto recebeu 900 mil euros de financiamento do Google, no âmbito do fundo de inovação “Digital News Initiative”, que já apoiou outros projectos do PÚBLICO. O mecanismo financiado está assente em dois pilares essenciais: o SSO (Single Sign-On, um dispositivo integrado de registo único) e o DMP (Data Management Platform, um suporte lógico de qualificação e tratamento de audiências)." Therefore, Google is watching you...
Reading Time:

Wednesday, April 18, 2018

April 18, 20180 Comments

À medida que pensava escrever estas palavras, descia a Avenida a caminho do Rossio e parei para tirar fotos aos locais de sempre. Vendo a praça cheia de imigrantes, e o Largo de São Domingos com as suas africanas de vestes coloridas e africanos certamente muçulmanos, custa-me pensar que na idade média, a intolerância religiosa imperasse sobre o mesmo local. Quando olhos para as centenas de turistas que todos os dias aterram ou desembarcam em Lisboa, nos grupos "follow me", interrogo-me se saberão eles qual a nossa História e qual a História da cidade. Contarão os guias que na semana santa de 1506, entres os dias 19 e 24 de Abril, milhares de pessoas foram perseguidas, torturadas e mortas em fogueiras a céu aberto? E depois pergunto-me a mim mesma: quantos portugueses também saberão deste evento? Possivelmente poucos e possivelmente desses poucos, quase nenhuns pensarão igualmente nisso. A vida é tão mais, não é? Contudo, num período em que se volta a observar e a sentir o preconceito, o racismo e o medo face a outras religiões, e perante a data de hoje, será interessante voltar a contar a história da História. Para não esquecer que não foram apenas as fogueiras das Guerras contemporâneas que arderam e queimaram, que os pogroms (ataques violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos)), sempre existiram ao longo dos séculos, que a intolerância não é uma coisa recente (último século e meio).




Pelo menos dois ataques violentos foram registados em Lisboa contra a minoria judia durante a idade média. O primeiro, em Dezembro de 1449, tratou-se de um assalto à Judiaria Grande de Lisboa (localizada na zona que hoje corresponde à Igreja da Madalena e Igreja de S. Nicolau, abrangendo as ruas perpendiculares, atuais Fanqueiros e Bacalhoeiros), como resultado de confrontos entre um grupo de jovens cristãos-velhos quando estes terão ofendido um outro grupo de (ainda) judeus junto à zona da Ribeira. Apesar da queixa, os culpados foram apenas açoitados publicamente, o que ainda assim enfureceu a horda cristã ao ponto de clamarem por justiça imediata e vingança. A Judiaria Grande foi assim assaltada, tendo sido mortos vários judeus. As casas foram vandalizadas e saqueadas. D. Afonso V que estava em Évora veio de imediato para Lisboa de forma a colocar um ponto final aos tumultos.




O segundo registo histórico a um ataque a cristãos-novos, já em reinado de D. Manuel I, vem pela pena de Garcia de Resende contemporâneo do acontecimento, associado presumivelmente à história do suposto milagre ocorrido durante uma missa na Igreja de São Domingos, durante a semana santa de 1506. Em ano de seca, com temperaturas mais elevadas do que era suposto para aqueles meses, e em plena época de peste, que se alastrava por uma Europa (e Portugal) imunda de gente e com falhas graves de higiene, eram várias as missas e eventos suportados pelas famílias abastadas e pela corte, de forma a pedir "auxílio divino". Numa Lisboa fervorosamente católica, com imensas igrejas e capelas por cada esquina pré-terramoto, não é difícil imaginar a imensidão de pessoas que se aglomeravam nos pequenos edifícios. De tal ordem foi este ataque que ficou igualmente registado em relatos anónimos alemães: "Haveria uma cruz com um espelho no meio, então surge a imagem de Maria a chorar ajoelhada em frente a Jesus e por cima da cruz, surgiram luzes pequeninas e uma grande..." Damião de Góis, em relato muito mais tardio refere que se tratou apenas de um possível reflexo de uma vela. Contudo, qualquer autor menciona o questionar de um cristão-novo sobre o porquê: ".. que o dito céu não realizava o milagre da água, mais do que o fogo?" aludindo à rigorosa seca que se atravessava. 
O cristão-novo é de imediato arrastado até à rua, ao largo, e morto. As horas e dias que se seguiram são de uma autêntica orgia de terror e de morte (porterrassefarad.blogspot.com). Entre 19 e 24 de Abril de 1506, perto de 4000 pessoas (cristãos-novos, cristão-velhos, mulheres, idosos, crianças de berço) foram mortas nas ruas de Lisboa, incitadas pela própria igreja e ordens religiosas. O Rei D. Manuel, que se encontrava, uma vez mais ausente da capital, envia a partir de Avis, o regedor de justiça Aires da Silva e o governador da Casa Civil de Lisboa (D. Afonso Castro) de forma a controlarem a população. Contudo ambos ficaram retidos nas muralhas das portas da cidade até "pagarem" entrada. Não foi a corte real quem conseguiu acalmar a população. Mas sim quando passados três dias, finalmente, houve "cansaço e entorpecimento" dos que mataram, violaram e pilharam centenas de almas e habitações.



Pessoalmente, de todos os livros que li até agora sobre o acontecido, tenho dois que aconselho a quem possa querer saber mais do que se passou:
Sem dúvida o romance de Richard Zimler "Último Cabalista de Lisboa" cuja acção decorre exactamente durante a semana santa de 1506, mencionando locais nossos conhecidos ainda, personagens históricas, e "O Massacre dos Judeus" de Susana Bastos Mateus e Paulo Mendes Pinto.


Reading Time:
Mentiras sempre as houve. Agora existem apenas mais.
April 18, 2018 4 Comments

Do Prólogo do livro EVERYBODY LIES de Seth Stephens-Davidowitz:
"Big Data from internet searches and other online responses are not a cerebroscope, but Seth Stephens-Davidowitz shows that they offer an unprecendented peek into people's psyches. At the privacy of their keyboards, people confess the strangest things, sometimes (as in dating sites or searches for professional advice) because they have real-life consequences, at other times precisely because they don't have consequences: people can unburden themselves of some wish or fear without a real person reaction in dismay or worse. Either way, the people are not just pressing a button or turning a knob, but keying in any of trillions os sequences of characters to spell out their thoughts in all their explosive, combinatorial vastness. Better still, they ley down these digital traces in a form that is easy to aggregate and analyse. They come from all walks in life. Theu can take part in unobtrusive expermients which vary the stimuli and tabulate the responses in real time." (Steven Pinker, 2017)
Reading Time:
Capas bonitas de revistas portuguesas
April 18, 20180 Comments
A última da GQ Portugal é simplesmente linda. A edição com a Joana Ribeiro, cujo tema principal pende com a questão de gestão dos recursos hídricos, apresenta duas capas, para coleccionador. A não perder.
Reading Time:

Sunday, April 15, 2018

Esses bichos que são as redes sociais e dados pessoais
April 15, 2018 3 Comments
Sobre o caso do Facebook e sobre as questões colocadas pelo senado norte-americano ao fundador da rede social mais utilizada no mundo, deixo aqui as minhas pequenas considerações, que não são mais do que uma opinião pessoal, feita por alguém que não percebe nada de informática, mas crê perceber como funciona o mundo da internet, para que servem os anúncios e a publicidade, e compreende que ao aceitar instalar aplicações e ao fazer logins e registos em algumas páginas, está realmente a conceder a visualização dos seus (meus) dados a inúmeras empresas que funcionam com recolha estatística. 
Primeiro que tudo... com este escândalo veio logo a clara noção de que as pessoas, na sua maioria, portanto, utilizadores regulares da Internet e das redes sociais, não sabem de todo como estas operam e funcionam. Não coloco em questão a eloquência com que as questões são colocadas, nem tão pouco farei juízos de valor sobre a capacidade de cada um dos senadores no que concerne à validade ou sentido crítico das suas próprias perguntas - as pessoas realmente não são obrigadas a perceber de informática. Mas o mínimo deveríamos todos saber. Toda e qualquer rede social, na qual exista uma página (público ou privada) sobre o utilizador, pede e ganha dados básicos sobre o mesmo. Nome, localidade, (endereço de IP), alguma informação considerada "normal" sobre alguns gostos e preferências são assim recolhidos e armazenados numa mega base de dados. Até aqui tudo seria supostamente aceitável. Ao longo de 10 anos, o Facebook, contudo, deixou de ser apenas uma rede social para amigos e familiares, e a sua mega base de dados de milhares de milhões de utilizadores, começou a servir para outros fins. Aceitaram (e aceitamos) aplicações, as quais, de forma muito evidente, nos perguntam se deixamos que acedam à nossa informação pessoal, lista de amigos, lista de comentários, publicações e fotos. Nós dizemos sim, logo nós, utilizadores, estamos a aceitar de forma inequívoca essa invasão de privacidade. Não podemos então, posteriormente, dizer que "não sabíamos de nada". Ponto 2. Acho importante mencionar que o Facebook, tal como o Instagram (mesma empresa) precisam, obviamente de dinheiro. Se os utilizadores não pagam o acesso e utilização destas redes, alguém tem de o fazer. E aí entram os anúncios e publicidade e páginas oficiais de marcas, etc.. Porque é que isto é possível? Porque os sistemas estão interconectados entre si, ou seja, uma pesquisa feita num browser (Opera, Chrome - e a maioria dos smartphones opera com o Google- Windows, Safari...), irá ser partilhada com as redes que usamos, e por isso não será estranho procurar por um artigo específico numa data e esse mesmo artigo começar a aparecer de forma insistente em todo e qualquer lado, nas páginas onde estamos. Porque é que o Facebook aceita ou ganha com isto? Porque, ao aceitarmos a tal invasão de privacidade anteriormente mencionada, permitimos que os algoritmos (dados estatísticos que podem ser usados de variadas maneiras para perceber como é que o utilizador se comporta online - e, por consequência, na vida real - auxiliando à venda e apresentação de conteúdos que parecem ter sido feitos especialmente para aquele único consumidor), acedam então à nossa informação. Os nossos pontos de vista políticos, religiosos, morais, éticos, as nossas taras, as nossas manias, as nossas orientações sexuais, tudo, é assim utilizado em prol de multinacionais e empresas que funcionam com apenas e só dados estatísticos, para seu próprio ganho. O que se passou com Trump foi um caso óbvio de usurpação dos dados pessoais de usuários norte-americanos em prol da campanha eleitoral. Se o Facebook saberia ou não, tenho as minhas dúvidas. Com certeza que de todos os empregados, informáticos, gestores de conteúdos, matemáticos e estatísticos, alguém deveria certamente ter conhecimento da fuga (autorizada, atenção!) de informação. Mas mais uma vez, quando digo autorizada, não é apenas pelos CEO's da empresa, mas acima de tudo, lá está, por nós. Nós é que temos a obrigação de saber que tudo está a ser "vigiado", que existem determinadas palavras que são imediatamente filtradas por serviços secretos de alguns países, sabemos também muito bem, que, cada vez mais, patrões e empresas de recrutamento, pesquisam informação sobre os candidatos online. Quando um senador pergunta se as informações e recolha de dados poderão então ser enviesados pelos colaboradores do Facebook, mediante as suas próprias escolhas e orientações, a verdade é que se esquece que nenhuma (ou praticamente nenhuma) empresa o faz também "fora da rede". Não nos perguntam numa entrevista se fumamos, qual o nosso partido, qual a nossa orientação sexual, se somos vegetarianos. Quem usa os nossos dados, garantidamente também não o faz por lhe dar mais jeito. Simplesmente em termos estatísticos, faremos parte dum grupo maior de pessoas que respondem e correspondem a determinado parâmetro. Que pode ou não ser vendido. E premissa contudo, é esta. Desde que a Internet foi criada apenas para partilha, na altura, de informação científica: "what goes online stays online forever". E mais uma vez a citação de Daniel Oliveira: "Este é o pior pesadelo de George Orwell".

Contudo, o que me parece ser mesmo muito mais pertinente ainda é: Será que a intervenção de todo e qualquer algoritmo, com a justificação de "ser uma forma de dar ao consumidor ou utilizador os conteúdos que melhor se adaptam ao seu perfil e aos seus gostos" não irá resultar em enviesamento total da nossa personalidade? Se aceitarmos, sem filtrar, que aquilo que nos aparece à frente é realmente o mais indicado para nós, não iremos perder capacidade de crítica, de pensarmos por nós mesmos? Existe toda uma questão de ética, mais até do que invasão de privacidade, associada às plataformas digitais e acesso de dados. Essa sim é a principal questão. Andámos tão preocupados em proteger a nossa segurança online que nunca nos passou pela cabeça saber como é que os nossos dados eram ou não guardados e usados pelas redes.



Reading Time:

Monday, April 09, 2018

Influencer ou being Influenced?
April 09, 2018 6 Comments

É cada vez mais impensável hoje não vermos um mundo feito por e com base em redes sociais. A velocidade vertiginosa com que nos é bombardeada informação é cada vez mais rápida, e, sendo que nem sempre temos tempo para ler ao certo o que nos aparece pela frente, torna-se igualmente mais difícil fazer a filtragem necessária em separar o que é realmente útil do que é completamente irrelevante. Mais ainda, não nos bastava termos a vida exposta, sem querer ao início, agora porque quase se torna "obrigatório" mostrar o que vestimos, comemos, fazemos, lemos, e ainda termos de aprender os novos conceitos de blogger, youtuber, instagrammer, influencer
Quanto ao primeiro, há já mais duma década que existe. Uns duma forma mais ou menos publicitada, outros mais restritos ao espaço doméstico de familiares e amigos que liam alguns textos redigidos à laia de artigos de opinião, diários de vida, entre outros. Já os três últimos são claramente resultantes do efeito bola de neve que as redes sociais vieram trazer às nossas vidas. Um amigo faz um vídeo mais ou menos palerma, outra amiga mostra como se maquilha para diferentes ocasiões, outros tantos acabam por fazer vídeos de coaching (eu também não tenho bem a certeza do que é, mas acho que se trata de ensinar as pessoas a viver a vida de uma forma mais positiva e sustentável?) e lifestyle (estilo de vida mais optimista, geralmente sustentável, mas acima de tudo, que esteja na moda), que, agora sim, se aliam aos blogues e às páginas de Instagram que, outrora serviam como plataforma para os pioneiros do iPhone apresentarem bons trabalhos fotográficos. Não digo que com o boom dos/ das influencers isso não aconteça. Aliás, todo o conceito de influenciar alguém parte exactamente do pressuposto que as ideias, fotografias, estilo de vida, estão bem apresentados, sendo extremamente apelativos visualmente. E é aí que, para mim, o rótulo poderá mudar completamente. O que é realmente ser-se influencer? Contra mim falo. Tenho este canto há mais de 10 anos, tenho conta no IG há uns 4, e, "just for fun", iniciei com  o meu namorado, um segundo espaço, onde a ideia seria publicar fotos minhas (onde eu apareço), dele (onde ele aparece), dos locais onde vamos, do que fazemos, eventualmente do que eu visto, sabendo logo a priori que eu NÃO SOU NEM TENHO QUALQUER INTENÇÃO DE SER OU ESTAR A INFLUENCIAR ninguém. Simplesmente é mesmo pela piada. Porque além de ser (para mim/nós) apenas um hobby, claramente que nos dá algum prazer em conhecermos mais do nosso país - além do que já conhecíamos -, doutros países, espaços interessantes que podem ou não estar na moda, e com isso, poder também chamar a atenção de quem vê, ao que realmente interessa, fazendo e apresentando com isso o nosso ideal de fotografia (ambos temos páginas autónomas também, cada um com o seu registo fotográfico completamente distinto). Se por acaso eu colocar alguma fotografia online com um livro, revista, artigo, não é apenas para ficar bem esteticamente com a caneca de Mokambo, ou com as flores de plástico e computador do tempo do antigamente: é para que realmente o mesmo seja lido e se torne conhecido. Exemplo acima: na última edição da revista Vogue Portugal (que raramente ou quase nunca comprei porque nunca achei interessante os artigos), surgem apenas e só uns 4 textos (dos que vi entretanto) em que se fala, concretamente, no conceito de, tcharan, influencer. Mais uma vez, mas o que é isto? Não há muitos anos atrás, o influencer seria quem nos inspirava, a pessoa que tivesse deixado uma marca ou legado tão impactantes no mundo, que fossem dignos de terem igual impacto ou serem mais sugestivos nas nossas próprias vidas, fossem eles músicos, personalidades públicas, políticos, actores. Hoje em dia, e não querendo ofender absolutamente ninguém, será que poderemos considerar uma rapariga under-30 como influencer? E influenciadora de quê? Moda? Lifestyle? Experiências de vida? Como é que de repente o mundo virtual ficou pontilhado de estrelas em rápida ascensão cujo objectivo de vida é aparecerem em vários locais que estão na moda, partilharem 500 imagens de modelitos (que mais outras 500 irão comprar/copiar) catitas, e fazerem unboxings (isto é, abrirem os artigos que as marcas lhes começam a enviar apenas por uma questão de publicidade). O pior é saber que isto não lhes paga um ordenado, e até começaram a ganhar realmente alguma base financeira com a "brincadeira", é bem possível que gastem muito mais. 
No artigo acima da revista Vogue, a entrevistada foi uma das primeiras jovens a aparecer nos últimos 5 anos, com um blog e conta de IG. Foi uma das primeiras a ser apelidada de influencer, (um pouco como a Olivia Palermo, que também não sei o que faz na vida sem ser aparecer, simplesmente) faz parte da geração millenial (tal como eu, nascida em meados dos anos 80 e início dos 90, que, segundo consta, não tem tempo para nada, não se quer agarrar a nada, não tem paciência para nada, é tudo muito "depeche mode", e como tal, começam a vida muito mais tarde do que a geração acima de nós - que não dos nossos pais, mas possivelmente os nossos primos nascidos na década de 70, início de 80), e é a primeira a dizer que o conceito está um bocado overrated (ultrapassado), na medida que só serve mesmo para publicitar algo, ou, eventualmente, para te conseguir uma carreira a solo no mundo empresarial da moda, design, ou outros. Há quem tenha sorte, e há aquelas que já começam a sofrer a pressão dos mercados, abrido páginas de venda online de roupa para anunciarem a bancarrota poucos meses depois. Jovens esses e essas que gastaram fortunas a pensar que iria ter futuro, quando o futuro hoje já nem nos é garantido com o suposto "emprego estável" quanto mais com fogo fátuo que para muitas pessoas não passam de fait-divers, perdas de tempo. Volto a dizer que há casos e casos, há vontades e vontades, há hobbies. No meu caso especificamente é um hobby. Não tenho qualquer problema em assumir que gosto de me vestir bem, de me maquilhar, que tenho as minhas marcas preferidas. Contudo, e aí está o outro lado da moeda... até que ponto é que me posso deixar influenciar até deixar de ter a minha própria personalidade ou gosto pessoal? Será que ao copiarmos as peças de roupa que vemos, estamos a confluir para a perda de identidade pessoal (ou quase colectiva), ou simplesmente funciona da mesma forma como quando compramos uma revista de estilo? Outro dos artigos apresentados na edição, era referente à forma como o Pinterest tinha mudado o paradigma de design e decoração dos espaços - fossem casas particulares ou outros. E a verdade é que antigamente  quando se adquiriam produtos para uma casa (moveis, panos da loiça, talheres, camas, estantes, loiças, acessórios vários), era suposto serem para a vida. O enxoval. Aquela coisa muito antiga que as nossas avós e tias falavam. Hoje é tudo descartável. Ao ser mais barato, pode-se trocar mais facilmente, mas ao mesmo tempo, o ser mais barato implica que muitas vezes a qualidade seja bastante inferior, obrigando o consumidor em prazos cada vez mais curtos de tempo a trocar toda uma decoração que se pretenderia durar bem mais do que o previsto. Até que ponto somos influenciados em fazer essas mudanças? Será que o mundo está a ficar de tal ordem saturado de si mesmo que tenha perdido a noção de identidade, de gosto? Até que ponto podemos influenciar ou ser influenciados por outras pessoas? Mais ainda, até que ponto é que nós, todos, temos esse direito? 
Reading Time:

Wednesday, April 04, 2018

Sobre o "Melhor do Mundo"