Há precisamente 24 horas, Portugal, Espanha e alguns outros países europeus, simplesmente, pararam. A eletricidade, a energia fundamental que o ser humano precisa para o seu dia a dia, cessou. E muitas serão, certamente, as teorias de conspiração, mais ou menos corretas, que poderão justificar o acontecimento. Contudo, algo parece ser certo - no momento em que Espanha exportava (ou transferia) energia para França e Portugal, houve um pico seguido de uma quebra - quebra essa que fez disparar todos os alarmes e sistemas disponíveis, cortando de imediado o acesso das várias redes elétricas.
Justificações à parte - Portugal recuperou tardiamente, porque só depois viemos a verificar que, afinal, a barragem de Castelo de Bode precisou de entrar em funcionamento, bem como algumas centrais termoelétricas que estavam em modo OFF - tarde, mas recuperou.
Embora muitos possam dar os parabéns aos excelentes técnicos nacionais e estrangeiros que "trataram" do assunto, devo dizer que, enquanto cidadã, não me sinto minimamente contente, nem feliz, nem irei afirmar que "correu tudo bem". Obviamente que a Proteção Civil, Bombeiros e outras instituições, como a PSP, GNR, INEM, etc, fizeram o que podiam, com o pouco que também tinham. Mas o governo, como de costume, falhou redondamente.
Portugal é um país completamente impreparado para qualquer evento mais robusto que possa ocorrer de forma negativa. Os portugueses, por muitos avisos, não sabem o que é um kit de emergência, e acreditam que, mesmo o tendo, mais vale ir a correr, comprar tudo o que precisam e não precisam às grandes superfícies - quero apenas ver e saber, as toneladas de comida que serão descartadas nas próximas semanas porque, afinal, "foi um exagero".
(Gostava de saber, também, de onde, afinal, vem o dinheiro, de que todos se queixam em NÃO ter. Para o que se viu ontem, certamente que alguma coisa deve, afinal, permanecer nas contas bancárias, porque de outra forma, e pelo preço dos alimentos, não se deve ter gasto menos de 200 euros por cada carrinho cheio.)
Não, Portugal não está preparado, Portugal não sabe lidar, o governo, seja de que facção política for, nunca saberá orientar-se - muito menos quando falha o que é o mais essencial: luz e água à população. LUZ, no sentido transversal, no qual nem redes móveis funcionaram grande parte do dia, para grande parte das pessoas (ao contrário do que muitas aventesmas dizem). Quando ninguém sabia o que estava a acontecer e, facilmente foi, começarem as grandes histórias, desde ciberataques, ao início de uma nova grande (e diferente) guerra, a fenómenos atmosféricos. Tudo o que poderia ter sido evitado se os comunicados oficiais tivessem sido transmitidos por esse meio incrível e (para tantos) arcaico, que é a rádio. Esquecem que o 25 de abril deu-se através de senhas passadas pela rádio. Esquecem-se que nas guerras, as notícias são transmitidas via rádio. Ondas de som que atravessam o tempo e espaço, ao ponto de serem escutadas nos confins do universo que nós conhecemos.
Mas não, Portugal nem sabe fazer as coisas de forma a evitar-se qualquer pânico. Portugal enquanto governo, Portugal enquanto populaça que assalta desalmadamente prateleiras de qualquer coisa - qualquer coisa, que lhes possa parecer essencial.
Essencial é ter a sabedoria de esperar, de não empatar a vida dos outros, de não querer tudo para si - poderíamos ter aprendido algo com a pandemia, mas não aprendemos nada - pelo contrário. Aprendeu-se a negar tudo: a pandemia, a ciência, a tecnologia. As pessoas - começámos a negar as pessoas válidas e que têm conhecimento.
Ainda assim, ontem, vimos novamente miúdos a brincar nas ruas até bem tarde, enquanto vizinhos falavam uns com os outros, possivelmente, muitos, pela primeira vez em vários anos a habitar o mesmo prédio. Mas Portugal, hoje, já se esqueceu. E a Europa, HOJE, vai continuar a consumir recursos energéticos como se não houvesse amanhã - e o irónico, é que acabámos de verificar que pode mesmo NÃO HAVER amanhã.
Não, não estamos preparados e continuaremos incapacitados em sermos independentes, em termos uma mini soberania energética, só ela possível de se afirmar, em momentos como este (e sim, graças a alguns técnicos - que nem todos certamente são incompetentes). Não há gestão de nada. Não se sabe como fazer. E ainda assim, uma vez mais, bato palmas a todos os que conseguiram manter a ordem pública. Num dia em que tudo poderia ter corrido mal, não ouvi falar em crimes, em mortes, em acidentes. Para aqueles que afirmaram que houve o caos, que tenham provas antes de aparecerem nas televisões a grunhir. As pessoas, embora sem acessos, ainda sabem como se comportar, sejam de que nacionalidade for. E mais, a todos aqueles que, também, afirmam a desgraça da imigração - foi essa imigração que ontem safou muitas pessoas, em muitas localidades, quando os supermercados eram tomados.
Há muito aqui em que pensar - há muita confusão aqui instalada, mas ainda bem que nestes dias longos, a luz natural se estende até mais tarde. Se isto for o fim do mundo, num mundo de privilégios, que seja em paz.
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