... Realmente é certo que isto de eu escrever e ter um blogue e tudo o mais é muito bonito. Sem dúvida que aqui se calhar revelo muito mais do que numa rede social. E o mais estranho é que aqui escrevo para o "público" (esse enorme universo de totais desconhecidos que podem tropeçar neste link ou simplesmente serem vouyeurs de vidas alheias).
Já que assim é, revelo aqui e agora que os últimos 4 meses têm sido plenos de coisas novas. De gente nova na minha vida, de outras actividades, de momentos de lucidez e outros de pura alucinação que abanaram as minhas bases, tudo aquilo em que eu, aliás, acreditava.
E foi tudo para melhor - sabem aquele medo que sempre sentimos em enfrentar o desconhecido, em largar a mão daqueles que sempre vimos como as únicas âncoras? Pois, é o melhor que nós fazemos. Não só enfrentamos esses medos, como acabamos por ver que essas pessoas não vão a lado algum, continuam ao nosso lado, simplesmente já não estamos dependentes delas para a nossa sobrevivência.
Assim, também digo que aos 31 anos ainda tenho muito por viver e aprender.
Por isso é que hoje, ao ler um artigo da Maria Capaz - plataforma interactiva criada por mulheres e para mulheres (e homens) - defrontei-me com o óbvio. Com aquilo que todos os dias eu penso, mas não tinha coragem de assumor, de entender como adulta que agora sou: vive-se em Portugal numa sociedade preconceituosa e triste.
Uma sociedade que continua a olhar para a Mulher enquanto mãe, enquanto, esposa (dedicada), fada do lar. Uma sociedade que não admite que as mulheres possam escolher o que querem fazer das suas vidas a partir de certo momento, como se até uma fase da vida nos fosse permitido alguns excessos (mas apenas alguns) e depois disso, é hora de arrumar ideias, assentar arraiais com alguém, ter uma vida familar e profissional perfeitas - com crianças incluídas se possível (porque caso não seja, coitadinhas de nós que iremos sofrer o resto da vida com a falha eterna de não termos posto na Terra mais um ser).
A Vida é uma responsabilidade imensa. A nossa própria Vida é da nossa responsabilidade infinita.
O facto de só agora eu estar a dar-me com imensas pessoas (vá, não são assim tantas), mas de tão diferentes mundos, só me faz pensar não que eu tenha vivido mal ou pouco - pelo contrário -, mas si, que existe um outro Mundo imenso por descobrir e que eu, nós, não temos idade para nos auto-impôr barreiras, sejam elas etárias ou psicológicas.
Claro que se alguma mulher ler isto, vai achar todo o texto balofo. Sim, porque na maior parte dos casos dou-me com mulheres bem resolvidas que não têm quaisquer problemas com as suas vidas. Contudo, parem bem para pensar no contexto global. Olhem bem para as que vos rodeiam - aquelas que não fazem parte do vosso círculo de conhecidas sequer. Olhem para as que vão nos transportes públicos, as que levam ou não as lancheiras. Talvez aí, nessa comparação de caras e sucessivos momentos de monotonia automana, vejamos que realmente espelhamos o que a sociedade portuguesa espera da Mulher: ou és casada, mãe, com emprego (ou não), porque isso acaba por ser irrelevante (com ou sem crises económicas), ou então és uma falhada, mesmo que sejas CEO de uma grande empresa. Porque falhámos realmente em tudo o resto. Não somos capazes de manter um relacionamento, de ter tempo para a família, uma série de outro episódios que só nos fazem umas tristes e sozinhas.
Desculpem a franqueza, eu não vou voltar a repetir que é bom viajar e estar com pessoas novas e bla bla bla, eu apenas me vou focar nisto: no falhanço que representa para a sociedade uma Mulher que seja emancipada e que tenha realmente mão na sua vida - seja em que aspecto for e para o que for.
Por minha parte, vou continuar a dizer que estes meses têm sido de uma aprendizagem constante, conhecendo pessoas incríveis que sei que entram na lista dos que serão grandes Amigos/as.
E agora, tenho empadas para comer. Obrigada.