Continuo a achar que nada acontece de propósito. Ontem, numa tentativa de "escapar" ao marasmo quotidiano, numa fuga (não) intencional à realidade e aos problemas do último mês, acabámos por ser protagonistas numa história que poderia eventualmente ter corrido muito mal.
Valeu-nos o sangue frio de quem já passou por isto antes, e o pêlo na venta de quem já esperou, em outras ocasiões, demasiado por uma ambulância que tardava em aparecer.
89 anos de juventude. Sete Rios.
A primeira impressão de sangue é sempre assustadora, até que temos de estancar as hemorragias. Depois é pressionar bem. E falar sobre outra coisa qualquer. E assimilar aquilo que os 89 anos nos vão dizendo. Rijos, sem papas na língua. Bem-dispostos. 2 Filhos, 3 netos, 2 bisnetos (mais um 3º a chegar). "Nunca na minha vida fui a um hospital, não é hoje com certeza. Aliás, eu estava a caminho do centro de saúde..." Acabou por ir, consciente de si e dos que a rodeavam, segura de si mesma.
Pela madrugada uma das netas enviou-me a mensagem de que tudo estava bem (menos o tempo de espera na urgência, algo perfeitamente normal para uma pessoa daquela idade, ainda para mais lúcida). Que era cada vez mais raro haver quem fizesse o que fizemos pela avó. Eu interrogo-me quem é que não o faria. Um animal? Será que continuo a viver numa bolha de sabão e não vejo que as pessoas estão cada vez menos preocupadas umas com as outras? Valeu a pena aquele contacto com outra realidade e sim, acabou na mesma por ser uma fuga para outro lado, mesmo que não fosse o que eu gostaria, se calhar, valeu ainda mais a pena.
No comments:
Post a Comment