Acontecem coisas bem piores. Bem mais trágicas, que me levam a pensar que o melhor que os meus amigos fazem é realmente sair do país. Afastarem-se da vergonha, fingirem que não são de cá, numa época em que todos querem entrar na Europa pelos melhores e piores motivos. Mas Portugal? Até os "refugiados" não querem entrar cá.
Por muito "inteligente" que eu possa ser, não consigo compreender como raio é que num Hospital (ainda que público, pronto, já estou a dar-lhe esse "benefício" de dúvida) não há serviços de especialidade neurocirúrgica/ neurologia durante o fim de semana. E quem diz essa especialidade, diz outras. Porque aos fins de semana as pessoas não terão problemas de saúde, será?
Um rapaz de 29 anos morreu por aquilo que vulgarmente se chama de negligência médica. Ou melhor, negligência hospitalar. Ou talvez mesmo negligência estatal. Porque nestas coisas, bem podem os directores do São José se demitirem (espero que por vergonha), quando as demissões deveriam começar bem mais acima - mas não com este Governo acabado de estrear. É incrível como num espaço de duas semanas apenas, a nova maioria parlamentar já teve de resolver e limpar a merda que os outros deixaram. E a rapidez com que foi. Claro que agora serão sempre acusados de mentirem, de faltarem com a palavra, de "afinal sempre vão aumentar os impostos" e "afinal, temos de pagar mais um banco". Fizeram o que puderam num curtíssimo espaço de tempo. Dizerem que enquanto o Estado paga bancos, não paga médicos é no mínimo ridículo. Porque esta situação lastimável já vem de trás. Aliás, já vem de um tempo em que um tal PM com o mesmo nome que o filósofo grego, decidiu encerrar centros de saúde e hospitais no interior do país, iniciando-se assim a rota de emigração de médicos e enfermeiros até aos dias de hoje. Ficaram cá as bestinhas, aqueles que armados ao pingarelho acham que percebem imenso de medicina (só fica lá fora quem é REALMENTE BOM!) e acabam por matar pessoas - ou deixá-las morrer, que vai dar ao mesmo.
Porque eu, EU, acho que o David teve o que se chama de AVC, e as possibilidades de tratar com o menor numero de sequelas possíveis um caso destes, aumenta nas três primeiras horas de diagnóstico e tratamento. O David era para ter estado mais de 48 horas à espera de uma operação. Era, pois não resistiu tanto tempo. Como raramente alguém naquelas condições resiste.
Com isto, de repente, vejam só a ironia, apareceram uma série de médicos da especialidade correspondente, disponíveis para trabalharem durante os fins de semana (que chatice, lá devem perder qualidade de vida). Só me resta saber até quando, durante quanto tempo, e quantos mais casos destes terão de haver para que os médicos estejam presentes realmente onde devem de estar. Onde têm de estar - num hospital, num centro de saúde, numa clínica, num lar, de forma a evitar mais mortes.
PS - Acabo de ler a declaração do Bastonário da Ordem dos Médicos afirmando que quando os médicos são chamados nestas instâncias, têm de pagar para trabalhar - continuo burra. Pronto, é burrice. Um médico serve para ganhar/ gastar dinheiro ou salvar vidas? É incrível como os valores estão completamente trocados... Eu já nem sei se sou desta terra ou desta Terra...
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