May 2020 - Cláudia Paiva Silva

Friday, May 22, 2020

Consciência Brasileira
May 22, 20200 Comments

Em confinamento, muitos de nós se sentiram inúteis, outros altamente motivados para mostrar a todos que poderiam fazer e ser tudo dentro das quatro paredes de casa, outros tantos, continuaram a ver a vida passar, em casa, ou fora dela, tudo se remete a um mesmo compasso de espera, tempo que se gasta e não volta mais. Mas sobre isso, aqui, já muito foi escrito e observado. 
E há aqueles que como eu, se desdobram naquilo que não o são também, mostrando que os lemas para 2020 até se podem concretizar de outras formas, sob as formas de outras pessoas. "A sorte protege os audazes" também pode ser usada na gíria como uma "grande lata" ou no português do Brasil, uma grande "cara de pau". Foi assim (e por causa do meu até agora único mês pago na Netflix) que cheguei ao contacto com Mel Lisboa, atriz brasileira da nova geração (ou, da minha geração) mais conhecida pela interpretação em Presença de Anita, vários anos passados. Aqui, tudo começou com a série Coisa mais Linda, no qual Mel é uma das 4 protagonistas principais, cavaleiras do Apocalipse, mulheres dos anos 60 num Brasil que se formava a ser o que é hoje, com as mesmas profundas raízes e questões sobre classes sociais, ricos e pobres, brancos e negros, mas, principalmente, com a mesma pergunta sobre o lugar da mulher na sociedade tipicamente masculinizada. E aí, completamente fascinada pela primeira temporada que tinha estreado já em Março de 2019 (!!!) na plataforma digital e esperando (agora em Junho) a segunda, decidi que tinha de tentar chegar ao contacto com aquela personagem/actriz que mais me tinha tocado, a decidida Tereza, que calhou ser a de Mel Lisboa, claro! 
Mensagem enviada por Instagram, sabia que a hipótese de contacto seria para lá de nula - se nem os portugueses muitas vezes respondem, quanto mais os internacionais, e foi precisamente nesse ponto que me enganei! De uma simpatia e disponibilidade incríveis, tive (junto da editora da Revista Rua, que alinha nestas minhas loucuras) a oportunidade de enviar questões para o outro lado do Atlântico, termos a autorização de Jorge Bispo em usar as suas fotos, e assim publicar a entrevista que se segue e que pode ser vista também aqui: Mel Lisboa na Revista Rua
(Além de falarmos necessariamente da série, a conversa e o contexto atual, levaram-nos também para um campo mais político, uma vez que Mel é igualmente conhecida pelo seu imparável ativismo cultural e social, batendo-se contra o corrente governo de Balsonaro. Entre o momento de envio das questões e o reenvio das respostas, houve ainda o "acontecimento" Regina Duarte na entrevista à CNN Brasil, que tanto envergonhou parte do país tropical como o lado de cá do oceano. Também esse momento foi oportunamente comentado). 


Como será óbvio a nossa primeira questão tem a ver com esta situação de isolamento social causada pelo Covid-19. Como sentes que esta pandemia irá mudar a vida das pessoas?

Acho que a pandemia está, aos poucos, mudando profundamente as pessoas. Diante da situação extrema e sem precedentes, estamos nos vendo obrigados a rever uma série de conceitos e de valores. Espero realmente que esta tragédia sirva para que saiamos dela melhores do que éramos antes; mais solidários, mais conscientes da coletividade.

Pensas que poderá ser mais fácil com a evolução dos factos, haver uma maior consciencialização na sociedade brasileira ou mesmo na classe política, pela relevância e importância em relação à doença?

Honestamente, eu espero que sim. Mas infelizmente, diante da negação da população, da ignorância dos factos e da postura absurdamente irresponsável do nosso presidente, talvez isso só se dê individualmente, quando a morte bater na porta de cada um.

Falando sobre sociedade, como vês hoje em dia a importância dada aos direitos humanos e direitos da mulher?

Acho que os direitos humanos, os direitos das mulheres são fundamentais, hoje e sempre. Infelizmente, porém, a carta não é uma lei universal e poucas são as pessoas no mundo que a respeitam plenamente. Acho que seria fundamental que os direitos humanos fossem estudados de forma mais profunda nas escolas para que todos conhecessem os seus direitos e os direitos do próximo. O mundo, assim, seria um lugar mais agradável de se viver.

“Uma das coisas que mais impressiona em Coisa Mais Linda é a atualidade dos seus assuntos. Perceber que se passaram 60 anos e a situação da mulher do Brasil não mudou tanto assim é chocante.”

A série Coisa Mais Linda tornou-se num fenómeno tanto no Brasil como também aqui em Portugal. É claramente um sinal da importância do Feminismo e Feminino ou acreditas que haja outra razão por detrás do sucesso?

Acho que o sucesso de uma série ou de um filme é fruto de uma junção de factores; muitos elementos que agradam em uma só obra. O assunto é importante, definitivamente, mas se não vier acompanhado de um bom roteiro, uma boa direção, direção de arte, figurino, fotografia, trilha, interpretações, pode não funcionar. Na minha opinião, Coisa Mais Linda fez sucesso pois conseguiu unir com qualidade muitos desses elementos.

Todas as principais personagens, Maria Luísa, Ligia, Adélia e Thereza, têm histórias de vida bastante distintas entre si. Contudo, todas têm personalidades fortes. Thereza é talvez a mais emancipada das quatro. Viajada, culta… Muitas espectadoras se identificam com ela. Achas que a tua Thereza pode ter “roubado” a cena?

Thereza é, sem dúvida, a mais emancipada das quatro. Uma mulher independente, consciente da problemática do machismo no campo coletivo, inteligente, culta, sexualmente livre e segura de si mesma. Ou seja, uma mulher que muitas pessoas gostariam de ser. Por esse motivo, muitos espectadores acabaram se identificando com a Thereza, admirando-a. Mas cada personagem tem ali uma função narrativa muito importante e ficam mais fortes na presença umas das outras.

Feitas as devidas comparações entre o Brasil dos anos 50/60 e o país hoje, não achas que ainda há pontos que se cruzam, nomeadamente a questão do amor interracial, diferenças dos estratos sociais, hipocrisia nas classes de topo (relembrando a cena em que Malu e Ligia são “convidadas” a sair do country club?)

Uma das coisas que mais impressiona em Coisa Mais Linda é a atualidade dos seus assuntos. Perceber que se passaram 60 anos e a situação da mulher do Brasil não mudou tanto assim é chocante.

“Aqui, Cultura é considerado artigo de luxo. Infelizmente, não há a compreensão de que a Cultura é aliada fundamental da educação. Sem educação e cultura, não há desenvolvimento efetivo.”

Há poucos dias mencionaste numa entrevista que a principal causa do machismo/assédio era já algo intrínseco na cultura, que era um aspeto quase cultural. Mas não depende também da educação entre gerações mais velhas e mais jovens?

Sem dúvida. Acredito que a educação é fundamental para alcançarmos alguma mudança. Os mais velhos têm de mudar o seu comportamento para que a situação se normalize e passe a ser o padrão. Desta maneira, os mais jovens cresceriam num mundo cada vez mais equivalente e isso seria a norma, não a exceção.

E a Cultura/Arte? Em que situação está o Brasil neste momento? Desde há vários meses que se tinha verificado cortes e alguma censura em atividades e espaços culturais em que várias peças foram mesmo canceladas. Com esta nova crise económica que já se sente e com a nova Ministra da Cultura, também atriz, mas apoiante incondicional de Bolsonaro, como vês o futuro da tua classe profissional?

No Brasil, a Cultura está hoje talvez no pior momento da sua história. Artistas estão sendo perseguidos, ofendidos covardemente. Aqui, Cultura é considerado artigo de luxo. Infelizmente, não há a compreensão de que a Cultura é aliada fundamental da educação. Sem educação e cultura, não há desenvolvimento efetivo. Nos últimos dias, ainda tivemos um espetáculo de horrores protagonizado pela nossa Secretária de Cultura, Regina Duarte, que relativizou a ditadura, foi conivente com a tortura, debochou escrachadamente das pessoas que tiveram entes queridos mortos neste período, mostrando assim, de forma desavergonhada, a cretinice e a sordidez que o nosso governo atual representa.

Tens receio do futuro do Brasil? Consideras que há problemas sérios que não estão a ser valorizados e deviam?

Tenho, sim, muito receio. Quero me manter positiva, lembrando que na História, momentos como este que estamos passando vêm e vão. “Isto também vai passar”, é o que tenho dito para mim mesma, no afã de acreditar nas minhas próprias palavras.

Por último, numa palavra de esperança: Mel, qual é para ti uma das Coisas mais Lindas do Brasil? E do nosso Mundo?

Uma das coisas mais lindas no Brasil é a nossa cultura, o que nos diferencia e nos faz únicos. É também a nossa alegria, nossos ritmos, nossas cores tão diversas. Nossa riquíssima natureza; a floresta, os mares e montanhas, os animais. O que há de belo no mundo é também o que o faz singular. Cada região, cada som, cheiro, cada povo, cada flora e fauna. O ar que respiramos.







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Sunday, May 17, 2020

Portugal versão 1.0
May 17, 20200 Comments
"O nosso lirismo devia ser coutado. O país devia consagrar-lhes um parque de reserva, onde fosse proibido dizimar as espécies que ainda restam, deixando-as viver num paradisíaco devaneio, à lei da inspiração. E nenhum sítio é mais indicado para isso do que esta província portuguesa, feira de dunas e calcários. 
Poderiam passear à sombra evocadora do grande pinhal que o colega medieval semeou, sonhar nas margens do Lis e do Lena, do Alcoa e do Baça, que são rios encantadores para sonhar, e em Pedrogão, S. Pedro de Moel, Nazaré, S. Martinho, Baleal, Ericeira e Sesimbra, tomariam banhos de mar, sem perigo de maior. Visitariam Mafra de vez em quando, como penitência, gozariam férias graníticas em Sintra, e os seus retiros espirituais seriam na Arrábida, fora do convento. Teriam grandes motivos poéticos e humanos à mão de semear, como a vida dos pescadores da Nazaré, as peregrinações a Fátima, a morte lenta à boca dos fornos da Marinha Grande, a trituração das pedras e dos homens para fazer cimento na Madeira, sem falar no clássico manancial de Aljubarrota, assunto que nunca mais acaba. 

Todas as condições, como se vê, para que outro apogeu da nossa cultura surgisse das margens onde ela afinal tem as raízes. Uma vez que o melhor da força criadora nacional está concentrado nesse pequeno reduto em que as serras de Aire, Candeeiros e Montejunto são ameias, nada de mais sensato do que tentar reverdecê-la aí. Granjeada de novo naquelas colinas suaves e calmas, talvez brotasse com o alento com que todos suspiram. Não é às lousas do xisto ou à aspereza das urgueiras que se hão-de pedir filigranas góticas e versos bucólicos. Nos sítios onde a natureza não quer, nem as calhandras cantam. O talento é preciso, mas é preciso também que o meio ajude." (Portugal, Miguel Torga) 


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Thursday, May 07, 2020

Sons de batucada
May 07, 20200 Comments



"Samba de verdade tinha que ter o sal do batuque dos terreiros de Umbanda e Candomblé, uma batida grave pra marcar, umas agudas para recortar. Era só fazer a segunda e a primeira bem definidas, botar o ritmo pra frente, que nem se toca na macumba pra fazer santo baixar e subir quebrando demanda, levando o mal para sumir no infinito de Aruanda e espalhar a paz no coração dos filhos da terra. Essa coisa de ficar imitando os portugueses, os franceses, os argentinos estava na hora de parar. A boa era dar continuidade à batida que vinha dos países de África, das senzalas, dos quilombos, dos terreiros, do lundu. Samba pra desentortar esquina, tirar paraleleípedo do chão, engrossar a batata da perna, espantar os males de quem anda, canta e dança. Samba para se desfilar na rua." (Paulo Lins, Desde que o Samba é Samba).
Sabe quem sabe que eu já habitei (ou pisei pé) em terras brasileiras. Sabe quem sabe que o Brasil teve para mim um impacto extremamente profundo, um sentimento de Casa e Terra-Pátria, mesmo que fosse por empréstimo temporário. Também se sabe que quando falo ou escrevo sobre o Brasil evoco terras, cidades, vilas e regiões que nem talvez muitos brasileiros alguma vez tenham ou possam vir a conhecer. Sei o quão privilegiada fui por ter conhecido tanto em tão pouco tempo e mais uma vez, sei o quanto isso me marcou na alma.
Contudo, também sinto que esta minha falsa modéstia possa parecer isso mesmo - uma modéstia muito pouco verdadeira - e que talvez seja demasiado emproada quando digo que conheço o Brasil. Não conheço. Ou como eles diriam, "não conheço porra nenhuma", a não ser a ideia de que um país gigante, onde se perde fácil o conceito de escala humana e regional (6 milhões de habitantes apenas no Estado do Rio de Janeiro; distância São Paulo-Rio pela Via Dutra, umas 5 horas), pode ter dentro dele outros tantos países, credos, formas e culturas. Que o Sul é definitivamente mais rico do que o Nordeste, que o Nordeste é extremamente mais caloroso que outros estados, mas que no geral todos gostam de receber alguém que fala uma língua parecida com a deles, mas que na maioria dos casos nem entendem bem. Falamos estranho, com "chiado", não somos do Rio, mas também não se sabe bem de onde somos.
Contudo, há uma cena que me lembro bem de me ter arrepiado. Nada que ver com violência ou insegurança. Simplesmente esteve relacionado com o som. Quando fui a Salvador, possivelmente a cidade mais portuguesa que conheci em toda a minha estadia, o som do berimbau foi escalando numa zona de ermo. Não sei o que era, mas sei que foi poderoso, estando logo ali. Salvador é uma cidade mística. E sim, tem toda a referência à colonização para lá de violenta, uma colonização de morte, de violação, de assassínio em massa, uma colonização forçada de fé, regada pouco depois pela forte cultura africana e escravizada. Mas a questão fundamental é? Para lá desse horror, do que é feita hoje a massa do brasileiro? Essa mescla imperturbável de africano, índio, português (ou de outro colono medieval). E qual é o verdadeiro som do Brasil? O típico samba ou o forró, certamente que não é apenas a bossa nova que resulta de forte influência de jazz norte-americano. O som é também essa coisa tão profunda e enraizada de sons africanos, a batucada, o misticismo e espiritismo que acompanham o ritmo. 
Perdoem-me a minha arrogância, mas se há coisa que eu percebi do Brasil é que não há um único jeito de ser nem de estar. Não há um som típico ou uma forma de falar. É muito mais que isso, é Casa, Pátria, Crença, Tradição.


Saberiam por exemplo que no interior nordestino ainda se praticam costumes que só os judeus faziam no tempo em que eram perseguidos? Tal como junto ao Mar os Orixás são os reis do céu e das águas "Para quem está ainda mais fora do candomblé que eu, das religiões de matriz africana em geral, do complexo enredo dos seus orixás, equivalentes a santos, entidades, seres sagrados: Oxum é a senhora das águas doces, da cor do ouro, uma das mulheres que o rei Xangô desposou, tal como a brava Iansã, senhora das tempestades.

A mais cantada mãe de santo do Brasil, Mãe Menininha de Gantois era uma filha de Oxum. (...) Como não haveriam os terreiros da Bahia de bater no peito da música popular, e assim em nós." (Alexandra Lucas Coelho, Cinco Voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso".
Quem será o homem, presidente ou não para dizer como podem milhões viver ou pensar, se deles ele nada sabe ou se de seu próprio país ele nada conhece? 
Se ouvisse direito o som da batucada iria entender tanto mais.




(texto originalmente escrito para o blogue, mas publicado na Revista Rua - pode ser lido aqui: Sons de batucada)
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Monday, May 04, 2020

It's a May the 4th be with you! - ou como retorcemos tudo
May 04, 20200 Comments
Liberdade e democracia”. Os cartazes do 1 de maio – Observador



Os humanos têm sem dúvida um estranha forma de vida mas acima de tudo uma estranha forma de ser. Face aos acontecimentos dos últimos quase 60 dias e perante o atual estado de "alívio nas medidas de restrição" que nos foram solicitadas pelo governo, só me resta mesmo ficar em espanto com alguns dos protagonistas deste filme épico. Uma das principais cenas, a manifestação do 1º Maio, a qual sendo permitida oficialmente levou bem mais do que apenas militantes e sindicalistas à rua. O que me choca não foi (apenas) a sua realização perante o ainda estado de emergência declarado (mas claro, se há autorização do PR e com as devidas normas assinaladas por uma DGS que certamente também não terá concordado muito, só podia acontecer!), mas sim a justificação dada se tal não ocorresse. De acordo com o PCP e a própria CGTP, o país está a braços com um retorno do "velho senhor", estamos a viver dias de totalitarismo e autoritarismo nunca vividos em época democrática - e isto, vindo de quem vem, na corrente e face aos acontecimentos óbvios que se têm verificado, não apenas em Portugal, mas, só naquela, por todo o mundo, é mais assustador do que ouvir o Trump a dizer que beber alcóol, desinfectante, lixívia e similares, cura o corpo humano da doença. É que uma coisa é termos uma pessoa completamente alucinada e incompetente a liderar um país maioritariamente constituído por pessoas que infelizmente não pautam por grandes doses de educação e cultura, outra, é termos pessoas inteligentes, num país mais ou menos sério e menos apalhaçado, insinuarem que o isolamento social, que o distanciamento de segurança, e eventuais proibições de encontros e manifestações à média e larga escala (com o fundamento óbvio para todos os portugueses que possuem dois dedos de testa) é apenas e só uma manipulação directa do governo para as massas, de forma a nos encarreirar dentro de um clima que se poderá assemelhar muito ao fascismo puro. Sem dúvida que muitos(as) poderão ter visto nesta situação oportunidade para colocarem pontos finais com contratos laborais, mas certamente que não será apenas isso o fator dilacerante da nossa economia. Declarações como esta: "Perante a força, organização, determinação e disponibilidade para a luta manifestada neste 1º de Maio, há sectores da nossa sociedade que procuram no surto epidémico a justificação para o regresso ao passado, para a reintrodução do totalitarismo, de mordaças e do unanimismo como única forma de pensar e estar. Procuram que os trabalhadores aceitem, passivamente ou encobertos exclusivamente nas redes sociais, o ataque aos seus direitos e salários." (ver aqui: Comunicado Oficial CGTP) são apenas apologistas de desunião e caracterizam um pensamento que neste momento não se deveria sequer colocar. A Luta poderá ser feita das mais variadas formas, senão de que outra forma poderíamos entender a decisão do Bloco de Esquerda ou mesmo da UGT em não participarem nesta mesma festa democrática? Na volta como uma "cumplicidade" entre partidos e sindicatos de esquerda mas com fome de Poder no centro-direita? Temos de ter cuidado com esta questão dos direitos humanos, liberdades individuais estarem misturados com os direitos democráticos. A China é um país de esquerda mas subjugando os seus habitantes a um fascismo puro, ou não? Claro que ninguém quer agora andar com um chip que revele os nossos dados biométricos a uma qualquer base de dados privada, mas nem é disso que agora falo. Sim e apenas da questão de que o politicamente correto, invocado numa situação em que continuamos a ter o dever cívico de nos manter resguardados (ou com os maiores cuidados possíveis caso não o possamos fazer), não pode ser aplicado a torto e a direito. Dizermos que ao sermos impedidos de ir à praia em grupos ou individualmente ou confraternizar no café é regressar ao tempo da PIDE será apenas parvo. Haja bom senso, coisa que infelizmente sempre pautou por faltar a todas as gerações nacionais. 
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Sunday, May 03, 2020

Those Sunday Blues
May 03, 20200 Comments
Foto de Claudia Paiva Silva

@baguy
Não há como negar. Este isolamento social, esta distância de segurança que constitui um dever cívico, (mais do que uma obrigatoriedade que não o é, nem nunca o foi), provocou em inúmeros de nós uma sensação de perda, de embriaguez, ansiedade, falta de energia generalizada apenas aplacada pelo teletrabalho que muitos, felizmente, conseguiram manter. Confesso que comigo, aparte da incredulidade inicial, acabei por perceber que fui mais ativa do que antes, do que alguma vez até. Conscientemente ganhei toda uma nova forma de trabalhar, de me organizar internamente, regular o meu sistema e organismo, não deixar que o relaxamento tomasse conta, muito menos quando vimos e continuamos a ver tantas e tantas reportagens de gente que nunca baixou os braços, que continuaram sem parar para que nós todos não parássemos de vez. Que nos cuidaram e irão continuar a tratar e a olhar por nós em qualquer circunstância, sem olhar a meios, e, se tudo correr bem, sem terem de escolher quem poderão salvar. Por isso, perante essa consciência de que me deixar levar pela preguiça seria uma vergonha perante essas pessoas, talvez tenha sido a principal razão pela hiperatividade que comecei a transparecer. Ficando em casa. Saindo o mínimo e apenas essencial, ficando a trabalhar até mais tarde, dando mais de mim, estando mais atenta, fazer as tarefas domésticas sem bufar, mas ganhando noção que nunca não se tem nada para fazer no espaço onde moramos. 
Sim, talvez seja uma daquelas pessoas que se tenham tornado irritantes aos olhos dos outros, de tão produtiva que me possa ter tornado. Como podem imaginar, irei parar ou deixar de fazer/ser/acontecer quando o meu corpo pedir descanso. 
Contudo, mais importante ainda, é que foi apenas dessa forma que percebi que existe uma série de criadores nacionais, que passam pela Moda mas também pela Cultura e Arte, e que neste momento estão a sentir já grandes dificuldades em sobreviver. São eles que nos fazem sentir um bocadinho melhor ao longo do dia, são os que escrevem e compõem músicas, os que escrevem os textos e diálogos das séries e filmes, são os que nos levavam ao teatro - e não, não são apenas aqueles "coitadinhos" que seguiram uma profissão que quase parece uma brincadeira - são pessoas com uma PROFISSÃO real, a tal que nos entra pelos olhos e ouvidos dentro, e que acredito, que talvez nos/vos tenha salvo a vida várias e várias vezes em momentos de maior desespero. 
Mais uma vez deixo o apelo. Há que repensar seriamente na forma como iremos todos ajudar para retomar a economia nacional sem esquecer todas as formas artísticas que também fazem mexer os bolsos do Estado, sabendo bem que nada será como antes, que não espero o retorno dos festivais musicais ou outros, onde imensa gente estará presente em núcleos. Será certamente necessário também perceber como irão os festivais do futuro, pós-Covid, ser organizados. Será aliás extremamente necessário saber e aprender a estar em determinados contextos culturais, de forma a evitar o pior. Até lá, e sabendo que amanha é uma segunda-feira, um dia especial e diferente, em que várias das limitações que nos foram colocadas, irão ser amenizadas, temos de pensar um dia de cada vez, passinho a passinho, de forma a todos termos consciência do que isto colocará em forma de peso, nas costas de cada um de nós. Isto ainda não acabou...

@baguy

@julianabezerra

@siennainspo

@art_pessoa

@GuajaStudio

Foto de Claudia Paiva Silva
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