It's a May the 4th be with you! - ou como retorcemos tudo - Cláudia Paiva Silva

Monday, May 04, 2020

It's a May the 4th be with you! - ou como retorcemos tudo

Liberdade e democracia”. Os cartazes do 1 de maio – Observador



Os humanos têm sem dúvida um estranha forma de vida mas acima de tudo uma estranha forma de ser. Face aos acontecimentos dos últimos quase 60 dias e perante o atual estado de "alívio nas medidas de restrição" que nos foram solicitadas pelo governo, só me resta mesmo ficar em espanto com alguns dos protagonistas deste filme épico. Uma das principais cenas, a manifestação do 1º Maio, a qual sendo permitida oficialmente levou bem mais do que apenas militantes e sindicalistas à rua. O que me choca não foi (apenas) a sua realização perante o ainda estado de emergência declarado (mas claro, se há autorização do PR e com as devidas normas assinaladas por uma DGS que certamente também não terá concordado muito, só podia acontecer!), mas sim a justificação dada se tal não ocorresse. De acordo com o PCP e a própria CGTP, o país está a braços com um retorno do "velho senhor", estamos a viver dias de totalitarismo e autoritarismo nunca vividos em época democrática - e isto, vindo de quem vem, na corrente e face aos acontecimentos óbvios que se têm verificado, não apenas em Portugal, mas, só naquela, por todo o mundo, é mais assustador do que ouvir o Trump a dizer que beber alcóol, desinfectante, lixívia e similares, cura o corpo humano da doença. É que uma coisa é termos uma pessoa completamente alucinada e incompetente a liderar um país maioritariamente constituído por pessoas que infelizmente não pautam por grandes doses de educação e cultura, outra, é termos pessoas inteligentes, num país mais ou menos sério e menos apalhaçado, insinuarem que o isolamento social, que o distanciamento de segurança, e eventuais proibições de encontros e manifestações à média e larga escala (com o fundamento óbvio para todos os portugueses que possuem dois dedos de testa) é apenas e só uma manipulação directa do governo para as massas, de forma a nos encarreirar dentro de um clima que se poderá assemelhar muito ao fascismo puro. Sem dúvida que muitos(as) poderão ter visto nesta situação oportunidade para colocarem pontos finais com contratos laborais, mas certamente que não será apenas isso o fator dilacerante da nossa economia. Declarações como esta: "Perante a força, organização, determinação e disponibilidade para a luta manifestada neste 1º de Maio, há sectores da nossa sociedade que procuram no surto epidémico a justificação para o regresso ao passado, para a reintrodução do totalitarismo, de mordaças e do unanimismo como única forma de pensar e estar. Procuram que os trabalhadores aceitem, passivamente ou encobertos exclusivamente nas redes sociais, o ataque aos seus direitos e salários." (ver aqui: Comunicado Oficial CGTP) são apenas apologistas de desunião e caracterizam um pensamento que neste momento não se deveria sequer colocar. A Luta poderá ser feita das mais variadas formas, senão de que outra forma poderíamos entender a decisão do Bloco de Esquerda ou mesmo da UGT em não participarem nesta mesma festa democrática? Na volta como uma "cumplicidade" entre partidos e sindicatos de esquerda mas com fome de Poder no centro-direita? Temos de ter cuidado com esta questão dos direitos humanos, liberdades individuais estarem misturados com os direitos democráticos. A China é um país de esquerda mas subjugando os seus habitantes a um fascismo puro, ou não? Claro que ninguém quer agora andar com um chip que revele os nossos dados biométricos a uma qualquer base de dados privada, mas nem é disso que agora falo. Sim e apenas da questão de que o politicamente correto, invocado numa situação em que continuamos a ter o dever cívico de nos manter resguardados (ou com os maiores cuidados possíveis caso não o possamos fazer), não pode ser aplicado a torto e a direito. Dizermos que ao sermos impedidos de ir à praia em grupos ou individualmente ou confraternizar no café é regressar ao tempo da PIDE será apenas parvo. Haja bom senso, coisa que infelizmente sempre pautou por faltar a todas as gerações nacionais. 

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