Those Sunday Blues - Cláudia Paiva Silva

Sunday, May 03, 2020

Those Sunday Blues

Foto de Claudia Paiva Silva

@baguy
Não há como negar. Este isolamento social, esta distância de segurança que constitui um dever cívico, (mais do que uma obrigatoriedade que não o é, nem nunca o foi), provocou em inúmeros de nós uma sensação de perda, de embriaguez, ansiedade, falta de energia generalizada apenas aplacada pelo teletrabalho que muitos, felizmente, conseguiram manter. Confesso que comigo, aparte da incredulidade inicial, acabei por perceber que fui mais ativa do que antes, do que alguma vez até. Conscientemente ganhei toda uma nova forma de trabalhar, de me organizar internamente, regular o meu sistema e organismo, não deixar que o relaxamento tomasse conta, muito menos quando vimos e continuamos a ver tantas e tantas reportagens de gente que nunca baixou os braços, que continuaram sem parar para que nós todos não parássemos de vez. Que nos cuidaram e irão continuar a tratar e a olhar por nós em qualquer circunstância, sem olhar a meios, e, se tudo correr bem, sem terem de escolher quem poderão salvar. Por isso, perante essa consciência de que me deixar levar pela preguiça seria uma vergonha perante essas pessoas, talvez tenha sido a principal razão pela hiperatividade que comecei a transparecer. Ficando em casa. Saindo o mínimo e apenas essencial, ficando a trabalhar até mais tarde, dando mais de mim, estando mais atenta, fazer as tarefas domésticas sem bufar, mas ganhando noção que nunca não se tem nada para fazer no espaço onde moramos. 
Sim, talvez seja uma daquelas pessoas que se tenham tornado irritantes aos olhos dos outros, de tão produtiva que me possa ter tornado. Como podem imaginar, irei parar ou deixar de fazer/ser/acontecer quando o meu corpo pedir descanso. 
Contudo, mais importante ainda, é que foi apenas dessa forma que percebi que existe uma série de criadores nacionais, que passam pela Moda mas também pela Cultura e Arte, e que neste momento estão a sentir já grandes dificuldades em sobreviver. São eles que nos fazem sentir um bocadinho melhor ao longo do dia, são os que escrevem e compõem músicas, os que escrevem os textos e diálogos das séries e filmes, são os que nos levavam ao teatro - e não, não são apenas aqueles "coitadinhos" que seguiram uma profissão que quase parece uma brincadeira - são pessoas com uma PROFISSÃO real, a tal que nos entra pelos olhos e ouvidos dentro, e que acredito, que talvez nos/vos tenha salvo a vida várias e várias vezes em momentos de maior desespero. 
Mais uma vez deixo o apelo. Há que repensar seriamente na forma como iremos todos ajudar para retomar a economia nacional sem esquecer todas as formas artísticas que também fazem mexer os bolsos do Estado, sabendo bem que nada será como antes, que não espero o retorno dos festivais musicais ou outros, onde imensa gente estará presente em núcleos. Será certamente necessário também perceber como irão os festivais do futuro, pós-Covid, ser organizados. Será aliás extremamente necessário saber e aprender a estar em determinados contextos culturais, de forma a evitar o pior. Até lá, e sabendo que amanha é uma segunda-feira, um dia especial e diferente, em que várias das limitações que nos foram colocadas, irão ser amenizadas, temos de pensar um dia de cada vez, passinho a passinho, de forma a todos termos consciência do que isto colocará em forma de peso, nas costas de cada um de nós. Isto ainda não acabou...

@baguy

@julianabezerra

@siennainspo

@art_pessoa

@GuajaStudio

Foto de Claudia Paiva Silva

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