“Não sou fotógrafa no sentido
clássico, as minhas imagens existem para servir diferentes propósitos daqueles
dos verdadeiros fotógrafos, não sendo completas ou conclusivas. Nem são
fotografias perfeitas no ponto de vista de perfeição técnica. Elas funcionam
não somente como imagem, mas como linguagem, como sinais apontando a algum
significado…”. É assim que Renate Graf, fotógrafa austríaca se define. Desde os
desertos de Marrocos, captando o detalhe das areias sendo transportadas pelo
vento no Atlas, às montanhas do Utah, nos Estados Unidos, passando aos festivais de cores garridas na Índia, onde consegue, mesmo
em fotografias a preto e branco, transmitir a palete cenográfica de rituais
culturais, Renate é acima de tudo uma coletora de momentos e memórias. Não
querendo colocar-se no mesmo estatuto que outros grandes fotógrafos, a verdade
é que Graf é uma das mais brilhantes fotógrafas mundiais. As suas imagens revelam
um cuidado e uma estética muito particulares, e sem dúvida que as mesmas,
tiradas em locais tão místicos, como templos hindus, ou misteriosos e inóspitos,
como as planícies de gelo na Sibéria, lhe auferem o estatuto dos Grandes.
Na verdade, Renate Graf começou
de forma simples a sua carreira em fotografia há pouco mais de duas décadas.
Somente após um amigo lhe ter oferecido uma Canon automática, e após começar a
viajar com o seu companheiro, o reconhecido pintor e escultor alemão Anselm
Kiefer, é que iniciou o hábito de fazer diários fotográficos. O essencial para
ela, é poder relatar os códigos culturais e a forma como os mesmos se vão
alterando no tempo e no espaço. De uma Europa pós Segunda Guerra Mundial, na
qual Graf cresceu, passando pela queda da URSS, chegando ao mundo globalizado e
multicultural dos dias de hoje, Renate declara que tenta sempre adicionar algo
ou uma palavra que proporcione uma ideia ou pensamento, ao mesmo tempo que
reconhece o desafio constante que as mudanças de Poder, de costumes e moral,
possam empregar nas suas imagens.
A viver atualmente em Portugal (Comporta, Setúbal), define o povo português como tolerante e musical, muito graças à influência das várias "energias" provenientes de outros países. Mas é o mar que, para ela, nos destaca entre os demais: "os portugueses não olham para a Europa, mas sim para o mar, o que torna tudo muito especial e é uma visão poética".
Quanto ao futuro, basta dar uma espreitadela à sua página de Instagram @renategraf: pensando em mover-se do registo em livro para filme, podemos já observar algumas imagens a cor e movimento, simples, feitas possivelmente com um intuito ainda "rascunho", fazendo lembrar Anton Corbijn (@antoncorbijn).
A exposição está patente até ao final de Dezembro no Palácio dos Anjos em Algés.
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