Renate Graf e a fotografia que faz pensar - Cláudia Paiva Silva

Tuesday, December 03, 2019

Renate Graf e a fotografia que faz pensar



“Não sou fotógrafa no sentido clássico, as minhas imagens existem para servir diferentes propósitos daqueles dos verdadeiros fotógrafos, não sendo completas ou conclusivas. Nem são fotografias perfeitas no ponto de vista de perfeição técnica. Elas funcionam não somente como imagem, mas como linguagem, como sinais apontando a algum significado…”. É assim que Renate Graf, fotógrafa austríaca se define. Desde os desertos de Marrocos, captando o detalhe das areias sendo transportadas pelo vento no Atlas, às montanhas do Utah, nos Estados Unidos, passando aos festivais de cores garridas na Índia, onde consegue, mesmo em fotografias a preto e branco, transmitir a palete cenográfica de rituais culturais, Renate é acima de tudo uma coletora de momentos e memórias. Não querendo colocar-se no mesmo estatuto que outros grandes fotógrafos, a verdade é que Graf é uma das mais brilhantes fotógrafas mundiais. As suas imagens revelam um cuidado e uma estética muito particulares, e sem dúvida que as mesmas, tiradas em locais tão místicos, como templos hindus, ou misteriosos e inóspitos, como as planícies de gelo na Sibéria, lhe auferem o estatuto dos Grandes.






Na verdade, Renate Graf começou de forma simples a sua carreira em fotografia há pouco mais de duas décadas. Somente após um amigo lhe ter oferecido uma Canon automática, e após começar a viajar com o seu companheiro, o reconhecido pintor e escultor alemão Anselm Kiefer, é que iniciou o hábito de fazer diários fotográficos. O essencial para ela, é poder relatar os códigos culturais e a forma como os mesmos se vão alterando no tempo e no espaço. De uma Europa pós Segunda Guerra Mundial, na qual Graf cresceu, passando pela queda da URSS, chegando ao mundo globalizado e multicultural dos dias de hoje, Renate declara que tenta sempre adicionar algo ou uma palavra que proporcione uma ideia ou pensamento, ao mesmo tempo que reconhece o desafio constante que as mudanças de Poder, de costumes e moral, possam empregar nas suas imagens.

A viver atualmente em Portugal (Comporta, Setúbal), define o povo português como tolerante e musical, muito graças à influência das várias "energias" provenientes de outros países. Mas é o mar que, para ela, nos destaca entre os demais: "os portugueses não olham para a Europa, mas sim para o mar, o que torna tudo muito especial e é uma visão poética". 

Quanto ao futuro, basta dar uma espreitadela à sua página de Instagram @renategraf: pensando em mover-se do registo em livro para filme, podemos já observar algumas imagens a cor e movimento, simples, feitas possivelmente com um intuito ainda "rascunho", fazendo lembrar Anton Corbijn (@antoncorbijn). 


A exposição está patente até ao final de Dezembro no Palácio dos Anjos em Algés. 




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