East End, Mulher e Sufragistas - Cláudia Paiva Silva

Sunday, March 08, 2020

East End, Mulher e Sufragistas



3 nomes. Uma região geográfica, um substantivo, um grupo político. 
Através da História, certamente que conhecemos alguns movimentos sufragistas femininos onde "Votes for Woman" ou "Equal pay for equal work" eram frases-chave na conquista de direitos. Certamente foram estas as principais afirmações que estão na base do Feminismo como se conhece até à data. Uma luta apenas e só por direitos e deveres iguais entre Homens e Mulheres, sem manifestações de uns serem mais importantes ou melhores do que os outros.
O que poucos sabem (e independentemente das afiliações políticas de cada um ou cada uma) é que o East End de Londres, bem como cidades como Manchester, (zonas tipicamente operárias com forte componente industrial) foram o seio dos primeiros grupos conhecidos dos movimentos feministas. 
Em Londres nas primeiras décadas do século XX, Sylvia Pankhurst, tornou-se a estratega do East London Federation of Suffragettes quando percebeu que o movimento feminino sufragista do qual também fazia parte "União Social e Política das Mulheres" - Woman's Social and Political Union, não tinha qualquer impacto real junto aos partidos políticos britânicos. Apoiando-se das suas capacidades intelectuais (e sem dúvida auxiliada pelo facto de pertencer à classe média-alta), fez do East End o seu porto de abrigo. Numa luta intensa pela liberdade e igualdade de direitos, pela possiblidade de voto da Mulher, foi várias vezes presa junto a outros colegas e não raras vezes fazia greve de fome para que as suas vozes fossem ouvidas. 
Coincidindo com o dia 8 de Março, o primeiro boletim da Federação de Sufragistas, editado em 1914, tinha como moto de desafio: "Some people say that the lives of working woman are too hard and their education too small for them to become a powerful voice in winning the vote. Such people have forgotten their own history". Uma rápida resposta a várias críticas que afirmavam que uma mulher da classe operária, trabalhadora ou não, não tinha capacidades para perceber ou saber escolher o melhor para si, para os seus pares e para o seu país. 
Embora fosse totalmente contra o envolvimento do Reino Unido na Primeira Guerra Mundial, durante a qual a maioria dos homens foi enviado para os campos de batalha passando as mulheres a terem um triplo desempenho em "casa", principalmente quando viviam em bairros de extrema pobreza, viu o império britânico a permitir o voto à Mulher em 1918 ao abrigo da reforma do sistema eleitoral implementado no mesmo ano. Na realidade, esta reforma não foi totalmente isenta de intenções; durante os períodos de guerra, pode-se verificar os vários estados que concederam o voto eleitoral às mulheres, uma vez que acabou por pesar nelas um esforço de guerra de maior impacto. Enquanto os homens lutavam, as mulheres acabaram por ter de conciliar as tarefas domésticas, tomar conta de filhos, passando também a ocupar os lugares vagos nas fábricas e outras atividades até então tipicamente masculinas (ou negadas à mulher). O Reino Unido foi não foi contudo dos primeiros países a conceder o voto feminino a nível europeu mas definitivamente não foi o último também (importa não esquecer que em Portugal, por exemplo, apenas após 1974 é que os direitos da "mulher" foram revistos - muito devido ao seu papel na sociedade mas acima de tudo, à sua intervenção dentro do espaço doméstico).
O que falta ainda então fazer para que este dia faça ainda mais sentido? Tudo! Continuamos a ter um longo caminho a percorrer de forma a que os direitos e deveres se tornem iguais. De forma a que não tenhamos sempre de ouvir que estamos a pedir, a procurar, ou porque estamos muito vestidas ou despidas, porque somos mães e porque não somos mães, porque é que não somos assim, ou mais simplesmente, porque é que somos como somos. 

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