Tordo e Companhia na Travessa - Cláudia Paiva Silva

Saturday, November 09, 2019

Tordo e Companhia na Travessa


Foi no passado dia 7 de Novembro na Livraria da Travessa que João Tordo (@joao_tordo) (e a Companhia das Letras/ Gosto de Ler (@gostodeler)) lançou o seu novo livro A Noite em que o Verão acabou. 

Foto: CPS


Rodeado de família, amigos e leitores vorazes da sua obra, observou também que ter Francisco José Viegas como ilustríssimo "padrinho" deste "pesado livro de quase 700 páginas" será sempre algo magistral, uma vez que o melhor representante (escritor) dos romances policiais nacionais iria claramente dissecar a história de forma a melhor defender João de toda e qualquer crítica que possa surgir. Primeiro porque este livro não é o típico romance do autor; aliás, é um thriller, ou melhor, é um policial na sua essência e já "estas definições são enganadoras porque parece que estamos a considerar géneros literários à parte do que é o comum" conforme descreve Tordo. Já Viegas dispara que, "o thriller é um género misto, que incorpora vários detalhes", quase uma intrusão à psique dos personagens, por vez do policial que é "malandragem pura e que não pode sequer existir sem que exista um detective". 
Não será então dificil perceber porque João escolheu Francisco para esta apresentação, embora Viegas tivesse dúvidas em relação ao resultado final da composição: "Honestamente quando soube que o João estava a escrever algo assim pensei que ia correr mal. Um autor com uma obra já tão bem conseguida, com prémios, a escrever um - na altura dizia - policial? Mas quando ficámos presos no aeroporto de Madrid por atraso num voo para o Chile e o vi tão concentrado a teclar, percebi que era uma coisa a sério. E é!" 

Foto: Companhia das Letras Portugal

Como o lema "Sexo, ambição e inveja" apenas para começar uma história que não deixa margem também à paixão assolapada entre a personagem principal Pedro Taborda e Laura Walsh (filha do magnata morto que dá origem à componente mencionada) e já agora, também de acordo com Viegas - que tinha todo um livro sublinhado, com post-its e saídas perfeitas para cada menção elaborada - a uma estranha obsessão de Pedro com os seios de Laura, várias vezes mencionada na trama, a Noite em que o Verão Acabou é igualmente um livro em que as personagens são dúbias, não sendo tarefa fácil ao leitor saber se são verdadeiras ou não, boas ou más, manipuladoras, embora Tordo tenha puxado o lado mais negro que cada um de nós tem impresso na alma. 
Francisco José Viegas foi ainda mais longe na sua avaliação global: "Pedro Taborda é um aldrabão. Um impostor." chegando mesmo a alertar-nos para "terem sempre em atenção das datas e dias em que a história toma lugar, porque os flash and forwards são imensos, o que é a formula exacta para compreender melhor tudo o que vai sucedendo." Para Viegas também não existem contemplações - um policial ou um thriller onde o leitor saiba desde logo quem é o assassino, que descubra o porquê, verá o seu dinheiro por mal empregue, não sendo normal (e eu concordo) que sejam os autores a fazerem a papinha toda. Há que pensar, há um Cluedo por resolver.
Já Tordo, na sua intervenção referiu que se inspirou em si mesmo para a criação da personagem principal, alguns detalhes, a adolescência passada no Algarve, os grupos de amigos. Acrescentou também que sendo o desenlace é importante, não o é somente pela resolução do caso, mas sim pela evolução do próprio Pedro Taborda, pelo seu crescimento pessoal à medida e na medida que também vai desvendando a verdade sobre a morte de alguém que ele conheceu. O desenlace, explicou, é importante para o reencontro que a personagem tem consigo mesma após uma intersecção de várias histórias que têm por base vários crimes: "trouxe-me imenso prazer esta história, ver como este miúdo, este Pedro, que é tão parecido comigo em tantos detalhes, no momento em que volta a casa e olha para o passado diz que tudo está ligado pela palavra Amor, tal como o sexo, a ambição a inveja. A diferença é que o Amor está em toda a parte e não pode ser encontrado, apenas sentido." Então, perante tudo isto, será que não podemos dizer que Francisco José Viegas estará enganado? Afinal é uma história de amor. 

Para mais informações consultem a sinopse/contra capa do livro, porque este texto também não é o que poderia parecer ser. E também não quero facilitar a vida a ninguém! 

Foto: CPS








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