Artur Pastor nasceu, cresceu e fez-se homem numa época difícil da memória portuguesa. O Estado Novo, entre o seu desígnio de evolução e o contraste abrupto com a pobreza dos bairros periféricos das grandes cidades, ainda mais gritante com o interior do país, deixou contudo algo de positivo para as futuras gerações: o registo fotográfico. Pastor (1922-1999) foi assim o ser que retratou toda uma população portuguesa que, nos dias de hoje, apenas em algumas regiões mais tradicionais de Portugal, ainda se consegue ver. Pescadores, varinas, crianças, cenas do quotidiano e estudos de laboratório científico da sua área profissional foram retratados desde que estava a terminar o serviço militar até ao momento em que se torna Engenheiro Técnico Agrário do Estado e posteriormente fotógrafo oficial do Ministério da Agricultura onde aliás, trabalhou toda a vida. Foram sempre estes os seus principais focos de objetiva, num espólio de mais de 10 mil imagens datatas desde a década de 30 até meados da década de 70 (arturpastor.tumblr.com).
Terminou hoje no Museu Municipal de Tavira a exposição dedicada ao seu trabalho com registos das regiões a sul do Tejo, Setúbal, Sesimbra e claro, Algarve, intitulada "Artur Pastor e os Mundos do Sul", uma coleção admirável contando com cerca de 100 fotografias, organizadas de acordo com variados temas - e onde se verifica também já uma certa militância para causas sociais, tendo fotografado as colegas mulheres e os estudos/ trabalhos por elas realizados em investigação agrícola.
Numa coordenação e cooperação entre a Câmara Municipal de Tavira e a Câmara Municipal de Lisboa, esta mostra faz parte de um magnífico espólio adquirido pelo Arquivo Municipal da capital à família de Artur Pastor a seguir à sua morte, o qual é cada vez mais procurado e solicitado pelas diversas regiões do país. O catálogo disponível (Catálogo Mundos do Sul) conta assim com os seus primeiros trabalhos desde 1942 poduzidos na sua máquina Rolleiflex em negativo a preto e branco 6x6 e sem dúvida que vale a pena adquirir.
Imagens incisivas e atentas aos pormenores de um Portugal que já não existe, e cuja memória colectiva se vai perdendo a cada ano que passa, são essenciais para relembrar de onde viemos e tentar perceber para onde queremos ir.
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