Romanos, Árabes e Judeus .... História Cruzada - Cláudia Paiva Silva

Thursday, July 18, 2019

Romanos, Árabes e Judeus .... História Cruzada

Aproveitando os feriados de Junho, acusei o cansaço que alguma instabilidade laboral me tem feito sentir e depois de muita indecisão (tão típica minha), acabei por rumar (ou ser rumada) até à Extremadura espanhola. 

Deixando Portugal através das cristas quartzíticas de Marvão, os imponentes relevos geológicos mais antigos do território luso, atravessámos a enorme planície castelhana entre a Serra de São Mamede e a Sierra de San Pedro, rumo a SE. Deixámos também a nortada para trás e começámos a sentir o embalo do vento suão, que nos acompanharia nos dias de viagem.



Marvão vista do Castelo




Marvão


Para quem, como eu, acha(va) que a planície alentejana é única, árida, com cor amarelo-torrado, típica, com fardos de palha aqui e ali, ou a perder de vista, certamente nunca cruzou caminhos serranos da Extremadura - o amarelo brilhante das searas a contrastar com o imenso azul do céu, chegam a ofuscar. E as estradas nacionais, em linhas rectas, sem outros carros, conferem uma imensidão espacial que novamente coloca em causa o nosso conceito de distância. E não, não é preciso ir para o Sul. É ali mesmo, entre a Beira Interior raiana e o Alto Alentejo, que a paisagem muda e acontece. 







Não querendo cair na tentação, mas já o fazendo, era óbvio que o percurso fronteiriço seria passado também a fazer pontos no mapa onde se encontrariam as principais judiarias, naquele que já é considerado um imenso tesouro histórico. Em 2013, o jornal Público publicou uma reportagem sobre o tema: Memória Judaica, na qual também se conta parte da História cruzada entre Portugal e Espanha, após os éditos de expulsão pelos Reis de Espanha. Já conhecendo os cantos "portugueses", não deixa de ser imenso passar pela Ponte da Portagem, tendo em mente que por ali passaram também milhares de pessoas, em famílias ou a solo, de vários credos e costumes, que não apenas o hebreu, mas também o árabe e  que mesmo ali foi local de mouros e romanos (Ammaia) muito antes dos cristãos. 

De, e em Espanha, contudo, não esperava muito, talvez porque, mais uma vez, a História seja feita de fugas, diáporas e destruição de memória posteriormente aos grandes "feitos!, bem como de alianças que nem sempre foram felizes, "nem bom vento, nem bom casamento". Mas Valência de Alcântara, mesmo junto à fronteira, agora despovoada de jovens, de indústria, de energia viva, de alento, e com casario para venda que nunca irá encontrar novos donos, apenas possui um dos melhores núcleos góticos: 16 ruas e 266 pórticos ou postas basculadas, com os típicos símbolos que tão bem caracterizam a casa outrora de cristão-novo. 


Igreja de Nossa Senhora de Rocamador - Valência de Alcântara


Bairro Gótico/ Judiaria de Valência de Alcântara


E claro, entre outras vilas e cidades de interior extremeño que não viemos a conhecer (ainda), também a caminho trilhado entre Cáceres e Mérida (o destino final), podemos encontrar Albuquerque, que, fizéssemos a viagem de olhos vendados pelo caminho, apenas abrindo quando chegássemos, poderíamos pensar estar em Castelo Branco, tal é a semelhança na organização do casco antigo, histórico, com as suas ruas íngremes até ao Castillo de la Luna, igualmente localizado no topo da serrania esculpida pela natureza a quartzo.

Castelo de la Luna - Albuquerque




Albuquerque




Igreja de São Francisco Xavier - Cáceres



Judiaria de Cáceres (Bairro de Santo António)




Chegando a Mérida, o cenário impõe-se romano. Com o Festival de Teatro à porta, começava a sentir-se a azáfama de preparar palcos no Anfiteatro Clássico, gente e mais gente de outras bandas na cidade - esta, muito diferente do que me lembro há 15 anos atrás, mais cuidada, mais limpa, mais cheia. Um Templo de Diana para ser re-descoberto, com centro de interpretação, a Alcazaba árabe que escondia até há poucos anos uma cisterna para recuperação de água retirada ao Guadiana, e cuja entrada observa a preservação e re-utilização árabes daquilo que previamente era de Roma.


Teatro Clássico Romano

Anfiteatro Romano











 
Templo de Diana
                                         
Capital da península, Emerita Augusta, evoluiu para um certo esquecimento após a queda do Império Romano a Ocidente, primeiro com a chegada dos visigodos, tornando-se depois parte do Califado de Córdoba, ganhando de novo outro fôlego e, posteriormente à reconquista cristã (1230), volta a ter o seu lugar, com o estabelecimento da Ordem de Santiago, passando a ser um caminho alternativo ao francês para chegar a Compostela.
É hoje novamente capital, mas da região autónoma da Extremadura. Importante local turístico, claramente histórico, continua a sua saga nas margens do Guadiana, onde se vai escavando o seu passado, construindo o seu futuro. 


Guadiana
















2 comments:

Anita said...

Adorei essa zona! Sem querer ferir susceptibilidades nacionalistas, era tão se fossemos uma Ibéria!!!! :)
By the way, se a geo flhar podes sempre dedicar-te à fotografia :)

Cláudia Paiva Silva said...

Ahaha! Obrigada! (Se bem que no que a fotos concerne, tens aqui uma mistura entre minhas e do dito cujo). Contudo, não me parece que fosse ter grande futuro na fotografia também.