Foi um filme que "apanhei" por acaso uma noite destas num canal de cinema. Vi já praticamente o final, mas percebi que se tratava de uma história sobre fotojornalistas ou fotoreporteres de guerra que se encontravam a trabalhar no início do conflito armado nos Balcãs. Basicamente entendi que seria um grupo a tentar recuperar um dos seus, após se terem separado por qualquer razão... A realidade do conteúdo não poderia estar mais longe da verdade. Quando Sarah descobre que o marido poderá ter sido morto por soldados bósnios, e após passar dias fechada num quarto a ver imagens em todos os serviços noticiosos, acaba por "identificar" um vulto, uma figura humana, deslocando-se de costas para a cidade de Vukovar, na Croácia. Acreditando tratar-se do marido desaparecido resolve por auto iniciativa chegar até ele, como prova a tudo e a todos (incluíndo a família) de que ele não morreu. Mãe de duas crianças, promete ao filho mais velho regressar em breve, com o pai, obtendo como resposta de que o filho iria cuidar das flores enquanto não regressassem. Em 1991, aquilo que para o estrangeiro parecia ser apenas um problema interno, acaba por demonstrar-se bem mais complexo do que se pensava. A chacina ocorre logo ao passar a fronteira com a Austria (aqui tão próximo), e inclui mulheres e crianças, violações e tiros à queima-roupa por grupos guerrilheiros sem qualquer ponta de moral ou arrependimento. Sarah em breve junta-se a dois colegas e os três partem para o extremo Este do país, sabendo à partida e à chegada que podem ser igualmente mortos a qualquer instante. Não há bandeiras ou panos brancos que os possam salvar, muito menos o facto de serem americanos ou de outra nacionalidade, ou jornalistas. O filme em si pode não ser nada de especial. A interpretação supostamente principal de Andie MacDowell, não lhe levariam sequer a ganhar o prémio de melhor actriz da "rua do meio", em contrapartida quando falamos nos secundários, como Adrien Brody e Brendan Gleeson, falamos de grandes actores que transformam uma simples sinopse numa obra documental tão bem realizada que parecia uma reportagem em directo, feita no preciso instante. Aliás, todo o cenário ganha uma força convicente que até arrepia, e quando o vi desde o princípio foi mais um murro no estomago, só comparável à Lista de Schindler ou Império do Sol. Falar sobre a guerra é uma coisa, mostrá-la, mesmo ficcionando e bem, será obviamente outra. E não nos podemos esquecer que este conflito foi há bem pouco tempo e as feridas não estão, nem pouco mais ou menos saradas. Vukovar, cidade a Este na Croácia, é acima de tudo bósnia, com uma pequenas fracção de croatas. Não só os vestígios da guerra ainda por lá se vêem, como os próprios habitantes estão dispostos a disparar uns contra os outros se for preciso. Em quase 10 anos de guerra, resta a liberdade para algumas nações, mas muitas "minas" foram colocadas para outras.
Antonio Tabucchi
4 weeks ago
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