Dentro do mesmo estilo histórico/documental, podemos falar do livro "As Memórias do Livro" da autoria da jornalista australiana Geraldine Brooks. Desde o séc. XIII até aos dias de hoje, é-nos dado a conhecer a história de um livro muito especial e venerado pela comunidade judaica: a Hagadá de Sarajevo, um manual que se aproxima do Talmude, relatando a religião hebraica segundo iluminuras, algo completamente impossível para aquele povo. Escapando das mãos da censura da Inquisição, muitas vezes através do auxílio de muçulmanos e culminando na Biblioteca de Jerusálem, esta obra relata as pessoas que a criaram, que a foram construíndo aos poucos, revelando os seus segredos a partir de uma hábil investigadora, que com este seu trabalho irá descobrir muito sobre si mesma. Numa época em que judeus, muçulmanos e cristãos se entendiam (dinheiro, cultura e trabalho), houve quem se tivesse unido gerando algo que unifica as três principais religiões do mundo, sem qualquer interesse por detrás. As Memórias do Livro é daqueles títulos que não só são sugestivos, como ensinam imenso ao mesmo tempo que nos leva a mergulhar no melhor que a mente humana tem para ficcionar cenários históricos, a partir de excelentes bases reais. Poderá servir de "intermezzo" para tentar perceber melhor o que correu mal com estas gentes e compreender até que ponto as guerras unem e separam as pessoas, outrora amigas e confidentes. Mais uma vez redigo o seguinte: a última grande guerra europeia terminou há pouco mais de 13 anos, e foi mesmo ao virar da esquina. Portugal tem, por vezes, a sorte de estar realmente na "ponta" da Europa.
Antonio Tabucchi
4 weeks ago
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