Marcelo telefona a Cristina e a casa quase foi abaixo... - Cláudia Paiva Silva

Monday, January 07, 2019

Marcelo telefona a Cristina e a casa quase foi abaixo...

De tantos assuntos deveras mais importantes que poderia aqui escrever, não tenho como escapar ao que de facto parece ser mais interessante na vida cultural e televisiva portuguesa. Se na semana passada foi o Mário Machado ter sido convidado ao programa do Goucha, ou o Goucha na véspera de Natal ter entrevistado o Presidente da República, hoje cai "o Carmo e a Trindade" pelo Presidente ter telefonado em directo para o novo programa da Ferreira, sem ela estar à espera, para lhe desejar tudo de bom no novo programa. Há quem lhe chame de populismo, há quem lhe chame de narcisismo, há quem lhe chame chamariz de audiências, há quem pense (e aí concordo mais) que se calhar o PR poderia ter também este tipo de atitudes para com outros programas, apresentadores, ideias, conceitos, conteúdos televisivos, etc.. Porque a verdade é esta, por muito bons que sejam a Cristina ou o Goucha, ou a Furtado, ou o Malato, ou a Ribas, ou seja quem forem os apresentadores e equipas técnicas por detrás de tudo aquilo, o presidente não se pode esquecer que, apesar de toda a sua boa vontade, já deixou há uns anos de ser comentador televisivo, passando a sua responsabilidade prática e social a serem outras. Não estou nem a favor, nem contra - acho aliás, que mais cedo ou mais tarde terei de escrever algo sobre a Cristina Ferreira, porque realmente é espantoso como ainda dizem que as mulheres, para chegarem a determinado patamar, precisam de subir (quase obrigatoriamente) pela horizontal, e não admitem que possam ter uma valia, inteligências, força de trabalho, preserverança, eficácia, tão enormes como as dos homens. Se a Ferreira fosse O Ferreira, de certeza que ninguém comentava, ninguém falaria do salário (e caso fosse possível, cada aventura romântica desse mesmo senhor imaginário, seria vista como façanha de homem que não assenta, mas que nem por isso deixa de ser de valor e trabalhador, e até mesmo, muito boa pessoa). 


Não, meus caros, antes que atirem pedras à Cristina ou ao Marcelo, deveriam era perguntar porque razão o Mário Machado teve direito de antena num programa visto por uma enorme parte da nossa população? Isso sim populismo directo e intencional numa época em que se observa um mais crescendo nos grupos, ideias e ideais de extrema direita, com premissas que, por sermos politicamente corretos, dizemos abominar, mas por detrás das cortinas da casa, sentadinhos no sofá ou com contas falsas de Facebook, somos dos primeiros a dizer que os gays são uma desgraça para a sociedade, que as mulheres deveriam estar cada vez mais recatadas, que entre homem e mulher não se mete a colher e que por cada português eram precisos 10 Salazares. 
O que é que interessa se o Professor Marcelo ou Presidente Marcelo telefona à Cristina ou é entrevistado pelo Goucha? Nada! Ou quanto muito, falarmos sim, mas pelos motivos acima - não é criticar pelo simples gosto de criticar, porque é bom dizer mal e sentimo-nos superiores por insultarmos os outros. Até porque, por detrás de cada insulto grave que leio, vejo muita inveja e aspiração frustrada; exactamente: vejo frustração. As mulheres que gostariam de ter sido mas porque a vida, ou por opções próprias ou por exigências familiares/ sociedade/ sociais e enconómicas, nunca conseguiram fazer nada de extraordinário, os homens, porque vivem frustrados em relacionamentos monótonos, e gostariam de ver mais Mulheres  - REALMENTE - capazes em casa, ou no local de trabalho, e mesmo quando as vêem têm medo - e o mais fácil é cair na malidicência ordinária e óbvia. 
O que deveria de acontecer, era por cada homem, nós sermos 10 Cristinas Ferreiras em potência ou, para não dizerem que estou a exagerar, deveríamos querer fazer mais com as nossas valias enquanto respresentantes do género Feminino, com o que sabemos fazer, e não é preciso sempre ou quase sempre ter um curso superior (porque muitos homens também não o têm). Porque às vezes é preciso subir a pulso, engolir comentários e perceber que as atitudes ficam para quem as pratica. Sermos preserverantes e lutarmos (taco a taco no grau de trabalho e de capacidades), exigirmos os nossos direitos quando e só quando concretizamos determinados patamares  - não será justo Mulheres e Homens terem os mesmos resultados se não estão ao mesmo nível. Mas acima de tudo perceber mesmo, que na vida, no trabalho, na amizade e no amor, nem sempre vale tudo, e nem sempre se deve confiar em toda a gente. 

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