December 30, 2018
BY Cláudia Paiva Silva 0
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Ainda antes do ano fechar as cortinas do seu acto, achei interessante pegar neste tema tão antigo como moderno, uma vez que nunca, em nenhuma época histórica, nunca em nenhuma década de maior ou menor resultado científico, tecnológico ou filosófico, se conseguiu chegar a qualquer conclusão.
Podemos atribuir a uma questão de sorte, de química, de física, de equilíbrios neurológicos que passam pelos sentidos humanos (e não só), aos deuses do oculto, ao oculto em si, mas o certo é que, tal como a amizade, o amor não é explicável, não é fácil sequer. Sim, o Amor não é apenas uma doença como diriam os Ornatos, o Amor é sim complicado, matreiro, e realmente, muito difícil, tanto de cuidar e manter, como às vezes, de encontrar.
Este ano, nomeadamente neste último trimestre, uma vez mais a televisão nacional, à procura de audiências e escândalos, fez-nos o obséquio de nos presentear com a versão lusa de uma fórmula internacionalmente conhecida: gente que eu quero acreditar serem especialistas nas suas respectivas áreas de psicologia, terapia, psiquiatria e outros, tentam "juntar" almas que se adivinham serem "gémeas". Não é chocante. A ideia não será certamente nova - afinal poderão existir vários meios e métodos para se encontrar a outra metade da laranja, seja nos jantares dos amigos, nos bares, nos copos à noite, nas redes sociais à distância de vários cliques (e com alguns grandes riscos na mesma medida). Aliás, nem me choca que hajam vários e várias a concorrerem a este tipo de programas, que, também quero acreditar, o façam sem ser por protagonismo ou pelo dinheiro que ganhem (que não é assim tanto quanto isso, diga-se desde já). O curioso é que realmente, hoje em dia, continua a ser completamente impossível compreender os sentimentos de Amizade e de Amor. Tanta investigação, tantos tratamentos encontrados, tanta evolução e conhecimento, e não há ninguém que nos possa explicar concretamente a razão que faz com que duas ou mais pessoas ganhem laços tão fortes que possam durar uma vida toda.
Estive igualmente a ler o artigo escrito pela Catarina Fonseca na Revista Activa (Janeiro 2019), sobre as amizades improváveis, ou seja, casos em que pessoas tão diferentes entre si acabam também por se tornarem grandes (e fortes) amigos. Às vezes basta a forma como estão lá para nós em determinadas fases da nossa vida, o tipo e a forma de apoio que nos dão em momentos (geralmente) maus e negativos que estejamos a passar. Noutras ocasiões é uma questão de empatia, de objectivos em comum, de to-do-lists que fazem sentido em conjunto; e outras vezes apenas entram porque têm determinado lugar e porque têm algo a fazer, a modificar em nós, e da mesma forma que entram, saem. Para sempre. Aquelas pessoas que às vezes nos lembramos, que ficamos a inquirir o que é feito, qual foi o seu rumo a seguir - e ficamos exactamente aí. Na pergunta, porque na verdade e no fundo, sabemos que já não fazem mais sentido no rumo que, entretanto, nós, após a sua retirada, decidimos seguir.
No que concerne o Amor, as coisas pioram. Porque o Amor poderá não ser bonito. Poderá e deverá doer - e isso acontece mesmo naquele que dura a vida toda, mais tarde ou mais cedo, dói. Muitas vezes requer que se façam escolhas, que nos esqueçamos de alguma parte interior nossa, que haja flexibilidade e compreensão. E hoje em dia, num mundo rápido, num mundo que não está para esperar, porque as pessoas, os humanos, já não sabem parar e esperar (mesmo aqueles que vão para longe com ideia de "desaparecer", acabam sempre por lá publicar uma foto ou outra do estado zen em que supostamente se encontram), será que há quem tenha paciência para conhecer o par. No programa acima mencionado, o que mais se vai verificando (e isto pelos poucos minutos que perco volta e meia em ver), é que, além de não terem acertado na fórmula mágica (nem de Amor e em alguns casos, nem tão pouco de Amizade) é que não há respeito. Sim, é mau o suficiente conhecer o marido/mulher no dia do enlace, e tudo poderá começar a correr mal logo ali - porque a empatia geralmente é imediata, ou aquela pessoa te chama a atenção ou não (já que aconteceu ir a uma festa com a ideia preconcebida, dada por um familiar de uma amiga, que o fulano X seria perfeito para mim, e no entanto, mal entrei, bati de olho no fulano Y e foi exactamente esse que também me achou piada), mas é mais complicado quando no dia a dia, no convívio, não há espaço para entendimento quando as pessoas já têm os seus ideais de romance, o que querem num parceiro/a e afinal está tudo ao contrário, e nada é como eles imaginaram e o egoísmo é tão mais mensurável que também não há mais por onde continuar.
Não, não acho que seja uma fórmula retrógrada - e isto é outra questão. As pessoas, na época actual, estão na verdade sedentas por companhia. Não há quem consiga imaginar-se a viver sozinho (de uma forma geral são ideias muito enraizadas por uma sociedade que se diz moderna, mas que também aponta o dedo a todos aqueles e aquelas que aos 30 e tal anos ainda são solteiros ou vivem uma vida mais independente), há um medo tremendo de se morrer sozinho um dia mais tarde. Contudo, todos nós iremos morrer sozinhos, de uma forma ou de outra. A diferença é se teremos alguém a lembrar-se de nós com carinho e saudade, ou não. E de certa forma acho que o Amor é exactamente isso, aquilo que transmitimos de Bom aos outros e que os outros poderão reconhecer em nós. E que também pode acabar de forma como começou. Pelo menos o Amor apaixonado. Porque o outro, quando há, dura sempre, quando é verdadeiro, é para a vida, e como diz lá no Livro, tudo Perdoa.
Mas não, não haverá uma fórmula para o descrever. É sentir.