O que se leva desta vida - Cláudia Paiva Silva

Thursday, December 27, 2018

O que se leva desta vida

Com a idade fui perdendo a paciência. Com a experiência percebi que as minhas batalhas pessoais são somente isso - batalhas pessoais, as quais ninguém quer saber, ninguém quer ler, ouvir, ou aprender. Então, além da paciência, desisti de querer mudar o mundo. Já não era sem tempo. E se me permitem, os últimos anos podem ter sido muito maus, 2018 não foi muito diferente. Fiz tanta porcaria, vi tanta desfaçatez, máscaras a cair, pessoas a mostrarem realmente quem são, vi-me envolvida em tricas que só terminaram mal (para mim claro), a mentirosa, a feia, aquela a quem se perdeu a confiança. Enfim, mais do mesmo, mas com a minha certeza que seja o que for que aí venha, quero apenas e desejo apenas sobreviver um dia de cada vez. Só isso. 
Em 2018, até à data, o que levo é que às vezes, para que alguns possam Viver, outros têm de morrer. E como é às vezes tão fácil perceber o que é incorrectamente correcto. O filme A Star is Born é o terrível exemplo do excepcionalmente maravilho e triste. É uma alegoria moderna. É a constatação de que a vida não tem de ser perfeita (nunca é perfeita e desengane-se quem achar o contrário), e que as coisas podem nem sempre correr bem. 2018 voltou a trazer-me sensações de perda, de tristeza e culpa tão profundas que me pareceu que algumas situações passadas, camufladas por outras agora bem mais recentes, nunca passaram - tenho a certeza que nunca passarão. Porque marcou-me profundamente, porque me transformou, porque me matou por dentro. E sim, é isso que 2018 me ensinou, metade de mim morreu lá atrás, e não mais vai renascer, por muito que eu tente ou que tentem compensar o peso na balança.
2018 ensinou-me também que estamos num crescente avanço de racismo, extremismo, generalização de massas e de pensamentos estranhos e irracionais. Deveríamos ter noção que os actos violentos contra pessoas de outras raças e credos, embora nascidas e criadas nos países ditos culturalmente superiores, irão crescer mais e mais, e que mesmo entre pessoas da mesma cor de pele comece a haver nova elitismo, separação por estratos sociais, contas bancárias, pedigree familar. 
Tenho plena consciência que os movimentos neo-feministas que terão nascido, certamente, pelos melhores dos motivos, estão a dar origem à própria segregação das mulheres numa série de acontecimentos. Que querermos tanto sermos respeitadas nos vai levar novamente a uma retrogradação geracional. Que tudo pelo qual andamos a lutar, só resulta em mulheres a maltratarem outras mulheres. 
2018 ensinou-me que, tal como escrevi ao início, não merece a pena falar ou ensinar aqueles que não querem aprender, que têm cada vez mais as suas ideias e ideais enraizados, pequenos ditadores com dogmas e tabus. 
2018 ensinou-me também que apesar disso, continuo a lutar pela cultivação das Ciências da Terra, embora a Geologia se tenha tornado um fardo demasiado pesado para a sociedade moderna.
Mas também 2018 me deu a perceber que se calhar está na hora de mudar de vida. De rumo. Que se calhar posso fazer tão e tanto mais do que faço até agora. 
O que se leva da Vida não é aquilo que ela nos dá, mas sim aquilo que nós queremos fazer dela. E eu ainda estou a aprender e a conhecer o que quero dela. 
Por agora, apenas e só, Sobreviver. 

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