Entrei na Cordoaria Nacional (situ Belém, Lisboa) por 13 euros - incomportável para 1) uma exposição que nem sequer é oficial, nem é apoiada pelo "artista" e 2) para os bolsos nacionais; no feriado de 15. Não foi portanto de admirar o número exponencialmente elevado de turistas estrangeiros por comparação com as almas lusas.
A sensação imediata que tive foi de ironia - não apenas a ironia de Bansky com as suas reflexões sobre o mundo moderno (desde 2003 na cidade natal em Bristol, espalhando-se pelo mundo até aos dias de hoje) - mas principalmente a minha. É impossível sermos assim tão anti-sistema, é impossível sermos tão ativos politicamente, embora digamos que não queremos nada com a política e que o objetivo é estarmos claramente contra aqueles que nos controlam, nos desenham a régua e esquadro.
É claro que eu acredito na queda da civilização ocidental (basta ver o que aconteceu com a greve de motoristas de pesados na Páscoa), mas também sei que à segunda volta, quase ninguém vai nisso (basta ver o que aconteceu com a greve de motoristas de pesados que irá terminar oficialmente hoje às 23.59 horas).
É claro que acredito que a macacada irá governar o mundo: Trump, Maduro, Johnson, (inserir outros). Oops, já lá estão até.
É claro que acredito que é preciso haver uma mudança no paradigma da energia mundial e do seu consumo, mas também basta ver que o tal colapso de civilização acima mencionado, está directamente relacionado com a possível falta de combustíveis fósseis - long live hypocrisy!
Mas a isso chama-se bom senso - não é preciso ser-se anarca para se perceber o contexto em que vivemos: consumismo e capitalismo.
Não é preciso ser-se anarca para dizermos as verdades e mais, SABER a verdade, mesmo que queiramos olhar para o lado e achar que aquilo não é nada connosco. Estas de férias num resort nas Baleares e vês botes salva-vidas a afundarem com migrantes junto à praia - é horrível, mas não é nada contigo.
Sabes que há crianças que devido às várias e variadas guerras não têm o que comer, mas preferes gastar dinheiro num par de sapatos ou numa mala nova, para juntar à coleção que não usas (sou igual, não seria hipócrita a apontar todos os meus dedos e dizer que não faço o mesmo).
Não é (grande) segredo o que penso da situação e do conflito Israel-Palestiniano. Talvez tenha sido a parte da exposição onde demorei mais tempo, onde foquei mais atenção, onde tirei fotos (não me interessa que aquilo seja tudo fac-simile) e tirei mais fotos dentro das fotos que tirei. Aí o anarca Bansky torna-se realmente artista - e a sua ironia passa a ser realmemte uma arma bem colorida pintada num muro feio, cinza, enorme. Um hotel com vista para aquela zona que não pertence a ninguém, mas que no fundo pertence a todos nós (judeus, árabes e cristãos). Top, meus caros, TOP!
Tal como não tenho palavras para o The Holocaust Lipstick - deveriam todos os portugueses serem obrigados a ler aquela descrição junto à imagem. Mas, mais uma vez, era ver os estrangeiros todos parados e emocionados, e os nacionais, a nem lerem sequer. Dói. Tudo dói, mas doi-me mais a falta de vontade, a preguiça humanas.
Fnalmente e claro, partindo da premissa do autor que o capitalismo destrói e que não há maior inimigo do que aquele que acha estar a fazer as coisas com a melhor das intenções, preparem-se: mesmo antes de saírem, ainda levam com merchandise. Sim, levam exactamente com tudo aquilo que é o oposto ao que Bansky apregoa - mas levam. E pior, param e compram (aí, peço desculpa, mas não sou igual, não seria hipócrita a não apontar todos os meus dedos a quem se identificou com a mensagem, mas mesmo assim leva a t shirt, o saco de pano, ou a caneca - pelos vistos os 13 euros afinal não custam tanto a sair do bolso).
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