Não é que o nosso dia a dia não seja igualmente verdadeiro e importante. Que o é, claro. Mas será apenas para nós. Para o nosso grupo restrito de pessoas próximas e pouco mais. Que quando confrontados ou confrontado algo ou alguém com as nossas pequenas crises diárias não sejamos logo, mas logo, bombardeados com o já famoso "há gente que tem mais e maiores problemas que tu!". E é totalmente verdade. Quando eu ando com as minhas (cada vez mais pequenas em tempo, mas maiores em profundidade) "cenas", não há nada melhor do que ler e ver nas notícias que ocorreu mais um homicídio por violência doméstica, que os EUA andam ansiosos por mais uma guerra - o que é interessante porque começo a perceber que há qualquer coisa de patológico nisso, era como se fosse uma vício do qual não se conseguem libertar e, para resolver, há sempre um país desgraçado, em risco, que precisa de ser "salvo"-, que me sinto logo "muitíssimo melhor", afinal há tanta desgraça no mundo que a minha por comparação é mesmo mesquinha. E então é sobre esses assuntos importantes à escala global que agora aqui me trazem. Temos a tal situação na Síria, que seria um erro (na minha opinião) crasso e um tiro no pé aos States (que isto de quererem contornar ordens e leis internacionais não será uma grande ideia). Rebentarem uma guerra de proporções catastróficas do ponto de vista de arsenal e armamento à beira do Mediterrâneo, com uma Europa que não se quer, definitivamente, meter no assunto - seja porque motivos forem -, traria consequências muito, mas muito graves para a política e credibilização norte-americanas. Fora o impacto económico mundial que daí iria resultar. Um capricho dos americanos ainda conseguiria afundar mais alguns países (como Portugal, sim, como a Grécia, Espanha, Itália, etc.).
Mas acho que a "melhor" notícia de todas, a que fez realmente respirar de alívio, foi o choque que senti quando volto a ler (de vez em quando tenho uns reencontros destes) que no Iémen, uma menina de 8 anos morreu devido a "graves lesões intra-uterinas" após ter praticando o "coito" com o "marido" 5 vezes mais velho que ela. Com menstruação ou não, para mim, até aos 15 anos, as meninas, SÃO MENINAS. Lembro-me de ter lido o Vendidas e Uma promessa a Nádia quando tinha 12 anos. Marcou-me e alertou-me para um problema sério que realmente existia no mundo e o qual, eu, obviamente com aquela idade, desconhecia. Não que não soubesse de casos de pedofilia. Simplesmente não sabia que este tipo de situações eram tidas como normais e culturais em locais do globo em que as pessoas quase que viviam em cavernas. E mesmo assim, mesmo com alguma evolução, mesmo com a exposição mediática dos casos, continuam a ocorrer homicídios (não menos que isso) nos desertos de África, do Médio Oriente. E quando existe a conivência da família da vítima, não é nem cultura, nem tradição de um povo. É simplesmente um crime planeado com antecedência. Que deveria (num país a sério) ser julgado e condenado. Contudo, quando regressamos ao "nosso" espaço de mundo real e "local", e quando lemos que o número de vítimas por violência doméstica tem vindo a aumentar, quando sabemos dos casos constantes de abusos sexuais de menores, temos de reflectir se seremos assim tão diferentes dos "nativos territoriais" de outros cantos. Se calhar não somos e não é o facto de termos uma casa, um automóvel, vivermos em Democracia com liberdade, e emancipação feminina generalizada que nos torna mais do que os outros. Pelo contrário. Exactamente por termos direito a tudo isso, mas agirmos da mesma forma, só nos torna mais atrasados do que eles, inferiores.
Isto é que é uma constatação da "vida real"...
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