Por Alexandre Borges do blog: sinusitecronica.blogs.sapo.pt
O estranho caso de Amy
Pedindo permissão ao NMG por persistir no assunto.
Agora, soará a piada de mau gosto, mas sempre achei que o problema de Amy Winehouse não seria bem a droga, mas os dealers. Vejamos David Bowie, Iggy Pop, todos os Rolling Stones, Ozzy Osbourne, toda essa gente que consumiu hectares de plantações e laboratórios durante décadas e ainda aí está, pronta para nos enterrar. Amy andou, desde cedo, a fazer qualquer coisa terrivelmente errada.
O mais chocante na notícia da sua morte não é a notícia em si, mas o facto de todos, há tanto tempo, a esperarmos. E tenho dificuldade em livrar-me dum certo sentimento colectivo de culpa nisso. Como aquela gente que assiste, impávida, a um crime.
Nos últimos anos, todos fomos espectadores da morte lenta de Amy Winehouse. Da decadência galopante, do desastre. Amy foi estrela durante um centésimo de segundo; todo o resto do tempo foi estrela cadente. O público não a seguia pelas canções. O público gostava das canções – nenhuma dúvida acerca disso – mas essa Amy artista, essa Amy da obra, era há muito tratada como coisa póstuma. Ela já tinha sido. Agora, era seguida como fantasma de si mesma, à espera do acidente. Amy Winehouse não tinha público; tinha voyeurs. Não tinha espectadores, tinha visitantes do Zoo. Gente grotescamente à espera de qualquer acrobacia exótica.
Espanta-me, com toda a franqueza, que tanta figura inunde agora sites e jornais com declarações acerca do quanto eram amigos de Amy, do vazio que sentem, da memória da pessoa maravilhosa, et cetera, et cetera, et cetera. Toda essa multidão de amigos não serviu de nada. Nem a família, nem os agentes, nem a inominável gente que lhe agendou uma tour cancelada ao primeiro concerto, ainda há um mês. Nem o cretino, quem quer que tenha sido, que terá dito “não, não. Ela agora está óptima. Podem vender bilhetes à vontade. É à confiança.”
Como foi que toda essa gente falhou? Como é que o mundo inteiro não conseguiu salvar uma só rapariga? Uma figura tão frágil que durante tanto tempo todos fomos vendo cair?
Algures pelo caminho, lixámos violentamente os nossos códigos morais.
3 comments:
A parte da culpa colectiva passa-me um bocado ao lado mas tenho de dizer que, efectivamente, ela deve ter feito algo muito mal. Porque não faltam por aí consumidores de substâncias ilícitas a durarem até terem rugas (mais ou menos precoces, ok, mas antes isso que 5 palmos abaixo da terra!). Nunca tinha visto a coisa por este prisma, não.
Eu tenho para mim (olá olá... fui há dias ao blog e achei-o mortiço! qué passa??) que não foi erro "técnico de dosagens" até porque a autopsia não revelou estupefacientes.. tenho a ideia que o coração dela é que não aguentou mais esforço algum que ela fizesse.
O Aquário anda ao abandono, pode ser que não por muito mais. Quanto à Amy, é verdade, não havia drogas - daquelas que testaram, e suspeito que tenham sido bastantes - é capaz de ter sido o corpo que já não aguentou mais.
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