Para muitas é uma perca de tempo. Com tanta coisa para se fazer, não se perdem minutos preciosos a ver uma merdice destas na televisão, muito menos quando se trata de uma novela brasileira de merda. Bom, por acaso a última que vi (e gostei) chamava-se Paraíso Tropical (2007), e apresentou ao mundo português um magnífico rapaz que, por acaso começou com o pé direito a interpretar o vilão. Mas a isso já chegaremos.
Estava a dizer que a maioria das pessoas com quem me dou afirmam que não vêem este tipo de coisas porque não merecem a pena. Talvez tenham razão, mas eu vejo quando gosto, mesmo que seja uma história escrita em cima do joelho.
Viver a Vida é isso mesmo, uma história que começou muito bem, a ser filmada em Maio/Junho em países do Médio Oriente e tal, que parecia ser mais uma daquelas (via Manoel Carlos) com tudo para ganhar. Agora sabe-se que o autor, com 70 e tantos anos, não é nem um Saramago, nem um Lobo Antunes, escreve muito devagar…tão devagar que os episódios chegam a ser transmitidos no mesmo dia em que foram gravados.
Mas a ideia aqui é de classificar as personagens; alguma principais, outras nem tanto. E para mim, uma novela que no país de origem já está quase a meio, não reserva muitas surpresas. Se reservar é porque realmente está a ser muito mal redigida.
Helena (Taís Araújo): é a típica não-heroína da história. Geralmente o autor costuma utilizar sempre uma Helena nas suas histórias, mas de há uns anos para cá, estas têm-se tornado fraquinhas, deixando sempre o mega protagonismo para as rivais/vilãs. Este deve ser o caso (quando finalmente aparecer (?) uma inimiga público-privada). Helena tem tudo para ser feliz, é uma famosa modelo internacional, conhece grande parte do mundo, tem dinheiro suficiente para viver bem e para ajudar a sua família, teve já os seus romances e problemas também e diz ser independente. Realmente parece, mas quando chega à parte do casamento e marido, o caso muda de figura e esta Helena perde diálogos, passa para 2º plano. Um fracasso enquanto personagem.
em relação a esta personagem só posso dizer que ainda bem a Lília Cabral nunca ter sido escolhido como Helena destas novelas. Não faz o papel de malvada, mas sim de mulher madura que se divorciou ainda gostando do marido, que vê o mesmo casar com uma mulher mais nova que, vejam só, tem a mesma profissão que ela teve um dia e que, a pedido do legítimo esposo, deixou de lado. É daquelas pessoas que nós compreendemos os sentimentos, as perdas, as angústias, e até lhe damos razão quando é hora de atribuir culpas pelas desgraças. É das melhores personagens conseguidas para esta novela e rouba, sem qualquer dúvida o brilho que Tais Araújo poderia ter.
Luciana (Alline Morais): esta é fácil. Mimada, filha de pais ricos, gira, gira e gira, modelo, com um namorado q.b.; vai fazer um desfile na cidade de Petra, na Jordânia porque Helena, a nova mulher do pai e amiga/colega/rival das passereles assim pede ao agente das duas, mas não sabe que a razão é essa. No regresso sofre um brutal acidente onde (só ela) fica magoada. Para quem vai ver a cena aviso o seguinte, no meio de toda a confusão, são várias as raparigas que andam aos trambolhões tipo máquina de lavar. Só a Luciana é que fica mal. Chama-se a isto ter azar, muito azar com a personagem. Digamos que de certa forma, a Lu, é a desgraçadinha da história que serve de mote para o título da novela. (Todas as novelas do Manoel Carlos têm tido uma componente moral forte, ou assim ele pensa).
Renata (Bárbara Paz): namorada de Miguel, o médico. Louca e viciada em álcool. Como também quer ser modelo ou actriz não come para emagrecer, trocando comida por bebida, dando origem a momentos embaraçosos. É, contudo muito humana e perspicaz, e quando sabe que está a mais retira-se sem fazer quaisquer ondas. É totalmente insegura e com uma auto-estima pior que a minha, mas quando Osmar lhe dá a oportunidade da vida dela, torna-se um pouco mais confiante. Por agora tem-se portado bem (episódios no Brasil), já não bebe tanto (que isto não era assim, de um dia para o outro) e vai fazer a campanha publicitária de uma marca de roupa, embora continue com inúmeras inseguranças.
Vamos aos homens que até à data são os mais importantes:
Marcos (José Mayer): caramba! Péssimo marido. Já o era na época de Tereza, quando a traía a torto e direito dando origem a filhos bastardos e tudo. Assim que vê Helena a caminho do estrangeiro (ainda que contra gosto) enrola-se com uma tipa que encontra em Búzios (zona de praias a 2 horas do Rio de Janeiro, se para Norte ou Sul, é-me completamente irrelevante); bonito que agora a gaja está grávida. Portanto, para mim, e pelos vistos para Helena também, a fidelidade é uma coisa séria, importante, que não deve ser perdoada. Quando ela souber, vai ser giro. E ainda “só” estamos no episódio nº 82.
…. Deixa-me ver mais homens… ah sim, claro!
Miguel (Mateus Solano): até poderia escrever sobre a personagem gémea, Jorge, mas como é interpretado pelo mesmo actor (que deveria receber salário a triplicar pela quantidade de cenas que faz como irmão de si mesmo) e não lhe acho muita piada (é o ainda-namorado da Luciana, arquitecto, sempre de sobrolho carregado, um bocadinho beto na forma de vestir) não falo mais do que já falei. Miguel é, por seu turmo, uma ternura. É médico, tem paciência infinita para a Renata (Bárbara Paz) que sofre com alcoolismo, é giro, giro e giro, bem mais leve do que o irmão e, antes do acidente com a Lu, andava sempre a meter-se em confusões com o mano. É o típico namorado de família bem, mas sem dar estrilho por isso, que todas as raparigas querem, mas não podem ter porque geralmente já várias outras também andam a rondar o pitéu.
Bruno (Thiago Lacerda): é filho ilegítimo de Marcos e andou semi-enrolado com Luciana na Jordânia (ou seja, incesto não consumado). Pelo menos é o que se diz pelo Internet e eu acredito, mesmo que não se confirme nunca. É fotógrafo freelancer, mas quando regressa ao Brasil, depois de saber do acidente, acaba por se tornar fotógrafo de moda. É um aventureiro (ou seja, deve também ter resmas de dinheiro na conta bancária) e, juntamente com Filipe (Rodrigo Hilbert), farta-se de viajar. Não posso escrever muito mais porque em Portugal o rapaz ainda está nas “arábias”; no Brasil já regressou e ainda não aconteceu nada de especial. (Presume-se que se vá enrolar com Helena quando esta descobrir que o marido lhe pôs um par de cornos enquanto viajava).
Posso falar do Osmar?? Posso, posso????
Osmar (Marcelo Valle): esta é a personagem que eu quero para o sapatinho. O brasileiro que a je nunca irá conhecer, porque já teve essa oportunidade e deixou escapar por entre a porra dos dedinhos das mãos. É o agente da Helena e da Luciana. É o tipo que, juntamente com Marcos, mais tem chorado no total dos episódios até hoje. É também o tipo que mais beijos tem dados em tudo quanto é mulher na novela e isso mete-me um bocado de coiso. É querido, é produtor de moda, é aquele rapaz que está sempre lá quando é preciso, que nos levanta o astral, que diz que somos lindas, mesmo quando estamos gordas e desmaquilhadas e, no caso da Luciana, deitadas numa cama, tetraplégicas, é o homem que nos diz o que havemos de vestir, o que combina e não combina, o que é trend e não fashion. Não sei se a personagem é gay (parece que iria virar bissexual com filho…), mas prefiro-o gay e bi, do que andar enrolado com uma tipa qualquer. (Na realidade já tenho uma pessoa que me faça isso tudo. O P., com a excepção do vestuário, claro.
Gustavo (Marcelo Airoldi): é o cómico de serviço. Um mulherengo eterno, mas diferente de Marcos. Mete-se com todas, mas na realidade só se enrola mesmo com a prima da mulher. Anda a ser chantageada pela empregada depois de ter sido apanhado a beijar a primeira. E fala inglês bem que se farta, ao contrário do que dizem no próprio Brasil. Chiça! Percebi que eles são como nós no que diz respeito à ficção nacional, arrasam tudo e nunca gostam de nada. Bom, fala bem que se farta sim, com sotaque e tudo.
Mas depois de tantos semi-chifres à mulher, ainda vai chegar a vez dele provar um pouquinho do próprio veneno.
Vilãs/Mazonas da fita:
Vou falar de duas, mas para mim só uma é que é o demónio.
Isabel (Adriana Birolli): 2ª filha de 3 de Tereza e Marcos. É o diabo em forma de humano. Só está bem quando humilha os outros, por vezes a irmã mais nova, Mia (Paloma Bernardi), muitas vezes Renata, amiga da família. Invejosa desde criança, nunca fez nada sem ter um propósito escondido. Quando Luciana tem o acidente a suposta preocupação transforma-se numa raiva ainda maior vendo que os pais e as amigas viram as atenções para a mana mais velha. Esconde o vídeo que Luciana, Osmar, Helena, Bruno e Filipe fizeram para Tereza pelo seu aniversário e costumava vê-lo imensas vezes, naquilo que muitas pessoas chamam de prazer mórbido. No episódio de ontem à noite (em Portugal), Renata avisa-a: “Sabe o que a gente vai fazer um dia? Nós todas? Vamos pegar você e dar uma valente surra”. Pois, talvez assim ela vá aos eixos, que até agora, nem com as “cinturadas” da mãe ela reconhece a própria maldade.
Dora (Giovanna Antonelli): mas será que se pode mesmo considerar Dora a vilã da novela? É que so far não tenho visto nada de demais. Sim, enrolou-se na praia com Marcos, mas para já ela nem sabe que o Marcos É “o” Marcos; nunca mais o viu, embora seja amiga de Helena, não faz ideia de quem era aquele homem, onde mora, onde deixa de morar. Não sabe de nada. Viu a marca da aliança e disse que não queria saber se ele era casado ou solteiro, que não lhe iria pedir nada ou complicar-lhe a vida. Pois, mas agora está grávida e, ainda que morando em casa do patrão (Garcia), que a adora e adora também a filha, Rafaela, não sabe o que fazer. Só sabe que pode ir morar com Helena, na casa desta, como babysitter do filho que ela espera. De resto, não faz ideia de mais nada. Virar má agora, quando a novela irá acabar para Maio/Junho, tendo estreado em Setembro? Não me parece. Se assim for, será tudo muito apressado e as Helenas costumam encontrar problemas com as rivais logo no comecinho das historietas.
Convém realmente explicar a razão pela qual as novelas continuam a chamar a atenção de tantas pessoas. Primeiro, fazem sonhar, segundo, mesmo com um cenário perigoso por fundo (Rio de Janeiro), ainda dá para acreditar que é possível, com algum dinheiro, viver bem no Brasil. Sem dúvida que para os próprios brasileiros estas novelas da Globo, realizadas nos estúdios da Projac, são uma afronta, que não passam de historietas de “dondocas” ou seja, mulheres ricas, sem grandes problemas, que comem várias refeições por dia. Resta saber como é que ainda resistem. Porque o Brasil continua a apostar no que é nacional, porque não faz importações, porque é um dos países que geralmente nunca passa notícias internacionais. E para quê? Com toda a sua dimensão, com todos os seus problemas sociais não precisam de se preocupar com os dos outros. Bom, será contraditório, mas continuam a ter sucesso e, devido à proximidade com Portugal, basicamente através da língua, continuam a ter audiências por cá, numa altura em que a ficção portuguesa voltou a cair em desgraça com temas/histórias que não despertam a atenção.
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