“Não posso estar em maior acordo com o discurso do Presidente da República”. Esta declaração, proferida pelo PM é de um puro descaramento e escárnio. No dia 25 de Abril, quando se comemoram 35 anos da “implantação da Democracia” em Portugal, (admito que esta data pouco ou nada signifique nas Ilhas, porque sempre viveram num país aparte, e na minha opinião, mal ou bem safaram-se lindamente), o PM, o mesmo que todos os dias ameaça processar cidadãos por injúrias, calúnias e difamações, bem como tenha começado a instigar bodes expiatórios e a verificar com muito mais atenção quem está a favor ou contra ele, deveria pensar em ter um bocadinho mais de respeito pelos portugueses. Se durante esta manhã, o Governo deixou bem claro que estava completamente contra os discursos dos partidos da oposição, porque eram muito politizados e não voltados para o tema que desde há 35 anos é sempre o mesmo, os quais referiam que num estado democrático o PS está a proceder excepcionalmente mal, à tarde não houve qualquer problema de que o Sr. Sócrates respondesse online, live in colour, a umas tantas questões previamente escolhidas de pessoas igualmente previamente escolhidas. Uhnnn… isto é ser-se democrático, correcto? Escolher-se perguntas e ensaiarem-se respostas. Por algum motivo nós, ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo, não temos conferências de imprensa diárias ou semanais. Seria impossível! Seria algo como todos os repórteres serem imediatamente presos ou processados, com raras excepções, como a Maria Flor Pedroso (RTP- TV do Estado), Eduarda Maio (RTP-TV do Estado e autora do livro “O Menino de Ouro do PS”), Raquel Alexandra (SIC- mas muito amiga dos ministros e secretários de estado e presidentes de câmara) e Anabela Chaves (SIC- fervorosa adepta do PS, basta ver as suas intervenções quando é colocada para fazer o trabalho nos congressos do PSD e afins). Mas calma, há quem goste deste regime e pense mesmo que isto é que é governar bem nem que para tal vá mandando calar aqueles que estão contra ou então dizer com todas as letras que se não somos socialistas somos de direita ou fascistas ou comunistas. Há uma outra coisa que eu ouvi a semana passada e que passados estes dias juro que terei ouvido mal: quando saído do hemiciclo, o senhor Primeiro-ministro garantiu a pés juntos que ao contrário do que seria esperável, não iria ser “bonzinho” só porque nos aproximávamos das eleições, e como tal, não iria perdoar dívidas aos contribuintes que não declararam (mesmo que tendo rendimentos abaixo do mínimo) os seus impostos. “Todos têm e devem conhecer a Lei”. Não obstante, a verdade é que em dois dias os familiares das vítimas do acidente de Entre os Rios viram o governo a ocupar-se das despesas judiciais procedentes daquela desgraça da qual não tiveram culpa, os reformados e pensionistas com reformas inferiores a 400 euros a terem medicamentos genéricos gratuitos e eventualmente outras medidas “drásticas” que não, desculpem mas não, têm nada a ver com atitudes eleitorais. Mas não é só o Governo directamente que tem estas ideias extremas de fim de mandato que me fazem perguntar onde afinal tinham andado escondidas as verbas para tanta acção social. As juntas de freguesia e câmaras municipais igualam o nível: por exemplo, a de Queluz (local onde moro) lembrou-se de iniciar umas obras estilo “Extreme Makeover”. O burgo vai ter nova cara, novas árvores, novos espaços de lazer e espaços verdes para o povo se entreter, ou não. Os locais escolhidos não poderiam ser do melhor: Pendão e Queluz-Monte Abraão na Avenida Miguel Bombarda. Quem por cá mora, ou quem por lá passa certamente irá perceber o meu descrédito total. Aquela zona não tem recuperação nenhuma, a não ser começando por quem lá habita. E depois alguém me há-de explicar de que vale fazer arruamentos e fechar as pracetas aos milhentos automóveis de marca (e garanto que os donos não são portugueses), se os prédios daquela mesma avenida estão velhos e em risco de queda. Já bem basta ninguém se ter responsabilizado pela estrada que liga Belas a Queluz, onde há dois anos se repetiu um grave acidente devido às cheias, que continua na mesma, quanto mais estarem a dar nozes a quem não tem dentes. Podem fazer as obras que quiserem com dinheiro que eu continuo sem saber de onde vem, e escusam de me dizer que fica empatado na Câmara de Sintra. Ora bolas, é sempre ao fim de 4 anos então que se lembram de fazer tudo e mais alguma coisa. Aliás, desde há 35 anos que assim é. Antes do golpe de estado dos soldados que reivindicavam melhores salários, as coisas aconteciam mal ou bem. Portugal era um país orgulhosamente só, mas não tinha criminalidade, era pobre, mas não havia um fosso social tão grande como hoje e de certeza que não existiam famílias de classe média ou classe média alta a passarem necessidades. Claro, também não havia direito à liberdade de expressão, mas se formos reparar bem, essa mesma liberdade de expressão está a ser posta em causa nos dias que correm não? Não serei a primeira nem a ultima de certeza a afirmar que é preciso ter-se imenso cuidado com aquilo que se diz e com aquilo que se escreve. Olhem, por vezes gostava de ser como as crianças que não vêem maldade em nada a não ser quando a mesma é-lhes praticada directamente, que são ingénuas e ao mesmo tempo tão verdadeiras que podem chegar a ser cruéis; ontem alguém contou a imagem que a filha, certamente bastante pequena, tem do 25 de Abril: “Foi uma senhora que deu cravos aos soldados que puseram os cravos nas armas e também às pessoas que passavam na rua.” Saber-se só isto seria mais que suficiente.
Antonio Tabucchi
4 weeks ago
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