Um dos principais atractivos que Portugal possui durante todo o ano, mas com maior intensidade durante Verão e nos meses que lhe seguem é o turismo termal. Muitas são as famílias que por questões de saúde ou simplesmente recreio procuram as termas portuguesas em busca de descanso, mas poucas são aquelas que conhecem a razão da sua existência, porque motivo existem volumes de água quente tão grandes que permitam a criação de centros termais em zonas que aparentemente nada possuem de extraordinário para tal.
De forma a esclarecer algumas destas dúvidas ou apenas para satisfazer alguma curiosidade do que está por detrás da Natureza implicada na sua criação, iremos realizar um breve resumo, que não seja muito exaustivo, para que se entenda um pouco sobre recursos geotermais, termas e a sua aplicação à saúde.
Do ponto de vista geo-natural, Portugal Continental encontra-se numa zona passiva, isto é, num local onde com pouca frequência ocorrem sismos de grandes magnitudes e onde não existe qualquer acção vulcânica e criação de montanhas, como acontece, por exemplo no Nepal com os Himalaias. Contudo isto não implica que não estejamos próximos das zonas geológicas onde haja grande actividade, como não significa também que há milhões de anos atrás não estivéssemos sob o efeito desses mesmos eventos, ou ainda que não existam falhas activas no nosso país.
Um dos aspectos que se deve ter em atenção é o facto de, independentemente do local do Globo onde nos situarmos, à medida que a profundidade é maior, a Temperatura aumenta igualmente- chama-se a esta variação Gradiente Geotérmico. As rochas vão arrefecendo mais lentamente em profundidade, do que aquelas que se encontram à superfície, devido ao facto de reterem ainda o calor interno de formação da Terra e também devido à presença de elementos radioactivos que ao libertarem energia geram calor. Em casos onde se verifique que as rochas mais próximas da superfície apresentam temperaturas acima das esperadas, pode-se afirmar que existe uma anomalia geotérmica positiva, pelo que, se forem perfuradas e se encontrarem próximas de fluidos aquosos, estes estarão também aquecidos devido à proximidade em que ambos se encontram. Na maioria dos casos, para que ocorram grandes variações de temperatura e para que água de pouco profundidade se encontre a temperaturas acima de 80º, é preciso que se esteja numa zona de transição entre placas tectónicas, (sobre as quais se encontram os continentes e oceanos), pelo que, quando existe um transporte até à superfície de material quente que irá dar origem a determinadas estruturas, este vai aquecer de forma muito intensa tudo pelo qual atravessa, como acontece nos Açores, para dar um exemplo. No Continente verifica-se que as águas que se podem considerar termais não atingem temperaturas superiores a 80º.
Uma vez que o nosso país se engloba, de acordo com a convenção adoptada do Atlas dos Recursos Geotérmicos da Europa, dentro dos limites de ocorrência de águas termais (o limite mínimo corresponde a 20º), deve-se referir que os valores variam até os 80º acima mencionados, nunca atingindo os 100º, mesmo em sondagens/ perfurações de grande profundidade. A nossa energia geotérmica é assim considerada como sendo de baixa entalpia. Estas ocorrências termais estão desigualmente distribuídas pelo território nacional, podendo, no entanto observar-se uma maior concentração nas regiões do Norte, uma vez que Portugal se encontra dividido em zonas cujas características geológicas e estruturais diferem significativamente.
É geralmente no cruzamento de grandes falhas regionais, que se encontram as melhores condições para a ascensão até à superfície de fluidos aquosos termais que são provenientes das zonas mais profundas, através da criação de circuitos hidrominerais. Estes fluidos tanto podem ter tido origem na formação rochosa, por desidratação, como podem ter sido absorvidas e captadas por lençóis freáticos, mas ambos os tipos são ricos em minerais constituintes das rochas que atravessaram.
As grandes províncias geoquímicas do nosso país, as quais correspondem aos limites das unidades paleogeográficas e tectónicas, são:
Maciço Hespérico, com as zonas Centro-Ibérica (Galiza e Trás-os-Montes), Ossa-Morena e Sul Portuguesa Orlas Meso-Cenozóicas ocidental e algarvia Bacia Terciária do Tejo e Sado (Rib. Et al, 1979) Como já referido, as nascentes termais localizam-se principalmente na zona norte e centro do Maciço Hespérico- Centro-Ibérica, estando a sua distribuição intimamente relacionada com grandes acidentes tectónicos, como é o caso da falha Penacova-Régua- Verin, pelo que se admite que os fluidos quentes de origem profunda possam ascender em circulação forçada a favor de zonas que se deixem atravessar melhor pelas mesmos, ou seja, podem escapar através das fissuras que são criadas nas rochas.
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