Tive a oportunidade de crescer num mundo só de mulheres. O facto do meu pai ter falecido tragicamente quando eu tinha nove meses (sim, tou a ser irónica, mas tem que ser, não estou para dramatizar as coisas), ajudou imenso à coisa. Fui educada pela minha "rica" tia Teresa.... porque sabe cozinhar muito bem e porque até é bacana e foi o meu tio que me ensinou os meus primeiros palavrões e a fazer o "aviãozinho"- como ainda hoje lhe chama-, voces sabem, aquele gesto feio com o dedo do meio! Ahaha!... e pela minha avó, porque na altura alguém tinha que pôr dinheiro em casa, a minha mãe. Portanto, nem é bem dela que eu me lembro durante a minha infância, embora fosse e ainda seja (claro) uma pessoa que esteve sempre lá, mesmo quando eu não a via...
Mas enfim.. a minha avó era extraordinária! A sério! Não existem palavras para a descrever e aqueles de vós que a conheceram, mesmo sendo nos últimos anos de vida, bem podem dizer que ela era uma pessoa muito especial, com uma genica e um humor muito grandes e também enorme sentido de oportunidade! A minha avó chamava-se (chama-se) Virgínia, que é o meu segundo nome, por outros motivos que agora não vêm ao caso. Era de uma terra chamada Rio de Moinhos, Concelho de Abrantes, distrito de Santarém. Quando era miúda costumava ir buscar lenha aos pinhais mais próximos e um dia, o rio pregou-lhe uma partida e decidiu levá-la com ele. Diz ela que teve de se agarrar a umas canas para não ir pelo Tejo abaixo. A partir de então, ela e a água sempre tiveram uma relação muito difícil.
A minha avó só tinha a 4ªclasse (desculpem-me, mas quando eu fiz a primária, ainda se chamava assim), só que ninguém diria, eu não diria. Quando tinha 12 anos veio trabalhar para Lisboa, não havia dinheiro para ir estudar a Santarém. Só que sempre trabalhou em casas de pessoas bem formadas e bem de vida... foi isso que lhe deu os seus conhecimentos. Raramente se vê hoje em dia, empregadas a quererem aprender com as patroas, mas naquela altura, até "pretendentes" dessas famílias a minha avó teve. Eu, por acaso, não tenho essa sorte, mas os homens daquele tempo, também não eram aquilo que são hoje, uns anormais. Aquilo eram senhores, autênticos cavalheiros... eu estou apaixonada pelos anos 20 e anos 30... Viva o vintage! E foi com a minha avó que aprendi a ser mulher e a respeitar o meu género. Acho que todas as raparigas deviam ter avós como a minha, sentir-se-iam bem melhores do que provavelmente se sentem e não teriam um aspecto tão desleixado (boca para certas pessoas: posso ser antiquada na forma de vestir, mas pelo menos não sou ordinária, porque na minha casa também não tive exemplos disso). Ela contava-me histórias do arco da velha e não, muito sinceramente o episódio de Fátima, raramente era falado, embora ela gostasse muito da Santa. Histórias de lobisomens, histórias de fantasmas... maravilhosas histórias, e sentia um enorme/ ENORME fascícnio pelo castelo de Almourol. Um dia destes tenho que pintá-lo.
A minha avó nasceu a 14 de Setembro de 1908 e faleceu a 16 de Outubro de 2004. Era uma mulher com M.
1 comment:
É bom quando temos para quem olhar, não é? =] Pelo teu relato, foi concerteza alguem extraordinario! Com certeza ela se orgulha do teu afecto/admiração, não passou em vão =]
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