Falar de natal é falar de rituais. Sejam eles de origem cristã, ou, mais adequadamente, de origem pagã. Podemos, se quisermos, dissecar a epoca de festa, apontando para a necessidade básica e, muitas vezes, conturbada de óbvio massacre e obrigação, de juntarmos no mesmo espaço, um grupo de pessoas, muitas vezes associadas por sangue (família biológica), mas das quais só queremos uma coisa ao resto do ano - a distância de segurança, normalizada, de forma a evitar perguntas intrusivas ou discussões sobre os diversos temas da atualidade, que, cada vez mais, mostram uma fratura na sociedade moderna.
É, claramente, a época que anuncia os excessos de consumo, seja material ou, porque não, alimentar - o início de uma época designada por "inverso" que irei melhor explorada em breve, refletindo sobre a sua origem e sobre a sua associação com o que se entende por "luxo".
Podemos refletir sobre isto, ou podemos mencionar que o natal corresponderá a um recomeço, a uma época de início, apontada dias antes pelo solstício de Inverno (a noite mais longa que dá origem aos dias maiores e mais quentes), o ponto mais afastado do sol em relação à terra. Há quem evoque a tradição da queima do madeiro, que ocorre na noite de 24 de dezembro, na verdade, o fogo que aquece Jesus nascido, e podemos também averiguar a sua origem mais remota, de como se celebrava o fenómemo astronómico, também ele associado a um novo ponto de partida, pelos povos celtas.
Seja como for, é, definitivamente, o momento de transição anual, validando um calendário mais ou menos lunar, que antecede o início de um novo ano, de prosperidade, crescimento, fertilidade, que culminará no estio.
Não deixa, no entanto, de ser também, uma época de reflexão. Deveria de ser uma época de recolha, de maior solitude.