Todas as palavras do mundo.
Nem todas são secas.
Algumas palavras engasgam-nos. Parecem argila que se mistura com água e aumenta o volume. Os poros enchem rapidamente e não deixam mais nada entrar. Nem sair.
Existem palavras assim. Que ficam presas por serem ditas. Que anseiam serem ditas. Deitadas para fora e simplesmente não conseguem. Porque estão ali. Naquele limbo da tríade coração-garganta-boca.
Impossíveis de se revelarem.
Existem várias palavras que te poderia dizer. Mas na verdade, de todas as mais difíceis já te as disse todas. E mesmo assim acho que são poucas. Possivelmente são poucas. Existem tantos dialetos, que as minhas palavras são escassas, nulas até. E batidas, repetidas até à exaustão, iguais a tantas e a todas as outras, proferidas por todas as pessoas, em toda a parte.
E, como tal, sem qualquer efeito. Não parecem reais. Não parecem dignas sequer. Não diria impuras, mas sim, banais.
A banalidade que achava não ter, escondida em palavras banais, não-secas, mas argilosas. Que se alimentam de outras similares.
O meu "dom" da palavra. Oral, escrita, simplesmente e ordinariamente transformado em nada. Sob as sombras de tantos outros pseudo dons que achamos que temos.
As palavras não são secas. Porque são argila que se molha.
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