Porto, esse maravilhoso mundo novo - Cláudia Paiva Silva

Sunday, March 17, 2019

Porto, esse maravilhoso mundo novo



Ir ao Porto é receber colo.
Confesso a incredulidade e o receio de repetir a experiência. Há 10 anos, mais coisa menos coisa, a memória que me ficou da minha primeira visita ao Porto, feita num Fevereiro chuvoso, é de escuridão. Prédios escuros, ruas vazias, lojas fechadas. Não me lembro das pessoas. Fui bem acolhida isso sim. Mas não consegui precisar se foi pelo contexto se foi pelo fundo real de quem me recebeu. Agora tenho a certeza que é da alma do norte. Aquele receber encantador que se desmesura quando ouve português, aquela simpatia genuína de quem quer mostrar o melhor sem se preocupar se vamos comprar algo ou não, aquela forma de ser que apenas nos quer bem, contentes e cheios de felicidade de igual forma. Gente com coração e alma de ouro. Douro ou Doiro. Não tem outra explicação.


Talvez a luz que dizem Lisboa ter, no Porto não seja mais que o equivalente do reflexo do sol nas águas do rio que o banha. Tenho para mim até, que a luz branca da capital, igual resultado dos prédios brancos resultantes de um terramoto que os ajudou a erguer, a tenha tornado numa cidade fria ao final de vários séculos, sem amor, sem alma quase, sem os seus nativos habitantes que a tornavam tão única. Uma cidade fantasma até mesmo para aqueles que de lá foram desterrados para os arredores e subúrbios cada vez mais a perder de vista. 

No Porto, pode ser que aprendam a lição e, por muitos turistas que acorram à cidade todos os dias, e por muito que queiram limpar os prédios escuros e recuperar os medievais que estão a cair nas ruinhas e vielas de antiga má fama, continue a existir essa tipicidade inerente. Que não se esqueçam também que existe todo um Porto ocidental e um Porto oriental, este último abandonado e esquecido em bairros problemáticos, onde as pessoas são tão humanas, carentes e acessíveis como as outras que habitam até à Foz. É que a luz de uma cidade é geralmente emanada também pelas pessoas que de lá são e que lá (ainda) habitam. Cheia de pregões na boca e sem pejo na língua, que tratam as mulheres por "meninas" e os homens por "senhores". É que a vida quer-se apimentada e esmagada por sentimentos e sentidos. E nisso eles são assim. Todo um sentimento. Toda uma entrega. 




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