Harvey Weinstein vs. Kevin Spacey ou como se destroem carreiras. - Cláudia Paiva Silva

Wednesday, November 01, 2017

Harvey Weinstein vs. Kevin Spacey ou como se destroem carreiras.

Que todos sabemos a fama menos boa que as actrizes (e actores) têm desde os tempos do antigamente, lá isso sabemos. O que eventualmente me choca no meio destes escândalos todos é que de repente todos e mais alguns parecem ter sido vítimas indefesos de predadores sexuais super activos em Hollywood e quiçá, noutros meios artísticos de outros países. 
Harvey Weinstein, embora produtor da maioria dos grandes filmes dos últimos 30 anos, é simplesmente um ser asqueroso - não obstante eu acreditar que haja quem abra as pernas propositadamente para chegar ao topo, também sei que existe uma grande maioria silenciosa, que enfrentou com coragem, todo e qualquer tipo de tentativa de agressão sexual. Mas a verdade é que não se pode dizer que sejam todos seres inocentes que não sabiam ao que iam. A Annabela Sciorra só agora (quase 25 anos depois) é que se lembrou, por exemplo, de fazer queixa, porque, nas palavras da própria, quem é que iria acreditar numa mulher que sim, tinha aberto a porta a um homem a altas horas da manhã? 
Mas agora ao que realmente me lixa: o Kevin Spacey. Acho que todos sabíamos ou desconfiávamos que ele fosse gay (ou bissexual). Não é aí que recorre qualquer problema. Que a comunidade gay fosse sexualmente activa durante os idos anos 70 e 80, também é de conhecimento público. Que infelizmente se associe a homossexualidade a comportamentos de abuso sexual a menores, também é do conhecimento recorrente - e é errado, porque na maioria das vezes é apenas a desculpa usada para encobrir casos e casos de violações realizados por homens e mulheres. Que um actor de 46 anos, que é abertamente homossexual venha agora perder a vergonha e acusar publicamente Kevin Spacey de o ter tentado violar há mais de 30 anos atrás, é simplesmente mesquinho. Porque não antes? Não refere que tenha sido ameaçado sequer, simplesmente, agora, porque todos estão a contar as suas "histórias", ele resolve também contar - ok, não foi bonito, mas, alguém honestamente acredita que um puto de 16 anos vá parar por engano a um quarto de um hotel numa festa de Hollywood? Sozinho? Só porque estava cansado e queria dormir? E não não estava acompanhado por pais, parentes, agentes? Não me enfia o gorro. A partir de certa idade só é Lobo quem lhe veste mesmo a pele. E porque não acusá-lo no auge da sua carreira, quando ganhou o Óscar de melhor actor? Ou quando começou a fazer imensas peças de teatro? Ou quando começou a ser nomeado anos e anos a fio pela série House of Cards (que entretanto e estupidamente foi cancelada)?? 
Há uns meses atrás uma série de actores foi igualmente acusada de assédio pela parte das colegas: desde Robert de Niro, passando por Nicholson, até ao Fassebender, nada nem nenhum escapou. Era como se de repente todos os actores conhecidos fossem uns predadores sexuais que fosse preciso afastar desta terra e da outra.
Portanto digam o que quiserem, mas isto, agora, contra o Spacey, é apenas um pretexto, uma ponta de um iceberg enorme ou então apenas e só maldade de alguém que quer os seus 15 minutos de fama - mas que também pode com isto dar-se muito mal. Veremos. 




Eu, por exemplo, não acredito que nunca nenhuma de nós, por exemplo, tenhamos sido aludidas a determinadas acções: de um padre confessor, de um vizinho, do tio solteiro que gostava muito de crianças, de um professor na universidade, de um colega de trabalho ou superior hierárquico. O que nos define nem é a forma como encaramos ou nos vergamos por medo ou se os deixamos apenas com as calças na mão. Mas sim quando fazemos a queixa - se alguém acredita ou não isso logo se vê. Mas a ideia é logo apontar o dedo, mostrar que está errado. Claro que é mais fácil, por princípio, quando somos adultas. No meu caso não seria aos 8 anos de idade que poderia ter contado fosse o que fosse que me foi proposto - nomeadamente pela vergonha e por achar que eu é que poderia ter feito algo errado. 
Contudo, não nos podemos comparar com homens e mulheres que ganham milhões, com gente que por ser quem é, por ter a exposição mediática que têm, podem e devem falar e condenar. Mas não passados anos, não por moda, não por simpatia ou empatia. Mas porque se sentem realmente mal, porque o trauma é forte demais. Porque eu penso que, se fosse comigo, se eu fosse vítima, se me tivesse calado, não conseguiria nunca continuar numa profissão destas, nunca conseguiria passar por vários filmes, papéis, contracenado com actores, actrizes, certamente compactuantes com tudo o que se passa. Ou seja, não podem realmente ser tão inocentes assim não é? Ou serão? 

1 comment:

Konigvs said...

Aterrei aqui no teu blogue de para-quedas e fiquei a ler algumas publicações. Esta toca-me porque Kevin Spacey é, desde há muitos anos (Suspeitos do Costume, Beleza Americana) o meu ator preferido. E continuará a ser mesmo que se prove que afinal é uma besta. Acho que temos de separar o artista do homem. Depois, por outro lado, neste último ano aconteceram coisas muito curiosas. Trump, em plena campanha eleitoral foi acusado por várias mulheres (que também só se lembraram disso em campanha) de assédio sexual mas no caso dele havia registos audio, pouco edificante a dizer "grab her by the pussy". E o que eu mais curioso é que, no caso de Trump, ninguém levou as acusações das mulheres muito a sério. No entanto, de repente, levantou-se uma enorme tempestade no meio cinematográfico americano, e parece que tudo o que qualquer pessoa dizia sobre determinado ator ou realizador, ou fosse sobre quem quer que fosse, mesmo sem provas, já era tudo verdade! Há aqui qualquer coisa que não cheira bem. Aparecem as acusações sobre Trump, e passado pouco tempo acontece isto, e como eu não tendo a acreditar em coincidências, acho muito estranho.
E basta ver o que aconteceu na nossa telenovela "Casa Pia" em que de repente também toda a gente tinha sido abusado por alguém! E o que eu acho é que até eu, se a Catalina Pestana, como alguém disse, me desse 50 mil euros, eu também vinha dizer que fui violado pelo Carlos Cruz! E não tivesse a reportagem da Felícia Cabrita passado na SIC e ninguém tinha sido abusado.

Claro que há abusadores(as), e claro que "não" é "não". Mas também há muita gente a abrir as pernas para chegar onde quer. E depois, estamos a caminhar para um tempo em que, se eu quiser abordar uma mulher para sair, quase tenho que primeiro ir buscar uma folha de 25 linhas e pedir-lhe para assinar, em como concorda ser abordada por mim e que, eventualmente pode ocorrer sexo! Caso contrário posso ter problemas!

Bom ano,

Multi-resistente
Bucólico-anónimo
Plastrão