Dias sem fim - Cláudia Paiva Silva

Wednesday, July 20, 2016

Dias sem fim

Houve uma época em que eu escrevia bem. Tinha jeito para o sarcasmo e ironia, com os quais pautava as opiniões muitas vezes radicais sobre inúmeros assuntos e, não contente, ainda expunha muito do que me é privado.
Acontece porém que vamos aprendendo com o passar da idade (há quem lhe chame erros, eu apenas chamo experiência). 

A verdade é que a paciência vai escorrendo muito rapidamente, tanto quanto o Tempo, à medida que vemos os dias ficarem maiores e mais quentes, para logo começarem a ficar mais curtos. 
E eu perdi a paciência para muita coisa. É que sabem, antes do fenómeno Facebook, eu já tinha blogue, e já escorria sobre os mais variados temas da (minha) vida. Quem gostava e não gostava, lia, podia comentar ou remeter-se ao silêncio e discussões argumentativas e filosóficas eram remetidas para as duas ou três conversas mantidas através de sms, quanto muito messenger ainda do Hotmail.

Hoje, são às centenas as opiniões que ecoam pelas redes sociais, treinadores de sofá, politólogos de vão de escada e café, gente tão pacata e honesta como mesquinha e reles. Há de tudo, e não se coíbem mesmo assim, de se resguardarem mais, mesmo que sejam perfis falsos ou verdadeiros. 
Deveria ser realizado um estudo sociológico (e antropológico) a esta nova geração (não, geração não é a palavra correcta, porque todas as faixas etárias estão aqui misturadas), a esta nova fauna de pessoas que por tudo e por nada, comentam, partilham, mesmo que nem sequer saibam ao certo o que estão a comentar ou a partilhar.

A minha experiência ensinou-me que, ao não saber sobre determinado tópico, devo-me remeter ao silêncio. Depois, nesse canto, pegar numa série de dados, livros, pesquisas várias, para aprender um pouco mais (sabem como é, malta que estuda calhaus na faculdade não consegue ser muito inteligente no resto) sobre o tema falado. E só então, depois de compreender que talvez consiga contra-argumentar em caso de necessidade, sim, dar opinião.

Atacar e ofender apenas por gozo pessoal é algo que não me passa pela cabeça - mas passa pela cabeça de muita gente. Mas gosto ainda mais quando, por apenas se ser ideologias políticas, religiosas, sociais, diferentes se "desamiga" virtualmente amigos da vida real, de anos, de adolescência, ou infância até. Então, foi preciso uma rede social mostrar que aquela pessoa era assim? Que pensava daquela forma? Das duas uma, ou nunca se foi realmente amigo, ou então as redes sociais têm aquele poder sobre todos nós, conseguindo expor-nos duma forma que nem mesmo nós próprios conhecíamos. 

Não me alongo mais com este assunto.
Era só para explicar que, se deixei de vir aqui com tanta frequência é porque, mais opinião ou menos opinião não fazem falta. Blogues sobre moda e cosmética sim. E culinária também. Cenas do quotidiano mundo-social-coiso é que não. Já existe a Jugular. 

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