Estava cheio e ainda bem. O livro vendeu e ainda bem. A musica bateu-nos bem fundo nos ouvidos, na alma, no coração e aquele baixo, brilhantemente tocado pela Sandra, pareceu soar ainda mais forte, como se ela não estivesse a tocar sozinha, mas sim com outra força interior proveniente do universo. Poderia ser a emoção ou recordação, mas fez-me bem, faz-nos sempre bem ouvir as canções que há já algum tempo tinham ficado desbotadas na nossa memória. Aguarela ou tinta da china a quem cai uma gota de água e fica em borrão. Sabemos o que lá estava desenhado e pintado, mas vamos perdendo a ideia das linhas, dos contornos, das arestas das imagens e figuras. Ontem alguém chegou e limpou cuidadosamente esse quadro como se ficasse restaurado quase completamente, como se ficasse novo outra vez. Ontem ao ouvir Naifa pela primeira vez ao vivo, (porque nunca os tinha visto antes ao vivo), fiquei com a impressão de que nada ali faltava, estava tudo como antes, como talvez tivesse sido sempre, apenas porque, o João, também lá estava. Acho que ontem ninguém notou pela falta dele porque ele estava lá, estava em palco, eu juro que o "vi" em palco, junto da Mitó, do Luís, do Samuel e da Sandra. E quando acabou, assim que o ultimo acorde foi dado, assim que se bateu a ultima palma, eu vim embora. Talvez afinal porque "todo o Amor do Mundo não foi suficiente". Mas dia 5 de Junho, no Castelo São Jorge há mais... A Naifa, voltou...
Antonio Tabucchi
4 weeks ago
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