Não é só de sismos, cataclismos da natureza, derrocadas, cheias, enchentes de que o Horror se alimenta. É de "pequenas" coisas. Aquelas situações que estão "sempre a acontecer", que já são dados adquiridos e que não deveriam ser. Quando leio hoje que um menino se atirou ao rio Tua (o que chamar a um rapaz de 12 anos senão menino?) para morrer, consciente do seu acto, porque era agredido, pelos vistos, brutalmente, pelos colegas de escola, assustei-me. Aliás, são cada vez menos raros os casos do chamado "bullying", palvra inglesa que se "apreendeu" em Portugal há poucos anos para definir uma coisa tão básica como "bater nos colegas de escola". Se assim pensarmos, então eu mesma, Cláudia, fui vítima de bullying quando andava na escola primária. Acredito que fosse mesmo muito engraçado os colegas mais velhos e mais estúpidos, chegarem perto de mim e darem-me pontapés como se não houvesse amanha (pelo menos hoje em dia, tenho as canelas mais rijas que se encontram no mercado e nunca mais tive nódoas negras na vida), ou gozarem com o meu nome, Virgínia era vagina, Paiva era parva, Mesquita era mosca, enfim. Uma série de abusos que, felizmente, não deixaram nada recalcado. Pior mesmo é o tempo passar e esses colegas agora serem pessoas bem formadas e admitirem que eram uns broncos, muitas vezes influenciados também por outros amiguinhos de carteira. O Leandro era, por sua vez, maltratado de forma constante, numa escola como qualquer outra. Hoje em dia, escola que é escola não passa sem a sua quota de pancada entre alunos mais velhos, mais fortes, mais novos, mais fracos. E no futuro, isso irá revelar-se na sua personalidade. Maltratos aos pais, às esposas, aos filhos, quiçá?! Custa-me acreditar que uma criança de 12 anos tenha ido até á beira do rio com o primo e mais amigos verdadeiros que o tentaram dissuadir de tal acto e ainda assim se tenha despido e se tenha atirado à água, com todos os outros a saltaram atrás dele para o puxarem, para o agarrarem, para o trazerem à tona, correndo o risco de também por lá ficarem. O primo, Christian, está em estado de choque, viu o primo a afogar-se e, aos 11 anos, não irá esquecer tão depressa a sensação que se tem quando se ouve alguém falar em morte, em querer morrer, bem como ficará com o remorso ainda que injusto, de não ter conseguido salvar o primo querido de todos, da avó, dos tios, dos pais, do irmão gémeo. Na escola, o JN (responsável pela reportagem) foi "convidado a sair" rapidamente pelos funcionários. Na escola ninguém quis falar sobre o assunto, nem professores, nem auxiliares, nem colegas. Na escola todos ou acham a situação perfeitamente normal, ou então os adultos têm medo das crianças. Eu sabia o que fazer com esses meninos e também meninas. Sabia e sei, mas não digo, deixo largas à vossa imaginação.
Espero contudo que o Leandro esteja agora em paz, que a escola dele seja só com outros meninos e meninas que briquem e joguem e pulem e saltem, sem quaisquer problemas, sem se magoarem, protegidos eternamente.
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