Aprendendo a esperar por ti, sempre (citando M.R.Pinto) - Cláudia Paiva Silva

Wednesday, November 12, 2008

Aprendendo a esperar por ti, sempre (citando M.R.Pinto)

Peço desde já desculpa, mas as palavras que se seguem não só, nem pouco mais ou menos da minha autoria, embora reconheça e me identifique em tudo o que nelas está contido. "É possível que no meu património genético exista o gene da espera, herdado das avós das avós das minhas avós, séculos a fio repletos de gerações de mulheres que viveram toda a sua vida à espera dos homens, desde a reconquista de Portugal, escondidas em pequenas aldeias do norte sob a protecção do condado. Depois, até ao reinado de D. Afonso IV, enquanto combatiam a mourama. E mais tarde, na era dos Descobrimentos, quando partiam em naus e caravelas e ficavam por lá, a plantar a bandeira de Portugal nas praias que iam conquistando, erguendo padrões e fortes onde podiam, desde a costa africana até às Índias, passando pelo Brasil e por tantos outros lugares. As mulheres portuguesas sempre esperaram pelos homens e a isso eu chamo a vocação de Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e usurpasse o trono de Ítaca. (...) Como é incompleta a Odisseia! A história devia ter contado os milhares de trabalhos de Penélope a tentar defender a sua casa e o seu coração e não os doze trabalhos de Ulisses.(...) Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, ou mensagens escritas. (...) Sabes que já fui muito parecida contigo? A minha sede insaciável de viajar fazia-me imaginar que cada cidade que conhecia podia transformar-se na minha nova casa; sonhava que era capaz de lá viver e deliciava-me com a ideia de ter múltiplas e paralelas existências. O tempo, a maternidade, a velhice gradual dos meus pais, a morte de alguns amigos e o apego ao meu trabalho mostraram-me que o meu lugar era aqui. Portugal é a minha terra e Lisboa a minha casa. E quando acordo de manhã e abraço o rio, sinto uma paz merecida, a tranquilidade daqueles que aprenderam a viver com os seus medos e dou graças à vida por me ter mostrado o lugar onde pertenço. Demorei muito tempo a perceber onde me sentia feliz. Não parei de correr por cansaço ou por não saber que direcção seguir. Acredito que de uma forma natural e inequívoca, fui descobrindo que era aqui que era feliz, que preciso de Sol para viver em paz e da respiração do Atlântico para me sentir completa, plena." (...) "Se calhar sou doida, sofro da mais antiga enfermidade do ser humano e que ainda nenhum cientista se lembrou de diagnosticar, estudar e classificar como uma patologia: não sei viver sem amor. Preciso de amar e de ser amada para viver sem me deixar engolir pela realidade, sem sentir que estou a lutar para me manter à tona. A vida sem amor é para mim uma questão de sobrevivência, um deserto imenso e assustador, um vazio do tamanho do buraco negro. Porque antes de tudo e depois de tudo está o amor. E tudo acaba, tudo passa, tudo se desfaz, se desfigura, se dissipa, se enterra se transforma, mas o amor nunca acaba, porque é impossível viver sem amor. Mesmo que só existam palavras, o amor vive-se na mesma. A pior coisa é não amar, penso que isso não existe. Se fosse uma heroína romântica, acabaria tísica num convento de freiras. Felizmente nasci na segunda metade do século XX, e por isso, em vez de me entregar a um destino trágico e estúpido, trabalho, colecciono sapatos e janto fora com os meus amigos." (...) "Todos procuramos um grande amor, não interessa se temos 16, 36 ou 63 anos, não interessa se nascemos ricos ou pobres, inteligentes ou burros. A necessidade da realização pessoal através do amor é uma das maiores verdades universais. Mas a vida vence quase sempre o amor, por isso são muito poucas as pesoas que se podem alegrar com a consumação plena desse sonho. Não sou dona do tempo nem de nenhuma verdade, a não ser daquilo que sinto. (...) Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa. E se ela não vem ter connosco, nós esperamos. O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. E aprendemos a respirar na espera, a viver nela, afeiçoando-nos a um sonho como se fosse verdade. A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar. O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível....(...) É mais fácil esperar do que desistir. É mais fácil desejar do que esquecer. É mais fácil sonhar do que perder. E para quem vive a sonhar, é muito mais fácil viver."
Para C.

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