Indecisões de Ano Novo - Cláudia Paiva Silva

Wednesday, January 10, 2007

Indecisões de Ano Novo

As festividades já passaram, rápidas e desprovidas de qualquer bom sentimento. Já comi a minha dose de bacalhau para este ano (uma vez que considero o início do ano ou fim, durante o Verão, porque não me faz muito sentido ter uma semana de pseudo-interrupção de aulas, para logo de seguida iniciar o doloroso processo semestral de avaliação), e muito sinceramente, passei a noite de 31 para 1, mais interessada em saber qual das moças tinha ganho quais dos concursos que a televisão dava. Isto porque não tinha dinheiro para deitar fora num casino qualquer, e porque, não me apetecia muito constipar-me quando estava rés-vés a ter que voltar para a faculdade, numa rentreé tão interessante como a que ocorre em Janeiro. Também é verdade que a partir de dia 25, comecei a pensar realmente no que era ou não importante, porque, naquela semana "nataliciamente" pagã, os meus compatriotas conseguiram gastar mais (muito mais) dinheiro do que têm (e podem), e, pela primeira vez que me lembre, conseguiram-se saber notícias governamentais, feito antes nunca alcançado por outros grupos políticos (eu escrevi grupos, não partidos). Bom, se no total foram contabilizados 11 milhões de euros em ATM's aka Multibancos, fora transferências e créditos, com certeza que temos financeiramente disponíveis as quantias necessárias para enfrentar quaisquer aumentos que se avizinhem, fora os que desde há 10 dias atrás, foram postos em prática. E aí começou a revolta na minha cabeça. Eu devo viver num país de atrasados mentais (eu própria admito contribuir para essa multidão de pessoas retardadas, pois também eu contribuo para a crise nacional, (sou estudante, mas ao contrário do que ocorre nos outros países, não trabalho para sustentar os meus estudos) também eu ando de vez em quando a proclamar aos 4 ventos, que hoje em dia, para cada português seriam precisos 3 Salazares, no mínimo). Bom, mas eu digo aquilo às vezes, todos os dias contudo ando em transportes públicos (um luxo ainda desconhecido de muitos portugueses, principalmente aqui da região de Sintra), onde há sempre uma nota de indignação, uma pontinha de descontentamento aqui e além, umas conversas matutinas bem efusivas quanto à política nacional. Que se pode fazer? Portugal é um país onde as pessoas gostam de ter empregos, mas não de trabalhar, um local onde a mão de obra é cara, e nem sempre rentável. Bom, existe sempre a opção Ucrânica, Moldávia, Hungria, Eslováquia, Roménia e tantos outros países que tendo passado por milhentas privações, ao contrário de nós, que nunca passámos por uma guerra sequer "a sério", não tarda ultrapassam-nos (acho que alguns já nos ultrapassaram) no comboio que se chama Europa. Estou lixada? Pois estou. Vivo num sítio onde acontece de tudo e ninguém se quer envolver. Sabe-se que a vizinha de cima leva tareia do marido e ninguém resolve chamar a polícia, sabe-se bem que o marido da mulher que era casada com o Jorge que fugiu com a brasileira (podia ser de outra nacionalidade qualquer, aparte do meu "fascínio" por brasileiros), mal trata o enteado que tem 2 anos, mas só sabem falar depois da criança morrer e do sujeito ter ido parar à prisão (ainda que preventiva por falta de provas concretas), num país, mudando de assunto, onde pescadores sem meios de segurança, morrem a 20!!!!!!! metros se tanto das praias e só meia hora depois é que alguém tenta resgatá-los, num país onde se constrói atrás de dunas e se espera que a areia que é depositada por camiões e que o mar, enfurecido volta a levar, trave o poder destrutivas das ondas, num país que se constroem casas que em 5 anos possuem uma inclinação com 20 cm. Realmente parece que vivo num país de fantochada pegada, mas há quem goste. Aqui na minha rua, tenho algumas pessoas que gostam, das que ainda estão vivas, porque nesta zona de Queluz, vivem os mais velhotes, os da velha escola, aquela zona que foi construída há 39 anos. A minha mãe vive cá desde os 19 e acreditem, está farta.
Eu sonho alto, com uma vivenda com sotão, onde se veja o mar, mas não cá na nossa costa, pelo menos na costa continental portuguesa, por mim podia ser na costa insular, mas estou a ver que se tiver sorte, as asas de um avião levam-me para o outro lado do Atlântico, por onde me ficarei. Não fiz resoluções de Ano Novo, não fazem grande sentido. Não sei que haveria de desejar ou de mudar. Talvez a merda do feitio. Mas nem sequer isso sei fazer, tomar decisões. Mas, cá entre nós, aparte do Primeiro Ministro, quem é que as sabe tomar?

1 comment:

Gux said...

Ohh rapariga!! Que pessimismo!!

O mal do país serve de indumentaria a muito boa comédia. Por péssimo que seja é menos um mal, já que se diz que rir prolonga a vida.

É verdade que a competência em Portugal é uma espécie de aragem que passa de vez em quando e raramente trás sorte. Adoraria dizer que conheço alguma solução para isso, mas mudar a mentalidade de um povo que ainda se canta “Herói do mar” 500 anos depois de ter zarpado vela e que mais que um século depois da revolução industrial se lembra que se calhar é porreiro fazer um “choque tecnológico” mal amanhado... é no mínimo uma tarefa homérica!

Tenho dias como os teus, de sair inusitada porta fora a pensar que isto não é a ponta da Europa é o calo nos pés de Judas. Mas depois olho há volta e olho para fora e como fizeste notar muito bem, somos uns tipos com sorte. Não gostaria de viver na china, nem no Iraque e muito menos na Nigéria.

O facto de estar-mos na união europeia ainda nos vai impedindo de cair nas mãos da corrupção aberta que seria a única coisa capaz de me chatear realmente.

Furthermore, vao-se abrindo frestas no (in)sucesso nacional. O expresso trás de vez em quando uma ou outra historia. É uma questão de inercia... quero acreditar que vamos mudar, gradualmente, mas que vamos mudar!

E claudia... pagam mal em Portugal! É uma vergonha. O povinho recebe esmola em vez de ordenados e tu sabes que é verdade. Acho que tanto tem razão os patrões como tem os empregados... uns porque não tem rendimento e os outros porque não tem razões para ter rendimento. Escravatura não obrigado. Pessoalmente confesso que me estou um bocado nas tintas para a colectividade. Vou trabalhar para onde me pagarem melhor, cá ou noutro sitio qualquer. Não vou ser hipócrita e dizer que me é indiferente. Essa é a principal razão para querer dar à sola. Querem os beneficio do meu empenho e do meu cerebelo é para pagar bem se faz favor. Ando eu a fazer directas 5 anos e a queimar as pestanas 99.9 % do ano para depois ganhar menos que uma empregada de limpeza? Ahhh pr'o raio que os parta.

A violência domestica.. bom a mesquinhes é absurda! Arff como a abomino. No entanto, nunca é assim tão simples, mesmo na presença de uma denuncia o caso tem de ir a tribunal e o agressor fica em liberdade até ao julgamento, a menos que seja efectivamente algo muito muito grave e mesmo assim... olha que não sei, porque e falo de experiência própria... a minha mãe a escorrer sangue por todos os lados, [chamei eu a policia] de lábio aberto e não só não fizeram nada ao meu pai, como me deixaram com ele porque ele era “chefe de família” . Isto já foi há 8 anos... mas não acredito que tenha mudado muito... dai a uns anos... na sequência de uma queixa.. [convencer a minha mãe a finalmente ir para a frente com isto... ] fui depor... a policia que tomava nota do meu depoimento ia dizendo entre questões “sabe tem de compreender, eles são assim, exaltam-se.. também tenho um assim na família... mas é seu pai. ”

As próprias entidades competentes lutam pela manutenção dos “núcleos familiares” seja lá isso o que for...

E quanto a tudo o resto, as vozes tem-se insurgido. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”