September 2025 - Cláudia Paiva Silva

Tuesday, September 23, 2025

dores de crescimento
September 23, 20250 Comments



Achamos que a vida, às tantas, já não supreende - que já aprendemos todas as lições e não voltaremos a cair em qualquer espécie de ilusão ou engano. 

As experiências, o conhecimento, o saber lidar com crises, situações e, principalmente pessoas, fazem-nos fortes, sabedores, enfim, colocam-nos preparados para qualquer evento extraordinário que nos aconteça. Ou não será?

Nada mais errado. As dores de crescimento poderão ser sentidas até ao dia em que apagarmos a luz e fecharmos os olhos. Porque, das duas uma, ou nos encerramos ao que nos rodeia, de forma permanente, e vivemos algo semelhante a sobrevivência, sem nunca nos entregarmos realmente a nada, seja um trabalho, um hobby, a uma ou a várias relações, sejam amorososas ou de amizade, ou então vamos com tudo, entramos a pés juntos, batemos no rail de proteção e ainda assim, cá estamos para contar a história. E isso provoca dores sim. De crescimento, exato.

Nem sempre é fácil entender o porquê de algumas coisas - muito menos quando nos ultrapassam e estão fora do nosso controlo (e como todos adoramos controlar tudo, não é?). Não temos culpa das atitudes de outras pessoas, dos seus silêncios, dos seus afastamentos, do porquê nem tudo acontecer exatamente quando queremos e desejamos - sim, é realmente uma grande chatice estarmos à espera de um ordenado, por exemplo, que nunca mais chega porque houve atrasos e sim, que nos causa problemas extra, tal como acaba por nos magoar ao sentir que "se calhar" poderíamos ter evitado alguma situação que tivesse levado a outro comportamento, de outra pessoa. Não!! - por muito que as dores de crescimento existam, não podemos mesmo estar a culpabilizar-nos por nada que não nos pertença diretamente.

O processamento salarial está atrasado? Sim, mas vai-se resolver. Os outros não querem falar? Tudo bem, é um processo deles, não é nosso. 

Quantas vezes acordo com vontade de me afastar de pessoas amigas que me fazem bem? Ou quantas vezes acordo a pensar que deveria falar e desabafar com aquela pessoa, mas sei que depois vou parecer tóxica, fraca, ou penso estar a incomodar? Então como se justifica abrir-me com pessoas "estranhas ao serviço"? 

As dores de crescimento são assim necessárias para validar os nossos próprios processos internos, as nossas dúvidas ou aquelas questões que nunca foram pensadas. Servem sim, para não repetirmos padrões emocionais e de culpabilização. Mas irão sempre acontecer quando menos esperamos. 

Pois a vida é isso também - uma educação permanente. Resta apenas saber se a fazemos sozinhos ou com o apoio dos demais. Nenhum homem é uma ilha. 


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Tuesday, September 09, 2025

the small beauty of those great things
September 09, 20250 Comments

Que não se pense que estar "fora" signifique inteiramente férias. Dias longos de sol, esticados numa toalha na areia ou numa espreguiçadeira. Há quem aprenda de forma mais complexa que estar "fora" é apenas isso: estar realmente fora, fisicamente, mas com a cabeça (quase) no mesmo sítio. Focada em trabalho, nos problemas que já foram, que estão e que virão. 

Mas também é nesses momentos, em que, invariavelmente, entre uma ida ao computador e um mergulho no mar, ou apenas no estar ausente "em si", olhamos para dentro. Ou para o que nos envolve. E é nesse preciso instante em que nós, nos julgando superiores a todos os outros mortais, encarando a vida de forma respeitosa e orientada, firmes nos objetivos a cuidar dos nossos muros e barreiras de proteção, verificamos que existe uma racha. Ou pior, que alguém, do nada, que nunca conhecemos na vida, tem a infinita capacidade de derrubar tudo o que achávamos feito de concreto. 

É na pequena beleza dessas grandes coisas que verificamos que, afinal, a nossa vida não estava assim tão bem, nem tão equlibrada. Faz recordar o filme Eat, Pray, Love, quase no final, quando a personagem Liz pensa que, para se deixar levar, para ficar com o Felipe, está a destabilizar todo o progresso que fez, toda a luz que recebeu. Quando afinal o equilíbrio está em todo o lado, desde que nos mantenha sãos e felizes.

E quantas vezes isso acontece ou nos deixamos levar? A vida pede sempre mais, ou achamos que temos sempre mais que fazer, para fazer - que foi tudo um acaso, um acontecimento. Extremo sim, que nos colocou as bases em causa, sem dúvida. Mas com um propósito - vermos e sentirmos que estamos vivos, mesmo quando queremos estar longe de tudo e de todos. Mesmo quando estamos a sarar feridas e a tentar sobreviver ao terramoto. 

Mesmo quando mergulhamos de cabeça, ou sem ser, no mar. 

Não sou crente, não tenho tendências supersticiosas. Mas tudo tem uma causa-efeito. E nada, nem ninguém, aparece ou reaparece nas nossas vidas sem trazer uma lição com ela. 

E no final destas semi-não-férias, ainda a uma curta distância, tenho a certeza que alguma importância, alguns momentos tiveram. O nada e o muito juntaram-se. E de repente acabou. 

Irei aprender a lição e fazer os TPC - prometo. 

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