Falamos de Fado, Futebol e Fátima (ou qualquer forma de religiosidade) e parece que o mundo desaba.
Contudo, parece que à luz do conhecimento atual, e por atual entenda-se, do último ano (porque o ano e meio de pandemia era como se o tempo tivesse parado e até tivéssemos regredido cultural e socialmente), começámos a ganhar um entendimento generalizado do que são os Direitos Humanos.
Parece-me inconcebível que só agora, só nesta semana, na qual voltamos a ter certezas sobre aquilo que a maioria dos agentes das nossas forças de autoridade e, suposta, proteção, pensa sobre grande parte da população que habita no país, portugueses ou não, é que nos lembramos que em alguns países do Médio Oriente, independentemente de serem mais ricos ou mais pobres, não são assegurados os Direitos mais básicos a que todos deveríamos ter acesso ou direito.
Afirmar que "em nome do futebol" podemos fechar os olhos, como se fosse uma justificação, ou que, "é lá da cultura "deles"", é estarmos a compactuar com a situação. É estarmos a aplaudir, a aceitar e, pior, a normalizar a situação.
Atitudes destas, afirmações como a de um Presidente da República, claro que irão repercutir em movimentos xenófobos, além de apenas refletirem uma profunda falta de respeito (e eventualmente de conhecimento e educação) perante determinada comunidade ou país. Faço-me entender: no Irão, a sociedade é, na sua larga maioria, contra o regime atual, contudo, é fácil encontrar aqui (no chamado "mundo ocidental") quem diga que o problema dos jovens, ou das jovens iranianas, não é um problema, mas sim uma questão cultural. Não é - a cultura de um país, que pode ser usada em prol político ou de restrição de, cá vamos nós, liberdade ou direitos humanos, não pode ser bode expiatório para justificar determinadas ações de um governo. É preciso conhecer bem os detalhes culturais e não generalizar. O que apenas se quer ou deseja, é que haja uma hipótese de escolha a essa imposição cultural governamental.
Isto foi apenas um exemplo.
Perceber agora que aqueles países, construídos a partir do nada, no meio do nada, derivados de famílias e sultanatos, cuja forma de fazer negócios poderá ser colocada em causa, onde os direitos das mulheres continua a ser algo inexistente e, onde, claramente, as camadas mais pobres, são maltratadas, não tem aplicados os Direitos Humanos é apenas hipócrita.
Referir aqui, hoje, em Portugal, que o Mundial de Futebol, realizado no Catar, onde por acaso já moram muitos portugueses (e possivelmente ainda irão morar mais nos próximos anos devido às possibilidades de emprego, que aqui, simplesmente não existem), é um exemplo de "horror", é hipócrita.
Sabendo isso, a única coisa que podemos fazer, no caso, é não ver os jogos, é não continuar a contribuir para este negócio da bola, que parece servir como uma desculpa, devido à nossa própria cultura (desportiva?) - um bocadinho como acontece com a tourada, sabem? Ou com a questão das alterações climáticas - sabemos que temos de mudar os nossos hábitos de consumo, mas na verdade não iremos abandonar os nosso estilo de vida, porque, no fundo, não nos dá jeito.
É tudo uma questão cultural, muito enraizada. Uma hipocrisia de 3 F's.
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