Quando a 27 de Janeiro foi inaugurada a exposição Last Folio com videografia de Katya Krausova e do fotógrafo Yuri Dojc, ambos naturais da antiga Checoslováquia, e também eles emigrantes forçados devido à entrada da União Soviética na região nos anos 60, certamente nunca pensámos que o cenário europeu pudesse ter mudado tão rápida e drasticamente.
O seu trabalho, destacando as zonas de infância de Yuri, na agora Eslováquia oriental, demarca a cidade de Bardejov, localizada na fronteira com a Polónia. Comum a todas as exibições análogas, Last Folio deveria ser uma homenagem à sobrevivência, mesmo que sob a forma de livros, cuja SS nazi durante a Segunda Guerra Mundial não conseguiu queimar, ou destruir. Encontrados por acaso na antiga escola judaica, restavam apenas para ser fotografados várias obras em hebraico, religiosas e não só, comprovando a existência em décadas idas de uma larga comunidade judaica na região. Contudo, bastou uma manha para que as crianças fossem colocadas num comboio e encaminhadas para Auschwitz. Nenhuma sobreviveu.
Last Folio - a última folha, corresponde assim a uma brilhante obra fotográfica e de celebração cultural, cujos protagonistas resistentes são os livros que foram sendo comidos pelo tempo, terminando apenas na matéria invisível que nos toca a todos. Pó e átomos. Curiosamente, aprende-se que Natureza não come "letras", a química associada à tinta das palavras é demasiado tóxica, pelo que algumas palavras ficam para sempre - e não é assim que a História é feita?
No dia de hoje, menos de 2 meses depois da sua abertura, corre ser essencial voltar a falar da sua importância. Para que a memória seja resgatada, para que nunca nos esqueçamos, para impedir o quê? A memória do homem é curta. A sua sede de Poder é enorme.
Ainda assim, atos de resistência.
No comments:
Post a Comment