Pelo direito de ter o direito - Cláudia Paiva Silva

Monday, January 18, 2021

Pelo direito de ter o direito

Tu mulher, julgas que és quem? 

Tu mulher, quem achas que podes vir a ser? 

Tu mulher, quem te disse que poderias fazer?

Tu mulher, devias somente ocupar-te com as tuas funções primitivas. Dar à luz em prol da espécie. Preferencialmente machos e só depois fêmeas. mulheres, como tu, que deverão somente ocupar-se em dar à luz em prol da espécie.

Tu mulher, vestes-te assim porquê?

Tu mulher, pintas-te para quem? Uma mulher não anda pintada. Não precisa de chamar a atenção. Deve remeter-se à sua função básica de ouvir, obedecer, calar, não pôr em causa.

Tu mulher, achas que nasceste para seres livre. Engano teu. Tu és livre enquanto o homem decidir que és livre. E ocupas-te das tuas funções básicas, porque o homem assim o exige.

Tu mulher, não tens direito de opinião. Não tens direito de ter uma voz. Não tens o direito de falar. 

Tu mulher, não pensas. Como podes sequer atrever-te a pensar?

Tu mulher, na verdade nem deverias respirar.

Tu mulher, se fosses ocupada ou decente, ou cumprisses as tuas funções, não tinhas tempo para manifestações. Não terias tempo a perder com temas que a ti, mulher, não dizem respeito. 

Tu mulher, julgas que és quem? 

Eu, MULHER, tenho o direito de ter o direito a ter uma opinião formada, tenho direito a uma educação livre, tenho direito a escrever, falar, gritar, ser histérica, ser ordinária, tenho direito em pintas os lábios com as cores do arco-íris. Eu, MULHER, tenho o direito de votar pelo direito a poder votar hoje, amanha, em todos os dias que, enquanto cidadã de um país livre e democrático, assim me for chamado esse dever. Eu, MULHER, tenho o direito de escolher pelo meu corpo, tenho o direito de gostar de homens, de gostar de mulheres, de gostar de ambos, de não gostar de ninguém. Eu, MULHER, tenho o direito de querer ter filhos, de não querer ter, de querer adoptar. Eu tenho o direito a trabalhar, a ganhar o mesmo que os meus pares, de crescer profissionalmente. Tenho o direito de ser julgada exactamente pelas mesmas razões, pelos mesmos motivos. Não por ser quem sou, mas por fazer o que faço. 

Eu MULHER, tenho o direito de ter o direito de LUTAR, sempre pela única coisa que tanto querem novamente nos roubar. Eu, MULHER, tenho direito a querer LIBERDADE.


Dia 24. Vota por ti. Por mim. Por nós. Pelo nosso Futuro. Pela nossa liberdade. Por Portugal.

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