April 29, 2018
BY Cláudia Paiva Silva
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Mais um fim de semana daqueles que voam. Poderia explicar como foi correndo, de mau a melhor, mas simplesmente não creio que fosse valer de alguma coisa. Relatar detalhes do quotidiano não fazem bem parte do meu esquema de escrita, a não ser em diário pessoal, redigido à mão, como dita a regra. Hoje estive mais na onda de dormir até tarde (já que ontem tive mesmo de despertar cedo), mas gostei muito mais de ter passado a tarde, até há relativamente pouco tempo, a ler artigos científicos, coisa que já não fazia há algum tempo.
Contudo, não deixa de ser altamente perturbador, verificar que já é tarde, que já são horas de fazer jantar, de preparar as tralhas para mais uma semana de trabalho, que, felizmente, no meu caso, será muito mais libertadora e interessante do que já o é habitualmente. Semana de congresso internacional de Geologia do Petróleo, trazendo cientistas e apresentações de trabalhos para nos (me) fazerem pensar.
Ainda assim, tenho tido tempo para pensar nos artigos sobre as chamadas, por alguns, "futilidades" da vida. Que eu, pessoalmente, até gosto. Cada vez mais até. Porque começo a ver que bons textos podem perfeitamente bem estar associados e ser escritos em contextos que não obrigatoriamente intelectuais, ou melhor, que textos quase intelectuais podem ser relacionados com estilos de moda, estilos musicais, de arte, de cultura nas mais variadas formas.
Faz-me por isso alguma confusão quando pego em alguns blogues das tais instagrammers (que, sabe-se lá porquê agora dizem que não são nem querem ser influencers) mais conhecidas, e não leio nada. Nada. As publicações são apenas limitadas em fotos. Fotos de roupa, e links às marcas. E a uma frase de introdução.
Sim, mais uma vez este texto não é o mais brilhante ou politicamente correcto no que diz respeito à minha participação nas redes sociais. Talvez porque, na verdade, eu perceba perfeitamente que a bolha, não tarda nada, explode, e a próxima moda seja outra. A próxima tendência do "ser" algo no mundo, virtual ou não. E que as cabeças que com isto conseguiram algo (e são muitas mais as cabeças de vento, do que as que realmente fazem das suas páginas algo de diferente), depressa poderão ser esquecidas.
Ainda assim, mesmo assim, eu vou aproveitar a onda. Enquanto houver gente interessada em ler coisas online, vou continuar a escrever - e mesmo que deixe de haver gente interessada, vou continuar a escrever.
Pelo que hoje, a publicação será mais leve. Mais fotográfica. Mesmo mais "blogger". Porque as próximas serão sobre outras temáticas, giras na mesma, mas não tão apelativas.
(@Martim Moniz)
E aqui está o resultado. Porque de repente uma tipa pensa, que mal faz tirar fotos diferentes? Sim, eu sei que posso escrever sobre a Síria, sobre a Palestina (oh meus amigos, a sério que querem mesmo isso? Então sigam-me no Facebook, iriam adorar as minhas opiniões políticas e ainda mais incorrectas!), mas posso também divertir-me, porque a minha vida nem sempre é uma maravilha e não faço fotos numa de mostrar uma realidade que nem sequer existe. As minhas imagens são muito reais. Todas elas. Não há nada de forçado. Detesto forçar sorrisos, expressões, posições.
E sim, ter um companheiro que tanto me segue nas loucuras sobre as rotas das judiarias, do românico, ou dos castelos, como (espero eu), tenha a pachorra para ir até Lisboa ou ao Porto e calcorrear colinas abaixo e acima, ajuda muito. Porque aprendemos imenso, porque, para nós, a piada disto tudo, é o conhecimento que adquirimos, ao mesmo tempo que estupidamente, também tiramos fotos um ao outro, quando estamos mais pipis em termos de vestuário, ou mesmo quando não estamos!
(Escadinhas de São Cristóvão)
Até porque ele também tem pinta e sabe, melhor que eu, até, como e quando sacar as melhores chapas.
Então há dias, lembrei-me de vestir uma saia comprida e usar um chapéu de feltro, apanhar o comboio para irmos comer aqueles pequenos-almoços que servem de almoço e muitas vezes de lanche e jantar, qual não é a quantidade de comida que nos é apresentada (e que, no nosso caso, marcha toda): brunch! A piada da coisa é que mal entro no comboio, sendo um sábado, começo a verificar que toda a gente estava demasiado bem vestida... e foi quando comecei a perceber que iria haver um evento qualquer religioso dum culto (não sei qual, palavra), e as pessoas sorriam para mim porque achavam que eu iria igualmente participar. Não ... o meu culto seria outro: primeiro apanhar uma desilusão no TOPO do Martim Moniz, que brunch já não fazem há vários meses, isto dito com maus modos por empregada que certamente gostaria de estar a gozar o dia semanal de outra forma, depois, seguir até ao famoso Nicolau, na Rua de São Nicolau, para, novamente, uma vez mais, perceber que NÃO, aos fins de semana, NÃO SE DEVE IR ATÉ LÁ... porque as filas são insuportáveis. Nos entretantos, percebemos que o conceito de refeição existe em todo o lado, e acabamos por ser servidos por um paquistanês num café/restaurante, praticamente vazio e/ou desconhecido, exactamente ao lado do café/restaurante famoso. O bolo de chocolate estava muito bom. Só naquela...
(@ Rua dos Fanqueiros)
(@ Petit Gâteau Café na Rua dos Fanqueiros)
No meio da brincadeira, deu para abrir e ler na diagonal, porque parecendo que não, o raio do tempo, voa voa, a revista Flaneur, cuja última edição fala sobre a rua 13 de Maio, no coração do Bairro do Bixiga, em plena cidade de São Paulo (a falar em publicação num futuro breve). A tarde estava assim, parcialmente, feita. Só que não.
Acabámos por começar a fotografar (em tempo recorde e dentro da área onde nos localizávamos) a cidade. Os prédios. As pessoas. Isto há umas semanas, antes de mais um aniversário do massacre de Lisboa, já falado aqui na Carroça. E tive (tivémos) a certeza que por muito que façamos, por muitas ideias que tivermos, seja qual for o objectivo final das nossas fotografias, das nossas publicações, das nossas "futilidades", existem coisas que não mudam. A vontade de fotografar gentes, vidas, das que ainda vão resistindo, cada vez menos, na cidade capital. Independentemente de brunches, lunches, lanches, a ideia final é realmente aprender mais, saber mais, encontrar novos recantos, becos, caras, momentos. Malta nova que aparece a chorar em escadinhas (como nessa tarde), ou pátios desconhecidos da maioria dos turistas, porque funcionam como comunidades fechadas, dentro de muros e portões, como ocorreu nos santos populares em 2017.
Hajam rituais que não mudem, e escritas que sejam mesmo mais do que roupa e sapatos, apenas.