Não há como negar. Em 10 anos o mundo mudou radicalmente e muito se deve, clara e obviamente, à presença cada vez maior das redes sociais, não apenas em estratos académicos, jornalísticos e políticos, mas porque, com a possibilidade de cada um de nós ter um espaço público-privado em rede, online, vemos, partilhamos, comentamos e acabamos por ter um papel muito mais importante do que pensamos no mediatismo dado a determinados assuntos e temas, a pessoas, acontecimentos.
Quando no passado as nossas opiniões limitavam-se ao que se lia nos jornais e via nos noticiários, e às conversas típicas e míticas quase, de café, hoje dos cafés, passamos rápida e de forma selvagem, diria mesmo, para os computadores. A forma despudorada como repartilhamos notícias e informação (nem sempre verdadeiras), mas acima de tudo, a forma como criticamos os outros, sem filtro (ou com filtro - basta ser através duma máquina, sem mostrarmos realmente a nossa cara), torna-nos tão ridículos como aqueles que dizemos o serem, maus, terroristas, ordinários, fáceis, difíceis, pseudo-intelectuais, egocêntricos, e por aí segue.
Ontem foi apresentada a fotografia vencedora do World Press Photo. Um exemplo claro de como a intervenção da partilha rápida de informação chega a todo o mundo no preciso instante em que "tudo" acontece. Não gostei que fosse a imagem vencedora, principalmente porque demonstra, qual cena de filme, um homem de arma em riste, gritando "vitória" após ter morto outro homem. Homem. homem. A partilha desta imagem traduz-me imediatamente a mensagem de que ninguém em nenhum lado está a salvo, está em segurança. Também me transmite que o terror não se mede pela cor de pele, pela raça, ou mesmo pela simpatia religiosa ou política. O Terrorismo parte de cada um de nós, dos nossos mais íntimos desejos e ideais que, quando vamos a ver, são espalhados de forma absurda pela internet, sem que alguma vez saibamos bem como é que acontece. Da mesma forma, é preciso compreender que há uma população jovem que, estando em casa, perante o perigo que é estar na rua nos dias de hoje, está cada vez mais alienada num sistema de consumo que proporciona os prazeres (e privilégios) de ter acesso a tudo, desde que não se incomode os mais velhos. Nessa alienação começam os primeiros perigos de extremismo à medida que vão consumindo informação que nem sequer é vista ou limitada pelos progenitores, numa onda de confiança de que os filhos(as) são pessoas que estão a ser bem formadas e educadas em sociedades que se querem "ocidentalizadas". Teerão não é mais ninho de terroristas como as Mercês (Linha de Sintra). Em todo o lado onde haja minorias ou maiorias haverão potenciais terroristas. Sendo islâmicos ou católicos.
A perpetuação dos actos terroristas, de como se geram estas ideias nas mentes de miúdos, a constante transmissão das imagens de atentados pelas redes sociais poderá então estar a encorajar outros tantos, que, sem qualquer objectivo de vida a curto, médio ou longo prazo, a se juntarem só pela "piada", não contando eles, nem nós, que se seguirá uma lavagem cerebral rápida, uma vez que as pessoas hoje não querem/ sabem ou estão preparadas sequer para pensarem muito. Ou pensarem sequer. (A "piada" aqui poderá ser comparável à "piada" de se ter votado no Brexit sem ter noção do que era, ou a "piada" de se ter votado no Trump, acreditando que ele nunca ganharia).
A "glorificação póstuma", como já foi denominada esta crise de valores e de ética (https://www.publico.pt/2016/07/29/mundo/noticia/estaremos-a-ajudar-a-criar-assassinos-1739733), é altamente prejudicial, dando ênfase ao que não se deve - e a foto vencedora é um exemplo disso. Glorifica o Mal. Mostra um Poder que não existe, pela parte de pessoas que se converteram para algo que não sabem o que é em algo que não sabem o que são. E que infelizmente acabam por ser destruídas com e por isso, também.
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