September 28, 2016
BY Cláudia Paiva Silva 1
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Quem é o Gustavo Santos?
Na verdade, eu não sei bem - acho que apresentava o Querido, Mudei a Casa, e fora disso, escrevia umas patacuadas no Facebook na linha da auto-ajuda. Em tempos viu-se o nome dele envolvido numa polémica qualquer (porque comentou já nem sei o quê e muitas pessoas ficaram em modo "ira"), mas depois passou. Eu acho-lhe alguma piada, mas quando ele tenta dar exemplos básicos às pessoas, quase que nos toma por estúpidas (e como a maioria até é, podem interpretar as coisas de uma forma menos boa e mais radical).
Sei que, contudo, escreveu um livro. Ou melhor, pagou a alguém para lhe publicarem um livro. E a coisa pelos vistos vendeu. Quanto mais não seja para os leitores terem algo com que se rir de manhã nos transportes públicos, ou, em caso de SOS, que lhes sirva de papel higiénico.
O Gustavo apresentou em duas páginas do seu livro um exemplo brilhante de como aquilo que nós queremos (o nosso EU quer) é mais importante do que qualquer outra coisa. Atenção! Ele tem razão - não podemos abdicar das nossas vontades só porque quem está connosco não sabe, não quero, não tem certezas ou quer algo completamente diferente. O título do episódio é perfeito: "Se sabes o que queres, não pode haver cedências". Contudo, o exemplo é super infeliz.
Ele foi a um restaurante com a namorada. Queria peixe.
A namorada não gosta de peixe, pediu arroz de marisco.
O "homem" (sujeito a quem o Gustavo se refere - presumo que empregado ficaria melhor na escrita), disse que arroz não, porque era para duas pessoas.
E pronto. Arrumava-se a história. A menina pedia outra coisa e ponto final. Mas não.
O Gustavo pegou então neste exemplo (ela acabou por escolher um bife - pior seria se também não comesse carne), para explicar que quando nós (o nosso EU) sabe o que quer, seja comida, seja na vida, não pode haver qualquer tipo de cedências, não há cá ser-se fofinho ou fofinha em prol da nossa cara metade, ou seja de quem for que esteja connosco. O que NÓS queremos (e ele queria peixe) não pode ser o que o nós quer (ela tinha de comer arroz a dobrar ou levar para casa ou então ele tinha de comer o arroz com ela).
O que eu concluo é que não foi um bom exemplo. Uma pessoa realmente parva lê isto e interpreta que não se cede a uma refeição, nem a mais nada - é como eu quero e pronto. E com isto pode ser qualquer coisa. Um filme, um livro, uma ida à praia, um estilo de vida.
É demasiado simples para algo tão mais importante do que uma dourada grelhada.