Li agora que Portugal pode atravessar uma grave crise de carência alimentar, uma vez que os preços dos alimentos estão a ficar cada vez mais caros. No tempo dos nossos pais e avós, fome era uma palavra comum, devido às guerras, aos pós-guerras, à pobreza geral. No pós-25 de Abril, os campos outrora trabalhados pelo POVO, deixaram de produzir. Uma coisa é a "terra a quem a trabalha" outra é, esses trabalhadores saberem lidar com as burocracias e dinheiros. Hoje em dia, os agricultores vivem (muitos deles, mas não todos) à custa dos subsídios que, meus caros, irão acabar, se é que já não acabaram. E nós, geração enrascada que, segundo alguns, não gosta de sujar as unhas com trabalho, iremos começar a passar fome ou pelo menos a ter algumas omissões alimentares. É fantástico ouvir e ler comentadores afirmarem que a culpa, para além desta cambada de jovens enrascados, claro, é de quem nos educou e criou, porque não nos chamaram a atenção de que um dia as coisas iriam mudar... para pior. Pois, eu realmente já disse à minha mãe que ela fez um enorme disparate em ter deitado fora a "bola de cristal" que tínhamos, pois é óbvio que lhe teria dado jeito. Mas ela, coitada, acreditando que o meu futuro seria melhor que o dela, pelo menos quando tinha a minha idade, uma vez que eu iria estudar e ter uma licenciatura e talvez um mestrado, num país que durante o fim dos anos 80 e durante toda a década de 90 até nem passou mal, pensou que realmente não precisava já dos seus dotes de vidente do futuro. Quem diz ela, diz todos os outros pais de gente enrascada entre os 25 e os 40 anos. Todos falam da canção dos Deolinda, mas esta manha recordei-me de uma que, para mim, será ainda mais emblemática, embora raras sejam as almas que se lembrem da sua letra e da sua intenção. (Se calhar sabem-na melhor cantada com a letra do Futebol Clube do Porto...). Chamava-se "Filhos da Nação", data de 1993/94, altura das outras manifestações estudantis da, na altura, designada "geração rasca". Parte da letras consistia no seguinte: "... no canudo reside a esperança.." e qualquer coisa como "... ansiosos por saber, se o Futuro é salvação". João Portela, letrista, e, obviamente, vidente! Pois, naquela época, todos queriam ser doutores e engenheiros, tudo queria ter um canudo, porque supostamente isso dar-nos-ia a resposta às nossas dúvidas (e na altura eu tinha 9 anos, sabia lá alguma coisa da vida). Hoje a continuação da cantiga resume-se a "... que mundo tão parvo, onde para ser escravo é preciso estudar..." É o exemplo maior do downgrade a que tivemos direito. Estuda = vais ser alguém na vida; Estudaste = afinal não vais ser ninguém na vida. E agora isto da carência alimentar.... Presumo que já tenham visto as reportagens sobre as hortas que se estendem nos campos em redor das autoestradas e vias-rápidas, pelo menos na região de Lisboa. Acho, cada vez mais, que devíamos ter a nossa horta particular, auto-sustento para famílias, quiçá. Porque isto está mal e vai, realmente, piorar.