O testemunho de hoje chega após leituras influenciadoras. Todas elas com um ponto em comum: o amor, a paixão, o que prevalece mais, o que é mais importante no relacionamento. Terminando, não raramente e não menos de forma coincidente com: a paixão acaba rápido (não mais do que X número de meses, vá, 1 ano, "top"), mas o amor, ah, o AMOR, esse vai-se construindo ao longo de uma vida.
O problema é quando esse amor todo vira amizade e as pessoas ficam juntas por uma questão de hábito. Vou agora sair de uma relação que dura anos, só porque já não há faísca (paixão?), ou prefiro manter-me confortável? Afinal tenho casa, estou estável e equilibrado(a) financeiramente, não há lugar a discussões. Mas poderá haver margem para um maior distanciamento, e para uma outra pessoa, uma terceira pessoa - que embora não aqueça nem arrefeça, poderá trazer o confronto da realidade que, no fundo, já se adivinhava.
Não sou especialista na matéria. Nem tão pouco tenho qualquer moral para fazer juízos de valor - apenas acho que o cerne da questão não passa pelo casal, mas sim, pelo individual. Não que acredite que as relações agora devam ser egoístas - nada disso. Mas numa situação destas, o que sentimos, por nós mesmos, deveriam contar mais. O problema é quando já não há tanto amor assim. Nem pelo outro, e, no final do dia, nem por nós.
Haveríamos de almejar mais - faz parte do ser humano também. Outro artigo que li. A sobreviência da espécie fez-se e continua a fazer-se, com o nosso crescimento enquanto criadores, enquanto hábeis no fazer e evoluir. E isso pode ser feito a dois, claro - mas quantas vezes um quer, e o outro prefere a monotonia do espaço-temporal? Deverá alguém abdicar? Sempre ouvi dizer que no amor (e aqui esqueçam, ainda, a paixão) não é uma questão de abdicação, mas sim uma questão de adaptação, ouvir e compreender o outro, as suas necessidades e expectativas. E BANG!, outro pequeno apontamento que acho relevante: as expectativas.
A maioria das relações pauta pela expectativa que temos em relação ao outro e, no fundo, em relação a nós: vestimo-nos de determinada forma para agradar, colocamos determinado perfume para agradar, passamos o tempo a pensar do que o outro(a) pensa de nós. E, principalmente, de forma errada, projetamos no outro o que gostaríamos que a nossa vida pudesse vir a ser. Vejamos, e isto acontece sempre no início de qualquer relacionamento amoroso: ainda nem sequer conhecemos a pessoa, e já estamos a imaginar uma série de coisas para um futuro que ainda nem sabemos se algum dia poderá realmente acontecer. O grau de projeção, expectativa e ansiedade tornam-se brutais, mas, graças às hormonas, apenas temos sintomas típicos de quem esteja apaixonado, embora pense em algo mais.
Não tanto amor assim no início, mas não tanto amor assim quando as relações também se revelam, digamos, perigosas.
Falemos de paixão. Não estou de modas, paixão para mim é sexo, luxúria, desejo, provocação, sensualidade, erotismo. That's that. A paixão é definitavamente o extremo da coisa. O que nos faz ir em frente, mesmo sabendo que vamos bater no rail de proteção. E, no entanto, não vejo melhor exemplo para paixão do que aquela que está irremediavelmente associada a questões sociais, a ativismo político, também.
Uma paixão destas leva à cegueira, sem dúvida alguma - pessoas que se tornam mártires pela "causa". E isso acontece também nos relacionamentos humanos, pensemos, monogâmicos. Os relacionamentos tóxicos, sobretudo. Os relacionamentos onde pauta sempre um laivo de violência, seja psicológica, fisica, verbal. E há sempre um lado mais fraco. Fraco. Frágil. Sempre um lado que não deveria ter adjetivação, muito menos a de "vítima", ou "sobrevivente". Mas pior ainda será o de "resignado". Mulheres e homens que passam uma vida quase inteira à espera de terem um suspiro de alívio, geralmente quando o outro morre, podendo finalmente perceber o que seria terem vivido em paz. O que leva a aguentar uma situação destas? A tal adaptação que mencionei? A fé cega, talvez derivada da paixão, de que vai haver uma mudança de padrão, de comportamento?
Continuo a debater-me com algumas questões que não terão resposta. Cada caso é um caso e, no momento, existe um peso social muitíssimo maior do que se julga. Quando vemos que está tudo errado e, mesmo assim, não somos nós a sair, a largar (porque existe também a ameaça velada ou direta do "não comigo, nunca contigo", algo como "se não és minha/meu, não és de mais ninguém"), que resta do amor próprio?
Talvez seja melhor, então, estarmos sozinhos uma vida, não?, podem-me perguntar. Não penso assim, mas não tenho uma resposta ideal. Acho que há (ainda) esperança para que tudo dê certo, embora essa coisa dos finais felizes, sejam algo que dê imenso trabalho, todos os dias. E nem todos temos a oportunidade e paciência para mais uma responsabilidade dessas.
É uma responsabilidade sim. A nossa felicidade.