Sal a Sul - Paulo Couto |
Numa nova abordagem ao turismo nacional, o Turismo de Portugal apresentou durante a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) um novo roteiro dedicado ao Turismo Industrial.
Através deste, qualquer pessoa poderá conhecer mais e melhor sobre alguns dos principais setores técnicos e industriais, que são também cartão de visita do nosso país. São vários os temas e as visitas possíveis, não esquecendo os produtos chave das regiões nacionais ou mesmo as paisagens e geomorfologias que caracterizam cada área visada.
Dentro destes destinos, as salinas portugueses nas orlas marítimas destacam-se nomeadamente pela sua descrição e beleza, e ocupação natural do território, criando ecossistemas únicos e paisagens incríveis (Rio Maior caracteriza-se por ser a única salina interna do continente, cujo teor de sal resulta ainda da geologia Hetangiana/Jurássica e não pela influência do mar ao passo que em Loulé e Torres Vedras, a extração do sal resulta a partir das minas de sal-gema, também da mesma idade geológica). Desta forma, a grande parte das salinas ou salgados, resulta da ação direta das marés, às quais se juntam os balanços apropriados entre a evaporação da água e a deposição do sal.
Caídas em esquecimento nas últimas décadas, a maioria das salinas encontravam-se ao abandono, criando imagens por vezes desérticas, considerando a menor entrada de água pelas condutas típicas. Por outro lado, as principais produtoras, em Aveiro e no Algarve, transformaram-se e reabilitaram-se, não apenas para consumo interno e exportação, mas principalmente por saberem a importância de identificar e reconhecer a necessidade de mudança e inovação do setor, procurando responder às novas tendências do mercado. Além da alimentação e conservas, junta-se também uma série de produtos cosméticos, a criação de espaços museológicos, spas salinos e parcerias com outras indústrias, empresas e também restaurantes e lojas gourmet, gerando-se assim um novo ciclo de vida a produtos de alto valor e que tornam o sal uma marca por si só.
Do tempo dos Fenícios que trouxeram consigo a arte da salga em pleno século VIII a.C, aos reticulados e ao "salário" romano, passando a ser uma poderosa moeda de troca durante a Expansão, o sal é, ainda hoje, um dos principais recursos naturais do mundo.
Uma rota menos usual e mais longínqua da capital, leva-nos a Castro Marim, vila algarvia junto à língua do Guadiana na raia com Espanha.
Sal a Sul - Paulo Couto |
Sede da Ordem de Cristo em 1319, tornou-se um dos principais pontos de defesa militar a sul do território. Contudo, o clima áspero e mais árido, seco, ao longo de quase grande parte do ano, levou ao despovoamento até à época da Expansão Marítima, voltou a colocar Castro Marim na geografia geopolítica do Sul, em passagem para o Mediterrâneo. Não é assim de estranhas que os seus habitantes tenham beneficiado em genes, os conhecimentos, saberes e tradições das influências de outros povos, que não apenas dos que foram donos e senhores a seu tempo da região, mas também dos forasteiros, fosse por trocas comerciais, ou apenas em caminho para outras terras.
Primeiro trabalhadas pelo homem, geralmente os condenados a desterro, as salinas de Castro Marim são referenciadas desde o século XIII. Hoje em dias são homens e mulheres que realizam a recolha do sal manualmente.
O sal marinho, é recolhido à mão, através de técnicas tradicionais e ancestrais, resultado da interação das marés, do vento e evaporação. Forma-se no fundo do talho (as divisões compartimentadas de variada dimensão, geralmente forradas a argila), onde vai engrossando. A crosta de sal é então partida, empurrada e lavada na sua própria água, sendo amontoada em pirâmide até secar.
Já a Flor de Sal, é a película fina de cristais primários que flutuam e cristalizam na superfície das águas, gerando um coalho. Este é então recolhido com instrumentos especiais, sem tocar no fundo, evitando não apenas o sal grosso como também as areias e argilas negras, ricas em matéria orgânica.
Embora seja o sal marinho e a flor de sal os mais procurados e conhecidos, em termos de caracterização, podemos ter outros tipos de sal - em Castro Marim, também se encontra disponível o "sal líquido" que resulta da filtragem das águas-mães e serve para borrifar saladas e outros pratos de forma mais fácil.
Cada tipo de sal, devido às suas origens, irá possuir concentrações diferentes em elementos químicos, todos essenciais ao nosso organismo. Por exemplo o sal light, resulta em metade das concentrações em cloreto de sódio e potássio, sendo especialmente indicado para quem sofra de patologias onde a ingestão de sal tem de ser reduzida e controlada. Mas de forma geral, o sal, tal como o conhecemos, é rico em magnésio, cálcio, potássio, ferro, zinco e manganês, além de iodo.
Nos spas salinos, como no caso de Castro Marim e também em Aveiro, os banhistas podem flutuar em águas entre os 25 e os 32 graus de temperatura com uma salinidade total de 20 graus baumé. Contudo, além do acesso a piscinas que servem apenas para o propósito de ócio e bem-estar terapêutico, a componente de cuidado com a pele, também tem a sua importância. A partir dos oligoelementos e sais minerais que as argilas salinas contêm, estas funcionam como excelentes esfoliantes mecânicos (ou físicos). Por serem ricas em sal, irão procurar as zonas húmidas da pele, limpando e absorvendo as impurezas. A haloterapia à qual se junta o conhecimento geoquímico, é sem dúvida reconhecida pelo seu benefício à circulação sanguínea, hidratação e limpeza da pele, acne, alergias, psoríase e problemas de articulação, retomando uma importante componente de tratamentos à saúde humana.
Portugal, banhado pelo Atlântico salgado, comprometido a um grau emocional sem comparação com este oceano, poderá apenas ganhar com este filho do mar, nascido e criado nas nossas orlas costeiras, e recolhido pelas nossas mãos. O sal é a forma da nossa saudade.
Sal a Sul - Paulo Couto |
Para mais imagens: Paulo Couto - Alma de Castro Marim