June 20, 2017
BY Cláudia Paiva Silva
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Não há qualquer justificação para o que aconteceu no passado fim de semana. Os dias 17 e 18 de Junho de 2017 ficarão para sempre e infelizmente, nos livros de História, nas imagens da comunicação social, na nossa Memória colectiva. Não há culpados, não há mão criminosa, não há milagres e milagres houve.
Não se consegue simplesmente perceber, por muita revolta e dor e mágoa e horror, como a tragédia aconteceu. Ou sequer pensarmos em imaginar, OUSAR imaginar o que um ser, SER, sente, SENTE, quando sabe que vai morrer, e muito menos imaginar o que sente depois quando percebe que se salvou enquanto que os outros que iam atrás, ao lado, à frente, foram comidos e levados por um vento de fogo e calor, que só se conhecia por outros relatos, de outras histórias. A única coisa que resta é o descrédito, a incredulidade, o parecer estar a viver planando entre o sonho e o pesadelo. Para muitos, a realidade vai demorar a chegar.
Quando ontem se ouve que a culpa foi da GNR que não encerrou a estrada (houve quem morresse em casa, outros nos carros, ninguém sabia que aquilo iria acontecer), ou dos Bombeiros que não chegaram (não chegavam para todos quando o Fogo consumia tudo numa velocidade que ninguém se lembra em décadas de vida), ou que as previsões meteorológicas falharam (porque são previsões, porque não há capacidade nenhuma humana ou mecânica para saber ao certo o local exacto de queda de um raio, e muito menos que iria originar um incêndio sem precedentes), resta-me pensar que nós, portugueses, já não nos agarramos à Fé como justificativa para tudo. Precisamos de um culpado- mesmo que esse culpado sejamos nós todos, um bocadinho de nós todos, e que nós todos também ardemos nesse Fogo do Inferno, e que nenhum de nós poderá ou deverá ficar indiferente ao que aconteceu.
Quando apenas 2% da Floresta é do Estado, mas tudo o resto é de pessoas como eu, como vós, que não limpamos, que não ordenamos, e quando sabemos que os próprios governantes podem à força serem eles a agir para prevenir, a culpa recai sobre quem?
Não consigo voltar a ser como era. Não consigo deixar de pensar que a terra do meu pai também foi afectada. Posso não ir lá com a frequência com que deveria, mas de certeza que ao lá voltar irei com um respeito imenso, um reverência diferente, em respeito pelos mortos, e pelos vivos. Pelos que sobreviveram.
Mas acima de tudo, espero que sejamos capazes de reconhecer que a culpa não, não poderá morrer solteira, que todos temos mão neste Fogo, nestas mortes. Que somos todos responsáveis. E acima de tudo, que saibamos que contra a Natureza NADA podemos.
Há que estar em luto. E possivelmente durante muito tempo.