Não nos façamos de tontos. Este referendo foi apenas simbólico. Uma tentativa de mostrar aos restantes estados membros da moeda única que as coisas devem ser feitas sempre com o apoio do Povo. O Povo, esse que supostamente, mais ordena. Em Portugal não houve qualquer referendo para saber se queríamos um pacote de medidas de ajuda (austeras) para podermos começar a pagar uma dívida astronómica para com aqueles que nos emprestaram dinheiro (e roubaram com isso toda a nossa indústria). Mas não vale a pena estar a discutir o passado. O importante é que começámos a pagar (e bem) e no entanto ainda cá estamos, mesmo com cortes, mesmo com salários congelados, ainda conseguimos ter dinheiro para pagar alguma comida, alguns medicamentos, alguns exames médicos e consultas. Ainda não estamos totalmente falidos. Ainda vamos sobrevivendo.
Na Grécia isso não acontece. Os bancos não têm mais dinheiro. As pessoas não têm empregos e para piorar, a forma como vemos um grego é praticamente verdadeira: um bocadinho para o aldrabão, como eles próprios admitem.
Daí que não em espanta nada que Varoufakis tenha pedido demissão do cargo mesmo com a esmagadora vitória do Não - ele que disse que se demitiria ("prefiro cortar um braço...") caso vencesse o Sim. É que ele sabe (e nós também) que não há outra solução para a Grécia a não ser ceder perante a União Europeia. O Não ter ganho é realmente simbólico e importante - o povo grego, democraticamente, fez História. Fez um STOP à Europa -, contudo não é assim que os bancos irão reabrir amanhã. Não é assim que vai haver crescimento económico, criação de empregos. Se às medidas que a UE poderá impôr á Grécia durante o impasse do Grexit ou não-Grexit, juntarmos a possível saída do EURO, estamos tramados - os mercados financeiros já estão a ceder e a banca de Lisboa é logo das primeiras a dar sinal. Aflige-me as repercussões que esta atitude grega possa ter em nós. Nós Portugueses porque honestamente com o mal dos outros países posso eu bem, e já se viu que uma Espanha e uma Itália, por pior situação que estejam em relação a nós, parecem ter sempre as costas quentes.
Que a Grécia tenha demorado 15 anos a "bater o pé" à UE é apenas de lamentar - vem agora um governo de esquerda, que não tem nenhum partido que lhe faça oposição, brincar às birras e com a vida das pessoas. Ontem estava o Daniel Oliveira preocupado com a esquerda e a direita.. ele deveria era estar preocupado com as pessoas. Vidas Humanas que devem querer lá saber se é a Esquerda ou a Direita. O que querem é poder sobreviver.
Não tenho nada em favor ou contra a Grécia - enquanto país nunca me fascinou, com excepção de Salónica (e por motivos Históricos não-recentes). A única coisa que peço é: não nos lixem a nós também, já que não souberam fazer o mínimo dos trabalhos de casa ao longo dos últimos tempos.
Vejam lá então se fazem o que todos esperam: um acordo que não vos mate, mas esfole - é que isso toca a todos!
PS - Segundo o gráfico abaixo, a Grécia é sem dúvida o país com maior dívida pública - ainda assim há países que embora não estejam nestas mesmas condições financeiras, estão a passar por momentos mais difíceis, quer pelo valor dos salários, pensões e reformas ser mais baixo, quer pelos impostos serem mais elevados.