Seria sem dúvida mais proveitoso se, por acaso, Portugal tivesse a mesma recepção no Brasil, do que aquilo que no sentido inverso ocorre. Para o Brasil o sentimento duplo de "irmão" e "colonizador" ainda está muito visível e, se é claro que falarmos a mesma língua pode ajudar à compreensão e integração dos dois povos, que quer se queira, quer não, têm culturas e formas de ser tão distintas, que nos afastam mais do que juntam. O que eles conhecem da nossa forma de ser é "ora pois", "gajo", padarias, Maria e António, pastéis de Belém (toma lá que o Cavaco já ganha uns pontos!), bacalhau e Roberto Leal (valha-me Deus!) e depois apanham uma pessoa que lhes tem de explicar que não é nada disso e acabam por perceber que eu sou tão estrangeira como um americano, francês, etc.. Acreditam, por motivos óbvios (segunda maior cidade japonesa deve ser São Paulo), a comunidade nipónica é masi brasileira do que qualquer comunidade portuguesa.
Outra coisa, lá, eu era uma pessoa, e sem dúvida que regressei diferente, mas cá, o meu comportamento mantém-se igual ao que era antes de ir para terras tropicais. Simples, não me posso transformar em algo (que no Brasil fazia sentido) quando (mesmo penosamente na altura) regressei aquela que é a minha terra. E não posso fazer cá as mesmas coisas que fazia lá. Primeiro, a vida não permite, segundo, é que apesar de sermos um país de "1º mundo", não temos nada a ver com a efusão festivaleira que eles têm. Daí que, já deu arranque em Brasília ao Ano do Brasil em Portugal, ou Portugal no Brasil. As iniciativas e atividades são imensas e a programação está excelente, contudo, fazendo hoje um mês após o meu regresso a terras lusas, a vontade que eu tinha de amanhã ir ver Ney Matogrosso ao vivo e a cores, gratuitamente, no Terreiro do Paço, já se foi para algum lado que desconheço. Estou cansada, sonolenta, e tenho outras obrigações caseiras para fazer (oh, limpezas!). Além de que, Terreiro do Paço é espaço aberto, o risco de estar fresco de noite torna-se cada vez maior à medida que, hey! amanhã entramos no Outono! e pode chover. Ou não! Simplesmente há coisas que devem ser vistas em locais apropriados e nos timings certos. Não estou no timing certo. Alias, não serei só eu. Acho mesmo que Portugal não está no timing certo para estas coisas.