Foi com enorme espanto (OHHHHH!!!!) que há dias vi o (im)possível acontecer, a zona Norte da Costa a ser invadida por umas águas cada vez mais selvagens do mar. Muito sinceramente chocou-me pelo simples motivo de saber que aquela área nunca mais vai ser a mesma, porque a extensão de areia que tem sido reduzida ao longo dos últimos 50 anos (provavelmente mais, mas na altura não se sabia ou não se ligava), não vai voltar ao lugar certo e, porque, mesmo que se efectuem obras de protecção costeira, será apenas isso: obras de protecção costeira, para prevenir novas invasões pouco amistosas de um reservatório terrestre, que tem tendência para aumentar o seu nível médio. Sendo assim, eu, que não sou assim tão velha para não me recordar do que tinha que andar até alcançar água da Costa da Caparica, fico com a ideia de que em menos de 23 anos, tive a oportunidade de ver uma zona costeira portuguesa a desaparecer. Mas sabem mesmo mesmo o que é o melhor disto tudo (e atenção, estou altamente irónica)? Check this out:
"O Governo vai autorizar a construção de 30 mil camas turísticas nos 50 quilómetros da costa alentejana que ligam Tróia a Santo André. Apesar de se implantarem numa zona com valores naturais essenciais que o Estado português é obrigado a preservar, o Governo garante que os projectos são sustentáveis e vão avançar. Para a Quercus, estas estimativas são baixas. E o panorama agrava-se se a estas camas se somarem mais 45 mil em projecto para o litoral até ao Algarve. O mais grave é o que pode vir, alertam os ambientalistas. Ou seja, o precedente que se abre com a aprovação destes mega empreendimentos, alguns com sete mil camas. "Se não somos capazes de conter a construção dentro de uma zona prioritária como a Rede Natura 2000, como o vamos fazer fora dos sítios especiais de conservação e impedir que a costa fique toda ocupada?", questiona Dário Cardador, da Quercus. "Depois vai ser difícil dizer não."O que vai surgir no Sítio Rede Natura Comporta Galé - uma classificação atribuída pela União Europeia para zonas especiais de conservação da natureza- ainda não foi definido. Isto porque os projectos não estão todos aprovados, estando uns numa fase mais avançada do que outros. Para ter um panorama global, o Ministério do Ambiente analisou a faixa que liga Tróia a Santo André e estimou a capacidade que esta zona sensível tem para acolher projectos de turismo. Estes dividem-se por seis áreas de desenvolvimento turístico, já previstas no Plano Regional de Ordenamento do Litoral Alentejano. E que, no total, segundo as contas do Governo, não chegam a afectar nem 2% do total do Sítio de Rede Natura. A Quercus faz uma leitura diferente destes números que, aparentemente, até podem ser considerados como de impacto pouco expressivo. E põe a questão de outra maneira: "Se há alternativa, porque não se constrói tudo fora da zona protegida?" Em causa estão os empreendimentos previstos para Tróia, Comporta, Praia do Carvalhal, Melides e Santo André. Projectos que, ao longo dos anos, sofreram vários ajustamentos e reduções, nomeadamente em relação aos índices de construção. Nalguns casos, os projectos em curso têm pouco ou nada a ver com as propostas iniciais.Pinheirinho e Costa TerraPara o ministro do Ambiente são dois projectos que marcam um novo paradigma de desenvolvimento turístico. Para o primeiro-ministro, que fez questão de marcar presença na sua apresentação, o "melhor que o País tem para oferecer". A verdade é que só estes dois empreendimentos Pinheirinho e Costa Terra, somam um terço das 30 mil camas no sítio protegido Comporta-Galé.O Costa Terra recebeu ontem mais uma visita de Estado. Os ministro da Economia e do Ambiente foram assistir ao lançamento da primeira pedra e à entrega do alvará de construção pela parte da Câmara Municipal de Grândola, que tem lutado pela implementação destes projectos no seu território. "Tenho muita honra e orgulho em participar neste evento. Estes projectos não afectam habitats prioritários, e os não prioritários são afectados de forma mínima. O Alentejo fica a ganhar e a costa alentejana também", afirmou o titular do Ambiente Nunes Correia, de manhã, aos jornalistas.Dos projectos previstos para o Litotal Alentejano, destaque para Tróia, que deverá ter o centro de conferências, o hotel casino e a marina prontos na Primavera de 2008. As obras da Herdade do Pinheirinho já começaram. Na Comporta, está tudo ultimado para apreciação pela Comissão Regional do Alen tejo. Na Vila Formosa (Vila Nova de Milfontes), os problemas terminaram com a adjudicação do projecto a um grupo português." Rita Carvalho com Márcio Alves Candoso no DN. Palavras para quê? Ontem, durante o jornal da noite da SIC também vi uma reportagem fantástica sobre a utilidade dos monumentos históricos ou do património nacional, no que diz respeito ao nosso quotidiano. E garanto que ver uma igreja (ainda bem conservada) a fazer de estacionamento ao Banco de Portugal, bem como local de cargas e descargas, é uma imagem linda... Eu só imagino o que pensarão os turistas que por aqui andam. Bom.. é bem provável que o mesmo aconteça lá fora, pelo menos é uma forma de impedir que os mesmos edifícios sejam destruídos. Contudo, não há desculpa para noutro caso também falado sobre uma capela no coração de Lisboa, o Instituto Português do Património não dar autorização para a remodelação e construção de um hotel. Da maneira como o edifício está, não tarda nada, acabará por ruir, e cá entre nós, vai ser na mesma construído um hotel, apenas não com a mesma fachada com que este projecto inicial, estava idealizado, mas sim, com outra completamente descaracterizada. É o país que temos.. por isso a palavra eurosaloio, que só há dias me relembrei, nunca calhou tão bem.