Enquadramento geológico da Serra de Sintra - Cláudia Paiva Silva

Friday, September 08, 2006

Enquadramento geológico da Serra de Sintra

Esta apresentação faz parte do trabalho de grupo da disciplina de Geologia de Campo II (3º ano de Licenciatura em Geologia).
"Enquadramento geográfico, geomorfológico e paleoambiental. Constituindo o “acidente geológico e geomorfológico mais importante da península de Lisboa” (C.Teixeira, 1962), a Serra de Sintra, de origem magmática, encontra-se sobressaída a uns 300 metros acima das plataformas sedimentares calcárias que a rodeiam. Considerado um relevo de dureza, que terá sofrido erosão diferencial, apresenta uma vasta superfície de aplanação, sob a forma de um alongado “inselberg” cujas dimensões compreendem 10 km de comprimento por 5 km de largura, cujo eixo maior se encontra orientado segundo E-W, com um comando que ronda os 500 metros de altura (Galopim, 1995), sendo ainda recortado a Ocidente pelo mar, originando uma costa bastante recortada por altas falésias, prolongando-se até uma certa distância da costa (Kullberg, 1984). Os cursos de água existentes cortam a paisagem segundo uma orientação NE-SW. Caracteriza-se também pela presença de um degrau correspondendo a uma paleopraia bem demarcada devido aos elementos sedimentares que possui (Matos Alves, 1971). Climatericamente, a região de Sintra e seus arredores foram palco de várias transformações, primeiramente durante a formação da Bacia Lusitânica, (Trásico superior- Jurássico), durante a qual as temperaturas eram mais elevadas e o clima mais húmido que actualmente, predominando um sistema morfoclimático sub – húmido e, por último, num crescendo de eventos, no início do Cenozóico, um período climático do tipo tropical de tendência sub – árida, caracterizado por sucessivos depósitos acumulados. A área em estudo é pois afectada não só pela intrusão do maciço, bem como por todos os restantes aspectos mencionados, situando-se a Sul do mesmo, entre a Praia do Abano (base da área) e a Ponta da Abelheira (topo norte da área) no sopé da Serra, numa extensão total de 1 km. Enquadramento geológico Tal como já foi referido, a Serra de Sintra é o resultado de uma intrusão magmática diapírica oriunda da parte superior do manto, estando relacionada com os maciços de Monchique e Sines, devido à abertura do Golfo da Biscaia. Assumindo por razões tectónicas e estruturais regionais, uma forma elíptica com eixo maior E-W, ascendeu até aos níveis mais elevados da crosta atravessando 30 km de espessura de rochas graníticas do soco, acabando por se intruir ou encaixar em rochas mais recentes, de natureza sedimentar, de uma sequência de camadas espessas com cerca de 3500 metros, na maior parte acumuladas no fundo do mar, entre o Jurássico superior e o Cretácico médio. Nesta ultima fase de intrusão, há cerca de 82 Ma, o núcleo magmático terá deformado e elevado as camadas encaixantes (final do Cretácico), (Galopim, 1995). Hoje interpretado como um sinclinal anelar quase completo, (Kullberg, 1984), exibe pois uma grande variedade petrográfica com diferentes tipos litológicos dispostos em anel. Em virtude do condicionalismo tectónico regional, o maciço evoluiu numa grande dobra anticlinal assimétrica tombada para Norte, com tendência cavalgante nesse sentido, testemunhado por falhas inversas ao longo dessa directriz, gerando portanto um doma dissimétrico. Alguns autores estão em desacordo quanto ao tipo de mecanismo magmático que permitiu a variedade petrográfica (Kullberg, 1894), mas, segundo Matos Alves (1964, 1981), os principais são os grantitos subalcalinos a calcoalcalinos, os sienitos e sienitos quartzíferos, os dioritos quártzicos, gabros, mafraítos, brechas eruptivas e uma vasta rede filoneana, constituída por microgranitos, riolitos, traquitos, microsienitos, microdioritos, doleritos e lamprófiros. A sequência mesozóica, ou seja, a cobertura sedimentar atravessada pela intrusão, contorna a serra na sua totalidade, com um grupo de estratos inclinados para a periferia dos sectores Sul e Leste, estando os do bordo Norte bastante inclinados, verticais ou mesmo invertidos, em consequência do cavalgamento já referido. Distribuída entre o Jurássico superior e o Cretácico médio, esta sequência está representada maioritariamente por rochas calcárias de fácies marinha com uma intercalação litoral, durante a qual se estabeleceu, primeiro, um regime recifal e mais tarde, após emersão, uma situação francamente continental, expressa pela deposição abundante de sedimentos detríticos, tais como conglomerados, areias e argilas. Uma vez que os continentes euro-asiático e americano ainda se encontravam unidos e o Atlântico ainda não se encontrava totalmente aberto, um braço de mar insinuava-se contudo, de Sul para Norte, constituindo a Bacia Lusitânica. As formações sedimentares que servem de encaixante foram depositadas na Bacia Lusitânica, alongada segundo a direcção NNE – SSW, e de reduzida extensão lateral, que se instalou durante o Mesozóico, bordejando a W o Maciço Hespérico, emerso. Definindo um graben cujos blocos são limitados por acidentes tardi-hercínicos, a sedimentação, principalmente a sedimentação marginal foi fortemente controlada por reactivações posteriores destes acidentes, traduzidas por bruscas variações laterais de fácies e de espessura de sedimento, registos de frequentes oscilações marinhas. Enquanto que a Norte da bacia sedimentar ocorria grande instabilidade tectónica, na região de Sintra as condições de deposição foram relativamente estáveis, criando ambientes laguno – marinhos, várias vezes isolados por barreiras recifais (Kullberg, 1984). Logo a seguir à deposição sedimentar e, devido ao processo tectónico global, toda a área foi reinvadida pelo mar, o qual, foi promovendo a formação de lagunas as quais conservaram na vasa, elementos bio-organicos. Após a intrusão diapírica ocorreu a consequente deformação das camadas com maior incidência nas que se situam nos seus bordos, devido à orla metassomática que a ascensão e contacto favoreceram. Por ultimo, já no Quaternário, o mar deve ter novamente invadido a região, formando os níveis de praias levantadas. A deformação das camadas sedimentares prolongou-se contudo, para além da altura de intrusão do maciço de Sintra, chegando aos dias de hoje."

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